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quarta-feira, 9 outubro, 2024

O artigo Sanções e Soberania,, de Sergey Glazyev

Cynthia Chung [*]

Na manhã de sexta-feira, 25 de fevereiro, Sergei Glazyev publicou a análise abaixo das sanções dos EUA contra a economia russa e das opções russas para a defesa e contra-ataque.

Glazyev é um responsável do Estado russo com categoria ministerial. Durante muitos anos foi conselheiro de política económica do Presidente Vladimir Putin; desde 2019 é ministro da integração e macroeconomia da Comissão Económica Eurasiática, o bloco de antigos Estados soviéticos que coordena em conjunto as políticas aduaneira, de banco central, comercial e de gestão fiscal.

Glazyev, agora com 61 anos, também tem sido a mais longa força sobrevivente da esquerda da política russa desde o fim da União Soviética em 1991 e da destruição, em 1993, do Congresso dos Deputados do Povo por Boris Ieltsin. Tem sido um crítico consistente das políticas monetárias do Banco Central russo; e do sistema oligárquico promovido por Anatoly Chubais, Alexei Kudrin, German Gref e seus aliados de negócios em Moscou, assim como pelos centros financeiros de Nova Iorque e Londres.  Durante 25 anos eles demonstraram serem mais fortes do que Glazyev dentro do círculo do presidente; convenceram Putin a rejeitá-lo publicamente, depois ignoraram-no e deixaram-no de lado. Até agora.

Com o discurso de Putin de 21 de fevereiro, o reconhecimento das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk e o início da campanha militar na Ucrânia, a gestão da economia russa avançou para uma lógica de guerra. Na interpretação de um importante banqueiro europeu, a escalada das sanções dos EUA e da União Europeia (UE) pretende confiscar cativos do Banco Central e destruir todas as ligações financeiras entre a Rússia e o Ocidente. Ele comenta que nada numa escala como está fora tentado contra uma grande potência mundial desde que o Presidente Franklin Roosevelt congelou os cativos estrangeiros do Japão em 26 de julho de 1941 e ter imposto seis dias depois um embargo às importações japonesas de petróleo e gasolina.

As novas sanções começaram a 22 de fevereiro em resposta ao reconhecimento russo da independência de Donbass e à assinatura de um tratado de cooperação militar e económica. O primeiro ataque de sanções visou dois bancos estatais; três filhos de responsáveis estatais russos; e obrigações estatais a serem emitidas a partir de quarta-feira desta semana.

As sanções do segundo ataque, em 24 de Fevereiro, escalaram a fim de “visar a infraestrutura central do sistema financeiro russo – incluindo todas as maiores instituições financeiras russas e a capacidade de entidades estatais e privadas para levantarem capital – e impedir ainda mais a Rússia de aceder ao sistema financeiro global. As ações também visam quase 80 por cento de todos os cativos bancários na Rússia e terão um efeito profundo e duradouro sobre a economia e sistema financeiro russos”.

Além disso, as metas foram ampliadas para incluir pela primeira vez a Alrosa, a empresa estatal produtora de diamantes e formadora do mercado internacional de diamantes; bem como a Sovcomflot, o maior operador mundial de navios-tanque. Ao mesmo tempo, o Tesouro dos EUA disse que não bloquearia pagamentos russos por “produtos agrícolas e médicos e a pandemia COVID-19; sobrevoo e aterragens de emergência; energia”.

O terceiro ataque começou de um dia para o outro entre 26 e 27 de fevereiro. A Casa Branca anunciou a desconexão do sistema de pagamentos interbancários SWIFT para “bancos russos selecionados” . A imprensa russa tem especulado que o Sberbank e o VTB serão desconectados, juntamente com os outros bancos visados no dia 24 de fevereiro. Não está claro se o Alfa Bank, o principal banco comercial propriedade de Mikhail Fridman, aparecerá na lista de desconexão do SWIFT.

A Casa Branca anunciou igualmente o lançamento de “uma task force transatlântica multilateral para identificar, caçar e congelar os bens das empresas e oligarcas russas sancionadas – os seus iates, as suas mansões e quaisquer outros ganhos ilícitos que possamos encontrar e congelar ao abrigo da lei”.

