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sábado, 7 dezembro, 2024

Os laços de Trump ao passado e a ressurreição da esquerda

De Omnibus Dubitandum’

Deve-se duvidar de tudo

por James Petras
Ocupação da fábrica de Flint, da General Motors, 1937. O presidente Trump está profundamente entranhado na estrutura do estado profundo do imperialismo americano. Contrariando referências ocasionais à não intervenção em guerras além-mar, Trump tem seguido as pegadas dos seus antecessores.
Enquanto neoconservadores e liberais têm levando um alarido acerca dos laços de Trump com a Rússia, suas “heresias” sobre a NATO e suas aberturas para a paz no Médio Oriente, na prática ele tem posto de lado seu imperialismo supostamente humanitário e tem-se envolvido nas mesmas políticas belicosas da sua rival presidencial do Partido Democrata, Hillary Clinton.
Uma vez que lhe falta a “demagogia” ardilosa do ex-presidente Obama e não recobre as suas acções com apelos baratos a políticas “de identidade”, os pronunciamentos brutos e abrasivos de Trump levam jovens manifestantes às ruas em ações de massa. Estas manifestações são não tão discretamente apoiadas pelos principais oponentes de Trump entre os banqueiros da Wall Street, especuladores e magnatas dos mass media. Por outras palavras, o presidente Trump é um homem que abraça e segue os ícones e não uma “revolucionário” ou mesmo um “agente de mudança”.
Prosseguiremos discutindo a trajectória história que provocou o nascimento do regime Trump. Identificaremos a seguir políticas e compromissos que determinam a direcção presente e futura da sua administração.
Concluiremos identificando como a reação atual pode produzir transformações futuras. Desafiaremos o atual delírio catastrofista e apocalíptico e apresentaremos razões para uma perspectiva optimista para o futuro. Em suma, este ensaio indicará como tendências negativas actuais podem tornar-se realisticamente positivas.
Sequências históricas
Ao longo das últimas duas décadas presidentes dos EUA desbarataram os recursos financeiros e militares do país em múltiplas guerras intermináveis e perdedoras, bem como em milhões de milhões (trillion) de dólares de dívidas comerciais e desequilíbrios orçamentais. Líderes dos EUA enlouqueceram provocando grandes crises financeiras globais, levando à bancarrotas os maiores bancos, destruindo pequenos possuidores de hipotecas, devastando a indústria manufactureira e criando desemprego maciço seguido por EMPREGOSprecários e de baixo salário o que levou ao colapso de padrões de vida para as classes trabalhadora e extractos baixos da média.
Guerras imperiais, bail-outs de milhões de milhões de dólares para os bilionários e fuga se peias de corporações multinacionais para o exterior aprofundaram amplamente desigualdades de classe e deram origem a acordos comerciais favorecendo a China, Alemanha e México. Dentro dos EUA, os maiores beneficiários destas crises têm sido os banqueiros, bilionários da alta tecnologia, importadores comerciais e exportadores do agro-negócio.
Confrontados com crises sistémicas, os dominadores do regime responderam com o aprofundamento e expansão dos poderes dos presidentes dos EUA na forma de decretos presidenciais. Para encobrir a longa série de derrocadas, denunciantes patriotas foram encarcerados e a vigilância estilo estado-policial infiltrou-se em todo sector da cidadania.
Os presidentes Bush, Clinton e Obama definiram a trajectória das guerras imperiais e da pilhagem da Wall Street. A polícia de estado, as instituições militares e financeiras estão firmemente incorporadas na matriz do poder. Centros financeiros, como a Goldman Sachs, têm reiteradamente estabelecido a agenda e controlado o Departamento do Tesouro dos EUA e as agências que regulam o comércio e a banca. As “instituições permanentes” do estado permaneceram, enquanto presidentes, pouco importando de que partido, foram baralhados nos pormenores do “Gabinete Oval”.
