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quinta-feira, 28 março, 2024

Quem é o quê

Ranulfo Vidigal*

Desde os tempos imemoriais há uma hierarquia no jogo do poder econômico, político, cultural e militar em escala planetária. O topo é dominando por países que detêm tecnologia de ponta, capital produtivo (bens de capital), capital bancário, grandes centros de ensino e pesquisa e o domínio das matérias primas estratégicas (petróleo, água, alimentos, minerais, terras raras), ao redor do mundo – ainda que a base de guerras híbridas ou convencionais.

Na outra ponta, a grande periferia importa capitais, paga royalty pelo uso das tecnologias, exporta matérias primas e produtos de baixa/média complexidade e dispõe de um excedente de força de trabalho remunerado abaixo do seu custo de reprodução.

Manda quem pode,

e obedece quem tem prejuízo

Em cada base territorial de um país, a elite econômica e do dinheiro detêm os meios sociais de produção e o controle político do Estado. A alta classe média é composta pela pequena burguesia remunerada nos negócios da construção civil, mercado imobiliário, comércio e serviços; membros da alta administração do setor público e profissionais liberais.

Na base temos a baixa classe média e os assalariados, que garantem sua sobrevivência, através de um trabalho duro diuturnamente, enfrentando a precariedade do transporte coletivo, a carência do sistema público de saúde e morando nas áreas periféricas sujeitas à criminalidade e à violência do dia a dia.

Os trabalhadores da massa marginal envoltos na informalidade são encarregados dos serviços domésticos, segmentos de baixa produtividade, subempregados, camponeses de pequenos lotes de terra, vendedores ambulantes e até atividade ilícitas.

Nesse contexto, o aprofundamento da austeridade fiscal vem surtindo impactos funestos sobre o tecido social da debilitada democracia brasileira. Segundo dados da Pnad Contínua do IBGE, no primeiro trimestre de 2018 a taxa de subutilização da força de trabalho subiu para 24,7%, o que representa 27,7 milhões de pessoas. Essa é a maior taxa de subutilização na série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. O contingente de subutilizados também é o maior da série histórica.

Bahia (40,5%), Piauí (39,7%), Alagoas (38,2%) e Maranhão (37,4%) apresentaram as maiores taxas de subutilização; as menores taxas foram em Santa Catarina (10,8%), Rio Grande do Sul (15,5%), Mato Grosso (16%) e Paraná (17,6%).

A taxa de desocupação do primeiro trimestre de 2018 no Brasil, divulgada em 27 de abril, foi de 13,1%. Assim, há 13,7 milhões de desempregados no país. O número de pessoas desalentadas em relação ao emprego é de 4,6 milhões; 6,1 milhões de trabalhadores estão empregados, mas gostariam de trabalhar mais horas; e 5,3 milhões de pessoas estão em busca de emprego há um ano ou mais.

Em relação à pobreza e extrema pobreza, por exemplo, levantamento da ActionAid Brasil indica que nos últimos três anos – 2015–2017 – o país voltou ao patamar de 12 anos atrás no número de pessoas em situação de extrema pobreza. Ou seja, mais de 10 milhões de brasileiros estão nessa condição. Isso nos leva a crer que aquela correlação pobreza versus fome sugere fortemente que a gente já está, neste momento, numa situação ruim, que deve aparecer com os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares — POF/IBGE — do final de 2018.

Vivemos tempos de guerra híbrida, ao sul do Equador. A ONU prevê que, no ritmo atual, as reservas hídricas do globo reduzirão 40% até 2030, o que deverá provocar uma “guerra pela água” no mundo. Os EUA e a Europa enfrentam grave problema de falta de água.

É neste contexto que tem também que ser entendido o conflito político no Brasil e demais países sul-americanos. Tudo indica que um dos interesses dos países líderes do capitalismo mundial é se apropriar do Aquífero Guarani, maior reserva subterrânea de água doce do mundo. O Aquífero, que está localizado na parte sul da América do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), coloca a Região como detentora de 47% das reservas superficiais e subterrâneas de água do mundo.

No mundo onde prevalece a carência, a fome e a ignorância, manda quem pode, e obedece quem tem prejuízo, mas pode apenas espernear. E assim caminha a humanidade.

*Ranulfo Vidigal, economista

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