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quinta-feira, 10 outubro, 2024

Governantes paulistas onteme hoje no caminho das trevas

Pedro Augusto Pinho*

Faz muito tempo, já perdido na memória, quando os governantes se preocupavam com as pessoas. Administrava-se para o bem estar da população: mais escolas, mais empregos, mais progresso, vida melhor, segura e saudável. Chega-se a pensar que, como tantos episódios da História antiga, de Roma, da Grécia, da origem das religiões, que se misturam fatos e lendas.

Hoje e desde quase meio século se governa apenas e exclusivamente para as finanças, para e pelo dinheiro. E o dinheiro estéril, improdutivo, que apenas se reproduz na especulação e na corrupção. Minimamente aplicado na produção, com a única exceção das drogas.

E assim não nos deve surpreender a conivência das milícias, das organizações criminosas com os governos em todos os níveis, em qualquer escalão.

E o “Estado Nacional”, como se observa no Brasil, não tem aqui o único caso, pois até mesmo potências imperiais como os Estados Unidos da América (EUA) são dirigidos pelas finanças apátridas, se desfazem, tornam-se mínimos e desaparecem nas mãos das finanças e do crime.

Trazemos um fato, verdadeiro escândalo, que tivéssemos em outro tempo, quando o ser humano, principalmente as crianças, era mais importante do que o capital, estaria sendo criminalizado, seus responsáveis presos, julgados e a população honesta e justamente revoltada.

Foi denunciado na Folha de S.Paulo, 21/02/2022, no espaço da jornalista Mônica Bergamo, no caderno “ilustrada”, página C2. Transcrevemos: “OBSERVANDO A Fundação  Casa gastou R$ 800 mil com a montagem de uma central de monitoramento para acompanhar 4.440 adolescentes internados na instituição. O espaço, instalado na sede da fundação, na capital paulista, conta com um grande painel – chamado de “videowall” – dividido em oito monitores, além de mesas e computadores. MOTIVO Os custos com a sala se somam a outros R$ 3,7 milhões investidos na aquisição de 1.728 câmaras de circuito fechado. Segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania, “a medida traz mais segurança e controle” para os jovens. DE LONGE “Todo o sistema é mais um recurso tecnológico que colabora diretamente na execução da medida socioeducativa, pois permite o acompanhamento à distância das rotinas e até prevenir situações inadequadas ao cumprimento das atividades”, afirma o secretário da Justiça, Fernando José da Costa”.

São de diversas ordens os inacreditáveis abusos, erros e crimes cometidos pelo Estado de São Paulo e este seu secretário.

Primeiro nos remete ao século XVIII, mais precisamente a 1791, há 231 anos, quando Jeremy Bentham (1748-1832), filósofo utilitarista inglês, publica “O Panóptico”, seu projeto de construção carcerária fundamentado no “princípio da inspeção”, pelo qual o comportamento dos presos seria garantido se eles se sentissem continuamente observados.

Michel Foucault (1926-1984), pensador, filólogo, professor da cátedra História dos Sistemas do Pensamento, no “Collège de France”, escreveu em “Vigiar e Punir” (1975) que o panóptico buscava estabelecer a sociedade disciplinar. Ou seja, não uma sociedade de cidadãos, não uma sociedade de homens livres, não uma sociedade humana, mas a sociedade encarcerada.

Acreditando que o trecho entre aspas, de Mônica Bergamo, seja da lavra do secretário, que medíocre ou que farsante o seu pronunciamento! Um projeto repudiado pelos colonialistas ingleses no Século das Luzes é denominado pelo paulista no século XXI de “socioeducativo”?

Ou como a Semana de Arte Moderna, cujo centenário mereceu, nas páginas desta mesma Folha de S.Paulo (20/02/2022), do jornalista Ruy Castro a restrição a seu limite de importação literária europeia, não fossem Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, escritores desde Joaquim Nabuco a Roquette-Pinto e “um naipe de engenheiros, astrônomos, biólogos, botânicos, matemáticos, epidemiologistas e radiologistas” que podemos e devemos nos orgulhar.

Ou a farsa da Revolução Constitucionalista de São Paulo, como bem escreveu Alzira Vargas do Amaral Peixoto (1914-1992), em “Getúlio Vargas, meu pai” (1960), “nem era revolução, nem constitucionalista, nem de São Paulo”, pois revolução fora aquela realizada em 1930, a nova constituição já estava sendo elaborada (Comissão do Itamarati), e os principais interessados nem eram os paulistas, o que ela não escreve, porém hoje ninguém mais duvida, eram os banqueiros ingleses.

Ou as falaciosas identidades políticas, desde o início da República, com 41 anos ininterruptos do PRP (Partido Republicano Paulista), em nada diferente dos PRs dos outros Estados, até o PMDB/PSDB há 40 anos no poder em São Paulo. Os partidos ideológicos, à direita e à esquerda, fascistas ou comunistas, no Brasil apenas fizeram (fazem) o papel de bicho papão, para assustar as classes médias e levar seus votos para os “centrões”, o verdadeiro partido de todos os governos, excetuando o de Vargas e o de Jango, não por mero acaso, vítimas de golpe e assassinato.

O financismo está no próprio destaque da notícia, nas despesas, no investimento, no dinheiro, e não nos adolescentes vítimas, tratados como quantidade, sem qualquer outra distinção: faixas etárias, nível de instrução, existência de famílias, qualidade de saúde, aspirações. E, ainda mais, toda tecnologia, como salienta o secretário de justiça (sic), propicia o controle sem o contato humano. A coisificação das pessoas, como se evidencia a todo momento na retirada de direitos trabalhistas e do próprio trabalho assalariado, na ausência de projetos urbanos que acarretam mortes, perdas de bens resultantes de toda uma vida de trabalho e sacrifícios, na privatização de encargos típicos do Estado para tornar inacessível a energia, a água, a limpeza urbana, a quem não possa pagar os lucros exorbitantes dos capitais apátridas, que as compram/recebem por valor de xepa.

O que é verdadeiramente inacreditável, que mostra o fundo do poço que os capitais financeiros hoje com domínio total da sociedade, pois dos governos, com as raras exceções conhecidas, sempre estiveram participando, inacreditável e inaceitável, é aa total desumanidade com que somos tratados. E, pior, são estas mesmas pessoas que se candidatam não para deflexionar, dar nova direção, novo sentido mas para prosseguir nesta mesma direção. E lá vamos nós apoiá-las.

Seriam os tupis da Cananéia tão distintos dos demais, capazes de ampliar nossos limites territoriais e reduzir nossa sensibilidade humana?

Triste Brasil! “Tristes Tropiques”, escreveu em 1955 o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) sobre nosso País.

Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

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