Um juiz boliviano concedeu liberdade condicional ao ex-cidadão de Potosí Marco Antonio Pumari e prisão domiciliar ao governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, de acordo com uma decisão emitida na terça-feira no julgamento.
Este caso investiga a conspiração que forçou a renúncia do ex-presidente constitucional Evo Morales em novembro de 2019, impôs um governo de fato liderado por Jeanine Áñez (2019-2020) e levou aos massacres em El Pedregal, Sacaba e Senkata, deixando 37 mortos, centenas de feridos e milhares de pessoas presas e torturadas ilegalmente.
No entanto, a decisão desta terça-feira foi tomada pelo Sexto Juizado de Condenações Anticorrupção de La Paz, durante a audiência de revisão da prisão preventiva decretada pelo presidente do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), Romer Saucedo.
O advogado do governador de Santa Cruz, Martín Camacho, declarou que “a independência e a imparcialidade dos tribunais foram restauradas. O governador Luis Fernando Camacho está livre do caso Golpe I. Foram-lhe concedidas medidas alternativas, medidas cautelares diferentes da prisão preventiva, que devem ser cumpridas para que seja emitida a ordem de libertação correspondente”.
Camacho foi transferido do tribunal para a prisão de Chonchocoro, onde aguardará o cumprimento das formalidades de prisão preventiva e liberação do trabalho.
Ele também deverá comparecer a uma audiência nesta quarta-feira sobre a greve de 36 dias entre outubro e novembro de 2022, onde os períodos de prisão preventiva também serão revistos.
Por sua vez, o advogado do ex-líder cívico de Potosí, Diego Gutiérrez, informou que um juiz ordenou a libertação imediata de seu cliente no caso Golpe de Estado I.
Investigado no mesmo caso, Pumari terá apenas que cumprir intimação e comparecimento periódico perante o Ministério Público do departamento de Potosí.
“A previsão é de que ele seja transferido para a cidade de Potosí nas próximas horas e, no momento, está em liberdade. Aguardamos a ordem de soltura, que, segundo informações que recebemos, será emitida amanhã”, disse Gutiérrez a repórteres em frente ao prédio do Tribunal Departamental de Justiça (TDJ), em La Paz.
Com esta decisão, o líder dos grupos de choque que utilizavam métodos violentos contra instituições públicas e que estava detido desde 27 de novembro de 2023 no presídio de Cantumarca deixará aquela unidade após quase três anos de prisão preventiva.
As vítimas de Senkata também criticaram a decisão do Quarto Tribunal de Sentenças de El Alto, que anulou os procedimentos no caso contra a ex-governante de fato Jeanine Áñez (2019-2020).
Essa resolução determina que o caso seja encaminhado ao Ministério Público Estadual para possível tramitação do caso como processo de responsabilidade, e gerou profunda condenação entre os familiares das vítimas, que anunciaram uma nova denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
“O Supremo Tribunal Federal atacou as vítimas, deixando impunes as mortes, o massacre já confirmado pela CIDH. O juiz assinou esta decisão com sangue, com o sangue dos nossos filhos. Ele, sua assinatura e sua consciência estão manchados para sempre”, disse Gloria Quisbert, representante das vítimas.
Quarenta e oito horas após assumir ilegalmente a presidência em 12 de novembro de 2019, Áñez assinou o Decreto Supremo 4078 (conhecido como Decreto de Morte), que isentava militares e policiais de responsabilidade criminal pela violência usada na repressão contra aqueles que protestavam contra a interrupção do mandato do ex-presidente Evo Morales.
Como resultado, os massacres de Senkata, na cidade de El Alto; El Pedregal, em La Paz; e Sacaba, no departamento de Cochabamba, resultaram em quase 40 mortos e centenas de feridos por armas de fogo, além de milhares de presos e torturados.