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segunda-feira, 1 julho, 2024

Racha na esquerda fortalece golpe na Bolívia

 Foto France Press

César Fonseca

A divisão, que parece irreconciliável, dentro do MAS, partido de esquerda boliviano que domina o poder, enfraquece as forças governistas e fortalece as forças contrárias da oposição que tem tentáculos internacionais.

O alvo da oposição, apoiada pela CIA, são as riquezas minerais bolivianas cobiçadas pelas potências internacionais em choque.

De um lado, alinham-se Estados Unidos e Europa; de outro, Rússia e China, dentro do cenário latino-americano geopolítico, todos interessados nas riquezas, especialmente, no momento, o lítio da Bolívia, as terras raras e o petróleo.

Por trás, interesses poderosos, indústrias internacionais no cenário da oligopolização imperialista para dominar a América Latina.

Os Estados Unidos e Europa temem que os BRICS, nos quais Rússia e China são vozes dominantes, avancem forte e incontrolavelmente sobre os países da América do Sul e Central, como já está acontecendo.

General Laura apavorada

Esse tem sido o foco da preocupação da General Laura Richardson, comandante do Comando Sul dos Estados Unidos, que cuida de preservar a América Latina como área de influência dos Estados Unidos, conforme Doutrina Monroe, de 1823.

Laura tem sido incansável em alertar a cúpula de Washington que Rússia e China avançam celeremente sobre os interesses dos Estados Unidos no continente sulameircano.

Esse avanço é possível pelos aliados dos russos e dos chineses na América do Sul, no Brasil, na Venezuela, na Bolívia, no México, na Nicarágua, Cuba, cujos interesses são comuns por serem detentores de minérios estratégicos, biomassa e petróleo.

Os militares, infiltrados pela CIA, na Bolívia, detentora de lítio, matéria prima para fabricação das baterias dos carros elétricos, estão excitados com a cobiça internacional, e, por isso, propensos aos golpes contra a democracia.

A chancelaria boliviana, antes do golpe militar frustrado de 26 de junho, havia convocado embaixadora americana a dar explicações sobre a infiltração da CIA nas forças armadas, para dar uma quartelada no governo de esquerda boliviano.

Fator Evo Morales

Evo Morales, maior força de esquerda dentro do MAS, apoiado pela COB – Confederação Obreira Boliviana – virou oposição dentro do partido ao presidente da República.

Está no alvo do general golpista Juan José Zúñiga, que prometeu prendê-lo, se tentar disputar seu quarto mandato presidencial em 2025.

Morales virou dissidente de Arce dentro do MAS, que levanta ira dentro das forças armadas que, com o general golpista Zúñiga, prometeu prendê-lo, se insistir em ser candidato em 2025.

Morales faz acusações a Arce que resultaram em racha dentro partido, ou seja, as esquerdas, que estavam agrupadas dentro do MAS no comando do poder político, esfarinham-se, favorecendo a direita aliada de Washington.

Com o racha, saem fortalecidos os golpistas que derrubaram Morales em 2019, pois o general golpista defendeu a liberação deles como uma plataforma de direita contra o governo.

Não fosse a COB, Confederação Obreira Boliviana, Morales continuaria no exílio e a presidenta golpista Jeanine Añezm que o derrubou, não teria caído e, em seguida, presa, condenada a 10 anos de prisão.

Agora, a COB, ao evitar o golpe de Zúñiga, volta a ser ponto de equilíbrio do poder, no contexto da correlação de forças políticas, que fortalece a onda pró-golpe contra a direita, que quer prender Morales, como externou o general golpista.

A dúvida que está no ar, deixando expandir conspirações, é a de que o general golpista teria se encontrado com o presidente Arce, no domingo passado, quando este lhe teria sugerido indiretamente a articulação de um auto golpe que teria por fim esvaziar dentro do MAS a candidatura de Morales para 2025.

O racha partidário entre Morales e Arce, dentro do MAC, que fortalece a direita golpista, é, portanto, produto do golpe militar fracassado, porque o presidente Arce teria, segundo o general golpista, dado passo atrás na mobilização que tentou produzir o alto golpe do qual teria participado o próprio general golpista.

Confusão total.

Se isso é verdade ou não, os fatos que virão à tona dirão.

O concreto é que o MAS está rachado entre Morales e Arce, ambos candidatos dentro do partido à disputa eleitoral em 2025 contra a direita neoliberal.

O poder de Washington

A direita no poder é marionete de Washington: receita conhecida – neoliberal, brutal arrocho fiscal, arrocho salarial, fim dos direitos sociais e destruição dos mais fracos na escala social que irá se expandir do compasso do neoliberalismo.

O presidente Arce, economista estruturalista, favorável ao desenvolvimentismo com melhor distribuição da renda, conquista PIB anual de 3%, no ano passado, e inflação de 4%, no contexto de macroeconomia equilibrista, que implica o que os obreiros estão reclamando dele: aliança com burguesia para governar em prejuízo dos que votaram nele a pedido de Evo Morales.

Os militares de direita, infiltrados pela CIA, não querem a volta de Morales, que exerceria quarto mandato, se fosse eleito.

Tentam levantar-se contra o ex-presidente a Constituição, conforme a empunhou o general golpista na televisão, que proíbe mais de dois mandatos, mesmo que sejam intercalados.

A poderosa COB, confederação dos obreiros, que tem participação na exploração do cobre boliviano, apoia Morales e contesta nas ruas essa regra constitucional, ao levantar a candidatura do ex-presidente indígena, totalmente, rejeitada pela embaixada americana e partidos de direita aliados de Washington.

O império, se não quer Morales, aceitaria negociar com Arce, que disputa o poder com Morales dentro do MAS, o que racharia irremediavelmente, a esquerda, levando a ala evomoralista à ruptura?

Racha no poder

Essa possibilidade de cooptação de Arce ficou no ar durante o golpe militar frustrado, quando o general golpista disse que havia combinado com o presidente mobilização das tropas numa espécie de autogolpe para melhorar a popularidade abalada dele, do presidente Arce.

Verdade ou mentira?

Arce teria tecido golpe contra si, combinado com o general golpista que se revelou propenso a prender Morales antes mesmo de tentar o golpe do qual Arce poderia ser apeado?

Confusão latino-americana à moda cucaracha, digna de roteiro de romance de Gabriel Garcia Marques, ou não?

Confusão no ar, refletida pelos principais jornais e sites latino-americanos nesse momento.

Persiste a dúvida: golpe ou autogolpe?

O fato é que nesse contexto a esquerda, expressa no MAS, está dividida e favorece rupturas internas que somente beneficiam os abutres internacionais aliados da direita interna boliviana neoliberal e antidesenvolvimentista apoiada pela CIA.

Com a esquerda rachada há o perigo de Morales ser preso, como pré anunciou o general golpista ao prometer que prenderia Evo, se ele for candidato a um quarto mandato, considerado inconstitucional pela ultra direita militar pró-Washington.

Felizmente, para a democracia, o golpe deu com os burros n’água, diante da nova mobilização da COB, dos trabalhadores, que foram às ruas protestarem, ao lado da pressão internacional das forças democráticas anti-golpe

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