Responsáveis dos EUA e da União Europeia afirmam que “medidas restritivas que impedirão o Banco Central Russo (BCR) de mobilizar as suas reservas internacionais” equivalem a um congelamento das participações do Banco Central denominadas em dólares e em euros. Em 31 de Janeiro, o BCR informou possuir 469 mil milhões de dólares em divisas estrangeiras. Desse total, dados anuais do BCR sugerem que 22% é em dólares americanos; 29% em euros, e 6% em libras esterlinas.

Fontes bancárias de Londres e uma figura líder do comércio petrolífero acreditam que se as sanções do terceiro ataque pararem os pagamentos em dólares e euros pelo petróleo, gás, carvão, titânio, paládio, diamantes e outras exportações de mercadorias russas, bem como pelo serviço dos juros e empréstimos de capital, então o lado russo irá travar todos os pagamentos da dívida. Também suspenderão todas as entregas para os EUA e a Europa.

As implicações políticas internas russas não são menos dramáticas; elas são potencialmente revolucionárias, embora não na direção que figuras norte-americanas como Antony Blinken, Victoria Nuland e William Burns têm previsto em público. Glazyev é uma das figuras revolucionárias que agora eles menos querem ver ganhar poder sobre os oligarcas.

Para informação acerca das respostas de Glazyev à primeira ronda de sanções dos EUA, em Março de 2014, leia isto, Para uma descrição mais longa acerca de Glazyev desde 1993, clique aqui. [Introdução e tradução do discurso de Glazyev feito pelo blog Danças com ursos, de John Helmer]

Sanções e Soberania

Sergey Glazyev

A intimidação permanente da Rússia com novas “sanções do inferno” deixou há muito de excitar a opinião pública russa. Lembro-me como em 2014, tal como outros na primeira lista de sujeitos a sanções dos EUA, fui entrevistado e todos assegurámos aos jornalistas que nos orgulhávamos de tal reconhecimento dos nossos serviços à Rússia. Desde então, o número de indivíduos e entidades jurídicas sancionadas pelos Estados Unidos e seus satélites aumentou muitas vezes e não teve qualquer impacto perceptível sobre o nosso país. Ao contrário, as medidas de retaliação introduzidas pelo nosso Governo em termos de restrição das importações alimentares provenientes destes países contribuíram significativamente para o crescimento da produção agrícola interna, a qual substituiu quase completamente a importação de aves de capoeira e carne.

As empresas da defesa e da indústria energética aprenderam a contornar estas sanções, recusando-se a utilizar o dólar e ao mesmo tempo os bancos americanos, em favor das moedas nacionais e dos bancos dos países parceiros. O passo seguinte é o desenvolvimento de instrumentos de moeda digital que podem ser utilizados sem recorrer aos serviços dos bancos que receiam cair sob sanções. O povo russo segue com interesse o regresso ao país da capital exportado pelos oligarcas e deles próprios, que receiam o confisco e a detenção nos países da OTAN.

As sanções americanas não têm afetado tanto a Rússia, mas sim países terceiros que têm sido sujeitos a pressões de Washington. Em primeiro lugar, os nossos vizinhos europeus, que reduziram a maioria dos projetos de cooperação nos domínios científico, técnico e energético. Também afetaram bancos comerciais chineses que operam na zona do dólar, que preferiram deixar de servir os clientes russos. O volume de negócios comercial da Rússia com a UE e os Estados Unidos diminuiu naturalmente, ao passo que com a China cresceu. No período de 2014-2020, em termos monetários, o volume de negócios comercial da Rússia com a China aumentou em 17,8%, de 88,4 mil milhões de dólares para 104,1 mil milhões de dólares. A quota dos países da APEC [Asia Pacific Economic Conference] e da SCO [Organização de Cooperação de Xangai] no volume de negócios do comércio externo da EAEU [União Económica Eurasiática] aumentou durante este período de 29,6% para 36,4% e de 16,3% para 24,1%, respectivamente. A quota da UE no volume de negócios do comércio externo da EAEU, pelo contrário, diminuiu de 46,2% em 2015 para 36,7% em 2020. O volume de negócios do comércio com os Estados Unidos durante o período em análise diminuiu 18,1%, de 29,1 mil milhões de dólares para 23,9 mil milhões de dólares.

