Por Jorge Petinaud Martínez
Correspondente-chefe na Bolívia
Em La Paz, o presidente Luis Arce declarou em 29 de março, durante a inauguração do Congresso do MAS-Instrumento Político para a Soberania dos Povos (MAS-IPSP), que o partido vencerá as eleições de 17 de agosto.
“Somos a única alternativa para o povo boliviano; não há outra. Somos a única força que representa as estruturas de base do país”, declarou o dignitário no grande evento realizado no Chuquiago Marka Fairgrounds, com a presença de delegações de todos os nove departamentos.
Segundo os organizadores, o objetivo deste fórum, que coincide com o 30º aniversário do MAS-IPSP, era modificar seus estatutos com a intenção de torná-lo mais participativo, inclusivo e democrático na tomada de decisões.
Arce considerou importante criar condições para a renovação interna, porque não é apenas um fator de fortalecimento e obtenção de sucesso eleitoral, mas também de garantia da continuidade do projeto político, que, explicou, se baseia nos movimentos sociais, nas organizações sindicais e na sociedade civil em busca de um país industrializado.
O estatuto atual, elaborado e aprovado na última década, limita a opção de candidatos a 10 anos de antiguidade no MAS-IPSP, e um dos principais objetivos do Congresso era mudar essa limitação.
“Hoje vamos nos divorciar completamente de um estatuto orgânico que foi feito sob medida para uma pessoa”, disse Arce, referindo-se ao ex-presidente da organização política, Evo Morales, “sem levar em conta os demais membros do MAS”.
O presidente acredita que esse mecanismo permitirá que eles se fortaleçam para as próximas eleições, que, reiterou, “o MAS vencerá como única opção para o povo”.
“Eles tentaram nos intimidar, tentaram nos assustar, tentaram nos derrubar, querem nos desmoralizar. Essa é a estratégia, mas irmãs e irmãos, não, nós somos a maioria, somos o povo organizado”, disse Arce, referindo-se aos partidos de oposição que tentam levar o crédito pela industrialização promovida por seu governo.
Esse processo, que visa a substituição de importações, é uma política central do Poder Executivo, que já rendeu resultados visíveis com a inauguração de usinas como a Siderúrgica de Mutún, a usina de biodiesel e outras que entrarão em operação após 2025, como parte do Modelo Econômico Social Comunitário Produtivo.
REFUNDAMENTO EM COCHABAMBA
Enquanto isso, a refundação de um novo instrumento político em um congresso realizado em Cochabamba, liderado pelo ex-presidente Evo Morales, entre 29 e 31 de março, confirmou a divisão dentro do partido governante da Bolívia nas últimas duas décadas.
“Devemos nos restabelecer com a presença de 70.000 a 80.000 companheiros. A partir daqui, demonstraremos mais uma vez ao mundo que este é o único movimento político com uma visão para o país; é o único movimento que pensa na Bolívia e nas novas gerações”, disse o primeiro ex-dignitário indígena do país em um discurso transmitido pelo canal Abya Yala.
Segundo o ex-chefe do MAS-IPSP, 27 comitês trabalharam para apresentar um plano de governo, antes das eleições gerais de 17 de agosto.
Morales esclareceu que participará das eleições de agosto com o nome de Frente Para la Victoria (FPV), um “partido emprestado”, que, segundo ele, pretende ser banido.
Ele indicou que aqueles que participaram do congresso farão história e pediu que se trabalhe uma nova tese política, uma nova estrutura para o instrumento político que nascerá com um nome diferente do MAS-IPSP, disse.
O ex-presidente Evo Morales continua protegido por milhares de seus seguidores em Chapare, Cochabamba, sob um mandado de prisão pelo suposto crime de tráfico de pessoas.
De lá, ele chamou um antigo companheiro próximo do MAS-IPSP, Mario Cronémbold, de traidor. Cronémbold está promovendo o presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, como o candidato presidencial que unificaria as forças de esquerda nas eleições de 17 de agosto.