O “Primeiro Negro” presidente Barack Obama prometeu paz e prosseguiu com sete guerras. Seu sucessor, Donald Trump, foi eleito com promessas de “não-intervenção” e imediatamente adoptou o “bastão de bombardeamento” de Obama: o minúsculo Iémen foi atacado pelas forças dos EUA; aliados da Rússia na região do Donbass da Ucrânia foram atacados de modo selvagem pelos aliados de Washington em Kiev e o “mais realista” representante de Trump, Nikki Haley, adotou uma atitude belicosa na ONU no estilo da “Madame Intervenção Humanitária” Samantha Power, zurrando invectivas contra a Rússia.
Onde está a mudança? Trump seguiu Obama ao aumentar sanções contra a Rússia, enquanto ameaça a Coreia do Norte com aniquilação nuclear no rastro da grande acumulação militar de Obama na península coreana. Obama lançou uma guerra por procuração contra a Síria e Trump escalou a guerra aérea sobre Raqqa. Obama cercou a China com bases militares, navios e aviões de guerra e Trump marchou em frente com retórica guerreira. Obama expulsou um recorde de dois milhões de trabalhadores mexicanos ao longo de oito anos; Trump seguiu-o ao prometer deportar ainda mais.
Por outras palavras, o presidente Trump obedientemente juntou-se à marcha de acordo a trajetória dos seus antecessores, bombardeando os mesmos países alvos enquanto plagia os seus discursos maníacos nas Nações Unidas.
Obama aumentou o tributo anual (ajuda) a Tel Aviv para uns entusiásticos US$3,8 mil milhões enquanto balia umas poucas críticas pro-forma acerca da expansão israelense ao sequestro de terras na Palestina; Trump propôs deslocar a Embaixada dos EUA para Jerusalém enquanto choramingava um pouco quanto às suas próprias mini-críticas aos colonatos judeus ilegais em terras roubadas aos palestinos.
O que é esmagadoramente gritante é a semelhança das políticas e estratégias de Obama e de Trump em política externa, seus meios e aliados. O diferente é o seu estilo e retórica. Ambos os presidentes “Agentes de mudança” imediatamente romperam as mesmas falsas promessas pré-eleitorais e funcionam bem dentro dos limites das instituições permanentes do estado.
Quaisquer que sejam as diferenças que tenham elas são um resultado de contextos históricos contrastantes. Obama assumiu no momento do colapso do sistema financeiro e procurou regular bancos a fim de estabilizar operações. Trump assumiu após a “estabilização” de um trilião de dólares de Obama procura eliminar regulações – nas pegadas do presidente Clinton! Assim, “demasiado barulho” acerca da “desregulação histórica” de Trump!
O “Inverno do descontentamento” na forma de protestos em massa contra a proibição de Trump a imigrantes e visitantes de sete países predominantemente muçulmanos segue-se directamente às “sete guerras mortais” de Obama. Os imigrantes e refugiados são resultados directos das invasões e ataques de Obama a estes países que levaram a assassinatos, mutilações, deslocamentos forçados e miséria para milhões de “predominantemente” (mas não exclusivamente) de muçulmanos. As guerras de Obama criaram dezenas de milhares de “rebeldes”, insurgentes e terroristas. Os refugiados, que fogem pelas suas vidas, foram amplamente excluídos dos EUA sob Obama e a maior tem procurado abrigos seguros nos campos asquerosos e caóticos da UE.
Por terrível e ilegal que seja o encerramento da fronteira feito por Trump a muçulmanos e por esperançosas que pareçam os protestos públicos em massa, tudo isso é o resultado da política de quase uma década de assassinato e agressão sob o presidente Obama.
Seguindo a trajetória da política, Obama derramou o sangue e Trump, no seu estilo racista vulgar, é deixado a “limpar a confusão”. Enquanto Obama foi agraciado com um “Prémio Nobel da Paz”, o irado Trump é fortemente atacado por limpar o sangue!
Trump optou por pisar o caminho do opróbrio e enfrenta a ira do purgatório. Enquanto isso, Obama está a jogar golf, a surfar ao vento e exibir o seu sorriso despreocupado aos escrevinhadores que o adoram nos mass media.