De facto, com a ajuda de sanções, os Estados Unidos estão a tentar expulsar os produtos russos dos mercados dos seus satélites, substituindo os seus próprios. Isto manifestou-se mais claramente no mercado europeu do gás natural, onde a quota dos EUA aumentou acentuadamente, embora ainda não tenha sido possível deslocar a Rússia no mercado europeu do gás natural.

O principal resultado das sanções EUA-Europa foi uma mudança na estrutura geográfica das relações económicas externas russas em favor da China, a expansão da cooperação com a qual se compensa plenamente a restrição das relações comerciais e económicas com a UE. Os consumidores europeus têm de mudar para vectores de energia americanos mais caros e os seus produtores simplesmente perdem o mercado russo. As perdas totais da UE devido às sanções anti-russas estão estimadas em 250 mil milhões de dólares.

Outro resultado importante das sanções dos EUA foi a queda da participação do dólar nos acordos internacionais. Para a Rússia, como para outros países que têm sido sujeitos a sanções dos EUA, o dólar tornou-se uma divisa tóxica. Ao rastrear todas as transações em dólares, as autoridades punitivas dos EUA podem bloquear pagamentos, congelar, ou mesmo confiscar cativos a qualquer momento. Durante oito anos após a imposição das sanções, a participação do dólar nas compensações internacionais diminuiu 13,5 pontos percentuais (de 60,2% em 2014 para 46,7% em 2020).

As sanções tornaram-se um poderoso incentivo para a transição rumo a liquidações em divisas nacionais e para o desenvolvimento de sistemas de pagamento nacionais. Assim, no comércio mútuo dos Estados da EAEU, a participação do dólar diminuiu mais de 6 pontos percentuais (de 26,3% em 2014 para 20,0% no final de 2020).

Lembro-me como há dez anos, ao considerar os riscos para o sistema bancário russo no Conselho Bancário Nacional, perguntei ao então chefe do Banco Central: “Está a ser considerado o risco de desligar os bancos russos do sistema internacional de transmissão bancária SWIFT, como fizeram os parceiros ocidentais em relação ao Irão? Ao que recebi a resposta: ‘Não podemos considerar o risco de uma bomba atómica atingir o Banco da Rússia’. No entanto, a direção do Banco Central tem tomado medidas – hoje a Rússia tem o seu próprio sistema de transmissão de mensagens electrónicas entre bancos – o Sistema de Transmissão de Mensagens Financeiras (SPFS) do Banco da Rússia, bem como o seu próprio sistema de pagamento para cartões bancários Mir, o qual tem interface com o sistema chinês UnionPay e pode ser utilizado para pagamentos e transferências transfronteiriças. Ambos estão abertos a parceiros estrangeiros e são já amplamente utilizados não só em pagamentos interno como também em pagamentos internacionais. O desligamento do SWIFT já não é visto como uma ameaça em grande escala – irá beneficiar o desenvolvimento dos nossos sistemas de pagamentos e de informação financeira.

No entanto, seria infantil assumir que “quando somos espancados, ficamos mais fortes”. Embora tenhamos efetivamente reforçado a nossa soberania nacional na esfera económica sob a influência de sanções americanas, mas não a tal ponto que não lhes prestemos qualquer atenção. Os danos das sanções, evidentemente, existem e são significativamente agravados pela política passiva das autoridades monetárias.

Desde 2014, quando, com a conivência do regulador, os especuladores monetários deitaram abaixo a taxa de câmbio do rublo através da manipulação do mercado, esta última tem sido utilizada pelas sanções como um fusível de segurança da estabilidade macroeconómica. Ao mesmo tempo, foi em 2014, nas vésperas das já anunciadas sanções dos EUA, que o Banco da Rússia mudou para um regime de taxas de câmbio flutuantes. E só depois disso, os Estados Unidos introduziram as suas sanções, tendo a certeza de que os especuladores multiplicariam o seu efeito negativo. Quando o rublo caiu quase a metade, Obama teve o prazer de dizer que “a economia russa está em farrapos”. Como resultado desta manipulação do mercado de divisas russo, os rendimentos e poupanças do rublo depreciaram e os especuladores receberam mais de 35 mil milhões de rublos em lucro. Mas isto aconteceu não devido a sanções, mas sim devido à cumplicidade do Banco da Rússia, o qual deixou a formação da taxa de câmbio à mercê dos especuladores internacionais, por recomendação das organizações financeiras de Washington.

