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sexta-feira, 26 abril, 2024

Toda a verdade sobre a hiperinflação na Venezuela

© Sputnik / Esther Yáñez Illescas
ECONOMIA

Desde 2017 que a Venezuela está enfrentando uma hiperinflação. Segundo os dados oficiais, em 2018, a inflação no país foi de 130.060%. Saiba como os cidadãos venezuelanos vivem em um país abalado por enormes dificuldades econômicas, bem como as razões da distorção dos preços no país.

“Aqui as pessoas são magras não por não comerem, mas por caminharem buscando o melhor preço”, disse à Sputnik Mundo uma venezuelana que quis permanecer anônima porque seu filho trabalha na Administração Pública e ela acredita que poderia ter seu telefone grampeado.

“A inflação anda de elevador enquanto nos subimos pelas escadas”, disse Belkys, uma outra cidadã venezuelana.

Prateleiras com produtos em um supermercado venezuelano
© SPUTNIK / ESTHER YÁÑEZ ILLESCAS
Prateleiras com produtos em um supermercado venezuelano

“Costumo ir às compras na segunda-feira quando meus filhos me dão dinheiro. Caminho e caminho buscando os melhores preços em diferentes lojas e mercados porque, dependendo de onde procure, os preços variam. Compro queijo, presunto, ovos, legumes, algumas frutas […] Principalmente, o que não vem na caixa”, revelou Belkys.

A caixa de que ela fala é um conjunto de produtos alimentícios distribuídos por toda a Venezuela pelos CLAP (Comissões Locais de Abastecimento e Produção) que entregam produtos básicos e essenciais a quase seis milhões de famílias.

Nos últimos tempos, a permuta também se transformou em uma das medidas mais populares para colmatar a hiperinflação que o país sofre, ou seja, uma subida constante e praticamente diária do preço de tudo, incluindo alimentos e medicamentos.

Pela primeira vez em cinco anos, o Banco Central venezuelano publicou dados oficiais sobre a inflação, balança de pagamentos e atividade econômica do país. Os dados apenas mostram o que todos os venezuelanos sabem, ou melhor dizendo, sentem na sua vida cotidiana: os dados revelam que a inflação no país atinge uma cifra de 130.060% em 2018, sendo a mais alta na história moderna do país.

Segundo o registro histórico do Banco Central, a Venezuela passou o limiar da hiperinflação – mais de 50% mensalmente – em dezembro de 2017 e, desde então, ela não deixa de crescer.

Poucos meses antes, concretamente em agosto de 2017, foi adotado o famoso primeiro pacote de sanções estadunidenses contra o país. A partir da sua introdução, a Venezuela perdeu acesso ao mercado internacional de capitais, tornando impossível para o país financiar e refinanciar sua dívida externa, explicou o economista venezuelano Tony Boza.

“Não podendo emitir títulos de dívida, a Venezuela não pode aceder ao crédito e, se o consegue, paga mais juros que qualquer outro país no mundo, porque seu prêmio de risco – estabelecido pelo monopólio das agências de classificação – supera 5.000 pontos básicos”, explicou Boza.

De acordo com o economista, “por cada 100 pontos de qualificação que te dão estas agências, pagas um ponto de taxa de juro nos créditos. A Venezuela tem 5.000 pontos. Isso significa que um crédito que qualquer outro país poderia receber a uma taxa de juro de 3%, a Venezuela deve pagar a taxa de 53%”.

As últimas sanções se tornaram um golpe ainda mais duro para a Venezuela. Em 28 de fevereiro, os EUA anunciaram o embargo da empresa Citgo, filial americana da companhia estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA). A medida bloqueia o acesso do governo de Nicolás Maduro a 18 bilhões de dólares (provenientes da venda de petróleo) destinados à importação de produtos e serviços da primeira necessidade.

  • Prateleiras com produtos em um supermercado venezuelano
  • Um supermercado na Venezuela, país que obtém 98% de suas divisas da exportação do petróleo e delas depende para importar quase tudo o que consome
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Prateleiras com produtos em um supermercado venezuelano

A queda da importação provocou o aumento dos preços, ou seja a inflação, devido à falta de oferta no mercado. A Venezuela obtinha 98% de suas divisas com as exportações de petróleo. Segundo o estudo publicado pelo Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG), a oferta interna depende da quantidade disponível de divisas para importar. Entre 2011 e 2017, as importações se reduziram cinco vezes. Ou seja, passaram de 60 bilhões de dólares para 12 bilhões (de R$ 230 bilhões para R$ 46 bilhões).

Entretanto, segundo Boza, existe mais um fator importante para explicar a inflação venezuelana.

“Foi um erro o Banco Central deixar de publicar há anos dados econômicos, porque também deixou de publicar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que é o indicador chave que sustenta a regulação de preços no mercado”, disse o economista.

Para ele, deixando de publicar o índice de preços mais importantes imposto pelo Estado como regulador, todo o sistema foi afetado.

“Desta maneira, o empresariado começou a especular porque não tinha nenhuma referência quando queria apresentar sua lista de preços para adquirir qualquer bem”, afirmou ele, explicando que os empresários começaram a adquirir divisas à taxa de câmbio oficial-preferencial e as revender no mercado paralelo de divisas a uma taxa extremamente alta, estabelecida pelos portais na rede.

Segundo o CELAG, o bloqueio financeiro internacional contra a Venezuela causou perdas na produção de bens e serviços de 350 bilhões de dólares (R$ 1,35 trilhões) de 2013 a 2017.

Luis Salas, economista e editor do portal 15yÚltimo, as sanções contra a Venezuela por parte dos EUA são “um cerco medieval e criminal promovido por atores de mentalidade medieval e criminal. E, como todo o cerco deste tipo, é terrorismo contra a população civil”.

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