Quando Trump pisa com força o caminho preparado por Obama, centenas de milhares de manifestantes enchem as ruas para protestar conta o “fascista”, com grande número das principais redes de mass media, dúzias de plutocratas e “intelectuais” de todos os géneros, raças e credos a retorcerem-se em ultraje moral! Fica-se confuso com o silêncio ensurdecedor destes mesmos activistas e forças quando as guerras agressivas os ataques de Obama levaram às mortes e deslocamentos de milhões de civis, principalmente muçulmanos e principalmente mulheres – quando seus lares, festas de casamento, mercados, escolas e funerais foram bombardeados.
Chega de confusionismo americano! Dever-se-ia tentar entender as possibilidades que se levantam de um sector maciço finalmente a romper seu silêncio quando o belicismo do loquaz Obama foi transformado na marcha bruta de Trump para o juízo final.
Perspectivas optimistas
Há muitos que desesperam mas há mais que se tornaram conscientes. Identificaremos as perspectivas optimistas e as esperanças realistas enraizadas na realidade e tendências actuais. Realismo significa discutir desenvolvimentos contraditórios e polarizadores e portanto não aceitamos quaisquer resultados “inevitáveis”. Isto significa que resultados são “terreno contestado” onde factores subjectivos desempenham um papel importante. A interface de forças em conflito pode resultar numa espiral ascendente ou descendente – rumo a maior igualdade, soberania e libertação ou maior concentração de riqueza, poder e privilégio.
A mais retrógrada concentração de poder e riqueza encontra-se na oligárquica União Europeia de dominação alemã – uma configuração que está sob assédio por forças populares. Os eleitores do Reino Unidos optaram por sair da UE (Brexit). Em consequência, a Grã-Bretanha enfrenta uma ruptura com a Escócia e Gales e uma ainda maior separação da Irlanda. O Brexit levará a uma nova polarização quando banqueiros com base em Londres partirem para a UE e líderes do mercado livre confrontarem trabalhadores, proteccionistas e a massa crescente dos pobres. O Brexit fortalece forças nacionalistas-populistas e de esquerda na França, Polônia, Hungria e Sérvia e estilhaça a hegemonia neoliberal na Itália, Espanha, Grécia, Portugal e alhures. O desafio aos oligarcas da UE é que a insurgência popular intensificará a polarização social e pode trazer à tona movimentos de classe progressistas ou partidos e movimentos autoritários-nacionalistas.
A ascensão de Trump ao poder e seus decretos executivos levou a polarizar muitos os eleitorados, aumentou a politização e a ação direta. O despertar da América aprofunda fissuras internas entre democratas com “d” minúsculo, mulheres progressistas, sindicalistas, estudantes e outros contra os oportunistas do Partido Democrata com “D” maiúsculo, especuladores, antigos belicistas Democratas, burgueses negros do Partido “D” (os líderes extraviados) e um pequeno exército de ONGs financiadas por corporações.
O abraço de Trump à agenda militar Obama-Clinton e da Wall Street levará a uma bolha financeira, gastos militares inchados e guerras mais custosas. Isto dividirá o regime dos seus apoiantes sindicais e da classe trabalhadora agora que o gabinete de Trump é compostos inteiramente de bilionários, ideólogos, sionistas raivosos e militaristas (em oposição à sua promessa de nomear homens de negócios e realistas duros para negociar). Isto poderia criar uma oportunidade rica para a ascensão de movimentos que rejeitariam a cara realmente feia do regime reaccionário de Trump.
A animosidade de Trump à NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e a defesa do proteccionismo e da exploração financeira e de recursos minará os regimes corruptos, assassinos e narco-liberais que têm dominado o México durante os últimos 30 anos desde os dias de Salinas. A política anti-imigração de Trump levará mexicanos a escolherem “combater ou fugir” ao confrontar o caos social criado pelos gangs narco e da polícia. Isto forçará o desenvolvimento de mercados internos e indústrias do México. O consumo de massa interno e a propriedade abarcará movimentos nacionais-populares. O cartel da droga e seus patrocinadores políticos perderão os mercados estado-unidenses e enfrentarão oposição interna.
