Santiago do Chile, 21 dez (Prensa Latina) As relações entre Chile e Argentina atravessam hoje novos momentos de tensão após as declarações do presidente Javier Milei e de altos funcionários de sua administração, que desqualificam o trabalho do governo deste país.
Os problemas entre as nações vizinhas começaram em abril passado, quando a Marinha Argentina inaugurou o Posto de Vigilância e Controle de Trânsito Marítimo Hito 1, que avançou mais de três metros na região de Magalhães e na Antártica chilena para ali colocar seus painéis solares.
A princípio, o embaixador do país transandino em Santiago, Jorge Faurie, tentou minimizar a questão declarando que se tratava de um “erro” da empresa responsável pela instalação do posto e que era impossível desmontar a construção em pelo menos até o verão do sul.
Essa posição provocou forte repúdio no Chile, e o presidente Gabriel Boric apelou à Argentina para remover as estruturas depois de lembrar que “as fronteiras não são algo com que possa haver ambiguidades. É um princípio básico de respeito entre países.”
“Ou eles tiram ou nós tiramos”, disse o presidente na ocasião.
Faurie já havia se envolvido em outro incidente quando, em reunião na passagem de fronteira da Los Libertadores, desrespeitou uma delegação oficial chilena.
“O meu país já era uma potência agrícola quando se aprendia a comer”, foi uma das afirmações do diplomata, que também menosprezou o delegado presidencial da comuna dos Andes, afirmando que “o Estado chileno costuma criar figuras de representação”.
Meses depois, a ministra da Segurança Transandina, Patricia Bullrich, que participava de um Curso Avançado de Combate ao Narcotráfico em Bariloche, alertou sobre um aumento no sul daquele país de modalidades criminosas que supostamente vêm do Chile.
Anteriormente, Bullrich havia alegado, sem provas, a suposta presença em território chileno de membros do grupo Hezbollah, o que motivou uma nota de protesto entregue à sede diplomática argentina.
Como se não bastasse, esta semana Milei apoiou as declarações do seu ministro da Economia, Luis Caputo, que disse que o Chile “hoje é praticamente governado por um comunista que está prestes a afundá-los”.
Uma mensagem divulgada aqui nas redes sociais e intitulada “É melhor deixar os números falarem” dá uma resposta sólida ao governo Milei ao comparar a situação nos dois países.
Na Argentina a pobreza atinge 53 por cento da população, enquanto no Chile é de 6,5; No primeiro país a inflação anual é de 166 por cento e no segundo é de 4,2; O salário mínimo na nação transandina é de 239 dólares, metade do salário chileno, o que equivale a 532.
Políticos de todas as tendências, com exceção do Partido Republicano, de extrema direita, condenaram as declarações dos governantes Milei, a ingerência nos assuntos internos e as suas desqualificações que impedem uma relação harmoniosa.
Questionado sobre o assunto, Boric expressou: “Temos que ter um pouco mais de humildade, porque nós, os presidentes, passamos, mas as instituições e o povo ficam”.
E acrescentou: “Não vou me referir ao presidente da Argentina com adjetivos ou insultos, como ele está acostumado a fazer”.