Só pessoas muito ingénuas podem acreditar na formação de uma taxa de câmbio de rublo de equilíbrio no modo de flutuação livre. A auto-exclusão do Banco da Rússia da regulação da taxa de câmbio do rublo significa que os especuladores internacionais de divisas estão empenhados nisto. Sobre a oscilação da taxa de câmbio do rublo, que se tornou uma das moedas mais instáveis do mundo com uma provisão tripla de reservas cambiais, os especuladores internacionais recebem lucros multimilionários e os russos, a depreciação das suas poupanças e rendimentos em rublo juntamente com explosões de inflação. Ao mesmo tempo, o clima de investimento está a deteriorar-se irremediavelmente – a instabilidade da taxa de câmbio do rublo cria incerteza acerca dos principais parâmetros dos projetos de investimento que utilizam equipamento importado e produtos orientados para a exportação.

Portanto, os danos causados pelas sanções financeiras dos EUA estão indissociavelmente ligados à política monetária do Banco da Rússia, a qual é a ideal para eles. A sua essência resume-se a uma estreita ligação da emissão do rublo às receitas de exportação, e a taxa de câmbio do rublo ao dólar. De facto, está a ser criada uma escassez artificial de moeda na economia e a política estrita do Banco Central leva a um aumento do custo da tomada de empréstimos, o que mata a atividade empresarial e prejudica o desenvolvimento das infraestruturas no país.

As restrições de sanções têm causado uma procura extremamente elevada de financiamento empresarial no mercado interno. Contra o pano de fundo de uma taxa básica relativamente baixa e acesso a financiamento mais barato, os grandes bancos mantêm consistentemente uma margem de juro líquida acima do nível médio do mercado, 5,4% a 6%; ao passo que para os maiores bancos na China, EUA, Alemanha, França, Grã-Bretanha e Japão, a margem de juro líquida varia de 0,8% a 2,3%.

Contudo, estes ganhos inesperados não são dirigidos ao financiamento de projetos de infraestruturas, mas à aquisição de negócios não centrais díspares que são combinados em ecossistemas. A maior parte destes negócios permanece não rentável, mesmo ao nível do EBITDA [ganhos]. Apesar disto, ainda se gastam milhares de milhões de rublos no seu desenvolvimento. Estes números são bastante comparáveis ao volume de investimentos num grande projeto de infraestruturas no sector real da economia, o qual pode trazer tanto crescimento do emprego como contribuição para o desenvolvimento da economia. Mas tais projetos (bem como o preenchimento do orçamento) são ainda deixados às empresas de matérias-primas, enquanto as maiores corporações financeiras preferem dirigir os seus rendimentos para a criação de quimeras.

De facto, foi a conivência do Banco Central que levou ao facto de a Rússia e a sua indústria ficarem drenadas de sangue e incapazes de se desenvolverem.

Se o Banco Central cumprisse o seu dever constitucional de assegurar a estabilidade do rublo – e tem todas as possibilidades para tal devido ao triplo excedente das reservas monetárias da base monetária – então as sanções financeiras não seriam nada para nós. Poderiam mesmo ser convertidas, como noutros sectores da economia, em benefício do sector bancário, se o Banco Central substituísse os empréstimos retirados pelos parceiros ocidentais pelos seus próprios instrumentos especiais de refinanciamento. Isto aumentaria a capacidade do sistema bancário e de crédito russo em mais de 10 milhões de milhões (trillion) de rublos. Além disso, compensaria totalmente a saída de financiamento estrangeiro de investimentos, evitando um declínio no investimento e na atividade económica sem quaisquer consequências inflacionárias. Assim, seria possível evitar um longo período de declínio dos rendimentos reais da população causado unicamente pelas peculiaridades da política monetária seguida na Rússia, a qual garantiu a eficácia das sanções na esfera monetária e financeira.

Ao avaliar as consequências das sanções anti-russas, é impossível ignorar as consequências da ruptura dos laços económicos com a Ucrânia. A abolição mútua do regime de comércio livre e a imposição de um embargo a uma vasta gama de bens levou à ruptura dos laços de cooperação que asseguravam a reprodução de muitos tipos de produtos de alta tecnologia. Bloquear o trabalho de bancos russos levou à desvalorização de investimentos russos multimilionários. A recusa das autoridades ucranianas em pagar o serviço da dívida à Rússia causou mais vários milhares de milhões de dólares de perdas. No total, o seu volume é estimado em cerca de 100 mil milhões de dólares para cada uma das partes. Isto é realmente significativo e, em muitos aspectos, danos reais irreparáveis, que nós próprios agravámos com sanções retaliatórias.