O protecionismo de Trump limitará o fluxo ilegal de capital a partir do México, o qual montou a US$48,3 mil milhões em 2016, ou 55% da dívida do México. A transição do México da dependência e do neocolonialismo polarizará profundamente o estado e a sociedade; o resultado será determinado pelas forças de classe.
As ameaças económicas e militares de Trump contra o Irão fortalecerão forças nacionalistas, populistas e colectivistas em relação a políticos neoliberais “reformistas” e pró ocidentais. A aliança anti-imperialista do irão com o Iémen, Síria e Líbano solidificar-se-á contra o quarteto conduzido pelos EUA da Arábia Saudita, Israel, Grã-Bretanha e EUA.
O apoio de Trump ao apresamento maciço de terra palestina por Israel e sua proibição “só judeus” contra muçulmanos e cristãos levará ao sacudir dos quislings multi-milionários da Autoridade Palestina e a ascensão de muitos mais levantamentos e intifadas.
A derrota do ISIS fortalecerá forças governamentais independentes no Iraque, Síria e Líbano, enfraquecendo a alavancagem imperial dos EUA e abrindo a porta a lutas populares democráticas e laicas.
A campanha anti-corrupção em grande escala e a longo prazo do presidente da China, Xi Jinping, levou à prisão e remoção de mais de um quarto de milhão de responsáveis e homens de negócios, incluindo bilionários líderes de topo do Partido. As prisões, processos e encarceramentos reduziram do abuso do privilégio, mas, mais importante, melhorou as perspectivas para um movimento de desafio às vastas desigualdades sociais. Aquilo que começou “de cima” provocou movimentos “de baixo”. O ressuscitar de um movimento rumo a valores socialistas pode ter um grande impacto sobre estados vassalos dos EUA na Ásia.
O apoio da Rússia a direitos democráticos no Leste da Ucrânia e a reincorporação da Crimeia através de referendo pode limitar regimes fantoches dos EUA no flanco sul da Rússia e reduzir a intervenção estado-unidense. A Rússia pode desenvolver laços pacíficos com estados europeus independentes com a ruptura da UE e a vitória eleitoral de Trump sobre a ameaça de guerra nuclear do regime Obama-Clinton.
O movimento à escala mundial contra o globalismo imperialista isola a direita apoiada pelos EUA que tomou poder na América do Sul. A procura do Brasil, Argentina e Chile de pactos comerciais neoliberais está na defensiva. Suas economias, especialmente na Argentina e Brasil, assistiram a um triplicar do desemprego, quadruplicar da dívida externa, estagnação até crescimento negativo e agora enfrentam greves gerais com apoio de massa. A adulação do neoliberalismo está a provocar luta de classe. Isto pode derrubar a ordem pós Obama na América Latina.
Conclusão
Por todo o mundo e no interior dos países mais importantes, a ordem ultra-neoliberal do último quarto de século está em desintegração. Há uma ascensão maciça de movimentos a partir de cima e de baixo, de democratas de esquerda a nacionalistas, de populistas independente a reaccionários da direita “velha guarda”. Um universo polarizado e fragmentado emergiu. O começo do fim da actual ordem imperial-globalista está a criar oportunidades para uma nova ordem dinâmica democrático colectivista. Os oligarcas e as elites da “segurança” não cederão facilmente a exigências populares nem se afastarão. Facas serão afiadas, decretos executivos avançarão e golpes eleitorais serão encenados para tentar tomar poder. Os movimentos democrático-populares emergentes precisam ultrapassar a fragmentação da identidade e estabelecer líderes unificados e igualitários que possam actuar decisivamente e independentemente afastando-se dos líderes políticos existentes que fazem gestos dramáticos, mas falsos, enquanto procuram um retorno ao fedor e imundície do passado recente.
09/Fevereiro/2017
O original encontra-se em http://petras.lahaine.org/?p=2127
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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