Referindo-se a este assunto, o ex-presidente reiterou que não havia um Plano B no Congresso de Cochabamba e, quando se discute, esse Plano B pertence ao império, ao governo e à direita. Ele confirmou que o único candidato é “Evo Morales”.
Sobre a economia, ele lembrou que quando chegou ao poder, em 2005, o Produto Interno Bruto era de apenas nove bilhões de dólares, e em 2019, ano do golpe que obrigou sua renúncia, esse valor já havia subido para 42 bilhões de dólares.
“Infelizmente, voltamos a ser um país mendigo. Antes, diziam empréstimos e brindes; agora, dizem que a Assembleia Legislativa Plurinacional deve aprovar a compra de combustível”, enfatizou em outra crítica ao governo liderado por Arce.
Morales também acusou o governo de mentir ao afirmar que há crescimento econômico, quando “não há dinheiro nem para comprar combustível. Que mentira!”
Bloco de oposição neoliberal prepara eleições
Por sua vez, três pesquisas estão preparando o Bloco de Unidade, partido neoliberal de oposição, para escolher um único candidato para tentar derrotar o partido governista MAS-IPSP nas eleições gerais de 17 de agosto.
Segundo o comunicado, essas pesquisas serão realizadas durante três dias consecutivos, entre 5 e 7 de abril, em um exercício de campo que cobrirá o eixo central do país andino-amazônico (Santa Cruz, Cochabamba e La Paz).
Após um trimestre de vários acordos políticos firmados pelo chamado Bloco de Unidade de oposição e a publicação de inúmeras pesquisas criticadas por políticos de direita e pela mídia simpatizante como “poll-itis”, essas três pesquisas de campo agora estão sendo apresentadas como a etapa final para determinar quem será escolhido como candidato presidencial.
“O bloco unitário e os pré-candidatos (Jorge Quiroga, Samuel Doria Medina e Amparo Ballivián) selecionaram as três empresas que executarão a obra de acordo com os parâmetros estabelecidos”, afirma um comunicado do ex-presidente Carlos Mesa, porta-voz da oposição, que apoia as políticas neoliberais dos Estados Unidos e do Fundo Monetário Internacional.
Segundo a fonte, duas empresas nacionais e uma estrangeira realizarão esta obra: Muestras y Mercados, financiada por Doria Medina; Creative Interactive da Argentina, paga por Quiroga; e Captura Consulting, empresas especializadas, que atuarão nas capitais mais populosas da Bolívia.
“Vamos entrar nas províncias mais populosas do país. Estamos falando de um trabalho nunca visto antes”, esclareceu Tomás Monasterio, porta-voz da Aliança Livre, que patrocina a pré-candidatura de Quiroga, anunciando que o processo será monitorado por todas as forças políticas deste sub-bloco.
Ele ressaltou que a meta é ter os resultados antes de 15 de abril, já que o registro de coligações políticas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) expira dois dias depois.
No total, serão realizadas três consultas públicas para determinar qual(is) candidato(s) da oposição conta(m) com o maior apoio público.
Um deles é o Bloco da Unidade, formado por Quiroga, Doria Medina e Amparo Ballivián, os três pré-candidatos, além de Mesa, Luis Fernando Camacho e Vicente Cuéllar, que já definiram data e metodologia para suas três eleições correspondentes.
A outra pesquisa anunciada será financiada pelos pré-candidatos neoliberais Manfred Reyes Villa e Chi Hyun Chung, recentemente aliados, que informaram que seu indicado presidencial será decidido em abril.
Por fim, o bloco de ativistas políticos de direita chamado El Búnker anunciou que realizaria “primárias digitais”.
Além disso, e com o mesmo objetivo de encontrar um candidato único apoiado por toda a oposição de direita, Marcelo Claure, principal acionista da Ausenco, maior empresa de projetos de engenharia de lítio e cobre do mundo, dos Estados Unidos, anunciou a apresentação de outra pesquisa com o objetivo de derrotar o MAS-IPSP nas eleições gerais.