Até à data, o resultado das consequências económicas das sanções anti-russas é o seguinte. A Ucrânia sofreu as maiores perdas relativamente ao PIB, em termos absolutos – a União Europeia. As perdas russas de PIB potencial, desde 2014, montam a cerca de 50 milhões de milhões de rublos. Mas apenas 10% delas podem ser explicadas por sanções, enquanto 80% delas foram o resultado da política monetária. Os Estados Unidos beneficiam de sanções anti-russas, substituindo a exportação de hidrocarbonetos russos para a UE, bem como a China; substituindo a importação de bens europeus pela Rússia. Poderíamos compensar completamente as consequências negativas das sanções financeiras se o Banco da Rússia cumprisse o seu dever constitucional de assegurar uma taxa de câmbio estável do rublo e não as recomendações das organizações financeiras de Washington.

Considere as ameaças dos russofóbicos americanos e europeus contra as novas “sanções do inferno”. Já foi mencionado acima que a ameaça de desconectar os bancos russos do sistema SWIFT, hoje amplamente discutida nos media, embora interfira inicialmente nos acordos internacionais, beneficiará o sistema bancário e de pagamentos russo a médio prazo.

A ameaça de proibição de transações com obrigações russas também nos beneficiará, uma vez que a sua emissão num excedente orçamental não é mais do que uma fonte de lucro para especuladores estrangeiros. E a sua lucratividade é sobrestimada três vezes em relação à avaliação de mercado do seu grau de risco. O término da política de auto-serviço [самоедской] das autoridades monetárias, as quais estão a tomar emprestado a preços exorbitantes dinheiro que é objetivamente desnecessário para o orçamento, permitir-nos-á poupar milhares de milhões de dólares. Se os sancionadores tentarem proibir a compra dos títulos em moeda estrangeira das corporações russas, então será possível compensar o financiamento em falta para a compra de equipamento importado, comprando-os à custa de parte das reservas cambiais em excesso. Se os empréstimos estrangeiros lhes forem cortados, então o risco do seu incumprimento recairá sobre os próprios bancos europeus e americanos.

Existe também um risco potencial de apreensão de bens estatais russos. Mas podemos responder a isto simetricamente impondo um embargo às obrigações de serviço da dívida aos credores ocidentais e também arrestando os seus bens. As perdas das partes serão aproximadamente iguais.

Resta, de facto, uma ameaça – a retirada de cativos estrangeiros aos oligarcas russos. Por toda a sua popularidade entre o povo comum, isto estimulará o retorno do capital exportado do país, o qual também terá um efeito positivo para a economia russa.

Ao mesmo tempo, precisamos de nos proteger o mais possível da escalada esperada das sanções estado-unidenses-europeias. O ponto mais vulnerável para a nossa economia é a sua excessiva estrangeirização e deslocalização (offshoring). Até metade dos cativos da indústria russa pertencem a não-residentes. Há mais de um milhão de milhões de dólares de capital exportado do país para o estrangeiro, metade do qual está envolvido na reprodução da economia russa. O congelamento simultâneo destes cativos pode realmente piorar dramaticamente a situação de várias empresas estrategicamente importantes dependentes do mercado externo. Os americanos mostraram como isto é feito utilizando o exemplo da Rusal, estabelecendo o seu controlo sobre ela sob a ameaça de cessar as atividades de comércio externo. Poderíamos responder a isto nacionalizando pelo menos as gigantescas centrais hidroelétricas transferidas para esta empresa por preços simbólicos e por motivos duvidosos, em cujo funcionamento se baseia a parte de leão dos seus lucros. Mas, por alguma razão, não protegeram esta empresa, um dos ramos estruturais da nossa economia, da apreensão pirata (raider) pelo Tesouro dos EUA.

Ver também:

[*] Jornalista.

O original encontra-se em cynthiachung.substack.com/p/sanctions-and-sovereignty?s=r

Este artigo encontra-se em resistir.info

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