Por Isabel Soto Mayedo
Guatemala, 30 jan (Prensa Latina) A cumplicidade de Israel com os governos militares durante o conflito armado interno na Guatemala, e em particular com o de Efraín Rios Montt (1982-1983), volta a ser notícia hoje no mundo.
Um artigo publicado pelo portal digital TheELECTRONIC Intifada vasculhou novamente o ninho de vespas em torno do velho segredo, berrado há muito e a toda voz pelos próprios artífices dos crimes que resultaram na morte e desaparecimento de 250 mil pessoas neste país centro-americano de 1960 a 1996.
‘Desde os anos 80 até nossos dias, o extenso papel militar de Israel na Guatemala continua sendo um segredo aberto que está bem documentado, porém recebe escassas críticas’, assegura o portal digital.
E ainda que se reconheça que essa colaboração militar date de 1960, precisa que na época de Rios Montt, Israel já era o principal provedor de armas, treinamento militar, tecnologia de vigilância e outra assistência vital na guerra do Estado contra a esquerda urbana e os indígenas maias rurais.
Tel Aviv proporcionou armas e treinamento militar ao Exército da Guatemala sobretudo a partir do momento que o ex-presidente Jame Carter (1977-1981) reduziu o apoio dos Estados Unidos a esses governos pelas acusações constantes de violação aos direitos humanos, enfatiza.
Menciona que em 1981 foi inaugurada uma escola, desenvolvida e financiada por Israel, para capacitar militares guatemaltecos no uso das tecnologias de contrainsurgência, e que em seu primeiro ano a polícia secreta ou G-2 localizou e invadiu umas 30 casas da Organização Revolucionária do Povo em Armas (ORPA).
O G-2 coordenou o assassinato, o desaparecimento e a tortura dos opositores ao governo guatemalteco, que frequentemente mudavam através de golpes e eleições durante os anos 80, no entanto Israel continuava sendo a fonte principal de armas e conselhos militares da Guatemala, assinala.
Recorda que depois do golpe militar que o levou ao poder em 1982, Rios Montt comentou a um repórter da ABC News que tinha sido fácil se instalar ‘porque muitos de nossos soldados foram treinados por israelenses’.
Enquanto a imprensa israelita informava que 300 assessores desse país estavam em solo guatemalteco treinando os soldados do ex-general e citava o conselheiro no território, tenente coronel Amatzia Shuali.
Quase de forma paralela, o ex-ministro de Economia de Israel, Yaakov Meridor, declarou que ocupariam o vazio deixado pelos Estados Unidos naqueles países onde não queriam vender abertamente armas.
‘Vamos dizer aos estadunidenses: não compitam conosco em Taiwan; não compitam conosco na África do Sul; não compitam conosco no Caribe ou em outros lugares onde não podem vender armas diretamente. Vamos fazer… Israel será seu intermediário’, expressou.
The Electronic Intifada se refere ao comentarista Dan Rather, que em seu programa da CBSEVENING News expôs em 1983 que o armamento avançado e os métodos vendidos por Israel à Guatemala tinham sido provados contra os palestinos na Cisjordânia e Gaza.
Afirma por sua vez que, segundo o jornalista George Black, a admiração da direita e dos círculos militares guatemaltecos para com os israelenses era tal que chegaram a falar nesses anos da suposta ‘palestinização dos rebeldes índios maias da nação’.
A localidade recorda que em janeiro de 2016 foram presos 18 militares guatemaltecos da reserva por sua suposta participação em crimes de lesa humanidade durante a guerra e que um mês depois, dois ex-soldados foram condenados em um caso sem precedentes de escravidão sexual nesse âmbito.
Por outro lado, refere-se à condenação de genocídio contra Rios Montt em 2013, que apesar de ter sido anulada pouco depois pela Corte Constitucional, estabeleceu um precedente global de condenação à violência intensa desencadeada pelo Estado contra os povos indígenas maias na Guatemala.
Ao mesmo tempo que destaca o processo à parte aberto contra o ex-general em novembro pelo massacre na aldeia Las Dos Erres (1982), em Petén (Norte), onde os soldados treinados por Israel queimaram até o solo após golpear com martelos as cabeças de seus moradores e fuzilá-los.
Investigadores da Comissão da Verdade de 1999 da ONU ratificaram que ‘toda a evidência balística recuperada correspondia a fragmentos de balas de armas de fogo e projéteis de fuzis Galil fabricados em Israel’.