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sexta-feira, 29 março, 2024

Delenda est Brasil!

Na Roma antiga surgiu um poderoso inimigo: Cartago. E o Senado romano, pela voz de Catão, em grito furioso concluía suas falas: “delenda est Cartago”, Cartago deve ser destruída; não poderiam coexistir Roma e aquela cidade africana.

O Brasil sempre foi uma colônia. Sua existência dependia de um produto vital para a civilização industrial: o petróleo. E, até a década de 1950, todo combustível que movimentava nossas mercadorias, transportava nossas forças armadas, iluminava recantos afastados de nosso País, chegava pelas quantidades e preços definidos pelas empresas estrangeiras. Pela vontade dos Impérios britânico e estadunidense.

Surge, então, um dirigente que resolve, com amplo apoio militar, pois também se tratava da defesa nacional, criar a Petrobrás. Um caso extraordinário de sucesso.

Em apenas 50 anos, transformou aquela colônia numa nação autossuficiente em petróleo. Autossuficiente porque descobrira petróleo em quantidade para suprir o país; autossuficiente porque desenvolvera tecnologia para produzir petróleo e derivados; autossuficiente porque construiu malha de dutos e terminais que colocava os derivados em todo o Brasil, aos menores preços possíveis; autossuficiente porque, em seu trabalho petroleiro, criara um parque industrial e uma engenharia que desafiavam e triunfavam nas competições internacionais.

Delenda est Petrobrás! Ouviu-se nas salas do poder nos Estados Unidos da América (EUA), no Reino Unido, em Israel, onde estavam os que nos colonizavam.

O poeta e cronista Rangel Alves da Costa, em 2014 no blog “Recanto das Letras”, discorrendo sobre a ação romana, registrou: “no jogo do vale tudo, ninguém respeita ninguém, e o mais normal é que tapetes sejam puxados, rasteiras dadas, falsidades e traições sejam vistas como normalidade” e “do eco da fúria romana, a humanidade caminha ensinando que a gana dos fortes, dos poderosos, não se contenta apenas em derrotar, mas destruir completamente tudo aquilo que seja visto como adversidade”. Surgia no Brasil a Operação Lava Jato.

E para que nada restasse da Petrobrás e dos benefícios que ela trazia para a nossa Pátria, se desenvolveram todo tipo de falsidades, de crimes, de injúrias, de detrações, delações, subornos para que não apenas a empresa, também o País fosse destruído.

Aqui trataremos de um único instrumento, criado pela ideologia que dá suporte a toda esta agressão ao Brasil: o neoliberalismo. Vamos discorrer sobre uma sigla em inglês: Ebitda.

Esta sopa de letras lembra Shakespeare. Muito para tão pouco, até enriquece o nada, que é o verdadeiro sentido da sigla. Em Macbeth, cena V, ato V, lê-se que temos apenas “uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado”. Realmente um gênio. Definiu, com quatro séculos de antecedência e com rigor e propriedade, a ebitda.

Passemos para um comentário técnico, do economista Cláudio da Costa Oliveira (Crime organizado: da política de preços à venda de refinarias, em AEPET Direto, 07/01/2020): “Primeiramente é importante saber que o indicador Ebitda (sigla em inglês) não é padronizado, o que impede comparativo entre empresas. Por isto nenhuma grande petroleira apresenta este indicador em suas publicações oficiais. Por outro lado a métrica é falsa e leva a conclusões erradas, (principalmente) quando a empresa está em fase de investimento e a dívida feita ainda não está gerando o caixa esperado para os projetos. Nenhuma grande petroleira utiliza esta métrica. Para avaliar o grau de endividamento é sempre utilizado o indicador “debty/equity” que é a divisão da dívida liquida pelo somatório da dívida liquida com o patrimônio liquido”.

E continua Cláudio Oliveira: “O pré-sal foi descoberto em 2006 e até hoje não foi feita delimitação de nenhuma de suas áreas. A definição das reservas do pré-sal faria com que o direito legal de preferência, que a Petrobrás tem na exploração destas reservas, tivesse de ser valorado e registrado em seu patrimônio. Isto faria com que o patrimônio da companhia aumentasse substancialmente, aumentando proporcionalmente o valor patrimonial de suas ações. Por outro lado o indicador debty/equity mostraria uma empresa muito pouco endividada. É por isto que a Petrobrás atrasa a delimitação das jazidas. Isto vai contra o interesse daqueles que querem vende-la e hoje administram a companhia”.

André Motta Araújo (A Petrobrás na fogueira das refinarias, em GGN, 22/12/2019) denuncia: “A obtusa, patética e obscura direção da PETROBRÁS, ao contrário do padrão mundial de administração das grandes petroleiras, NÃO SÃO PESSOAS DO MUNDO DO PETRÓLEO, são apenas financistas e criou uma nova doutrina econômica única no mundo: uma grande empresa AJUDA A CONCORRÊNCIA a assumir sua fatia do mercado onde ela é dominante. VAMOS ABRIR PARA A CONCORRÊNCIA é coisa inédita para uma empresa de capital aberto”. É a traição escancarada. A mesma da Lava Jato, que ocupa hoje a justiça no território recolonizado do Brasil.

Desde o início da corruptora Lava Jato, toda imprensa que edita e propaga para o Brasil o que interessa ao capital estrangeiro, aos interesses geopolíticos dos impérios, frauda toda e qualquer informação. O brasileiro vem sendo iludido sobre o que realmente assalta o País e qual o crime que está respondendo.

Seria possível que tanto dinheiro, milhões de dólares estadunidenses que aparecem em negociatas, conta nos exterior, ocupando malas filmadas e apartamento de parlamentar, não tivesse passado por um banco? Não necessariamente um grande banco ou um banco estrangeiro, mas um banquinho qualquer? No entanto, por que jamais um banqueiro ou dirigente de banco sentou em inquéritos e audiências da Lava Jato?

Porque vivemos a realidade que o historiador Gustavo Barroso, em 1934, já colocava no título de seu livro “Brasil – Colônia de Banqueiros”. Porém, ainda mais cruel do que a simples espoliação financeira. Não é mais o esbulho que os poderosos sempre fizeram aos desvalidos. O neoliberalismo quer o fim dos Estados Nacionais, quer que os ditames financeiros sejam a legislação global. Aplicada sem reconhecer fronteiras entre Estados.

E a Petrobrás, justo orgulho do povo brasileiro, precisa ser destruída. “Delenda est Petrobrás” é passo fundamental para “delenda est Brasil”.

E com os agentes e traidores que invadiram a Petrobrás desde 1990, com os subornos, ameaças, intimidações que passaram a cercar seus dirigentes, seus técnicos, seus profissionais, com o aproveitamento das fraquezas humanas – e quem escolheria os mais fracos para as gerências, para direção da empresa, para os seus conselhos, senão os financistas interessados na sua destruição? – chegamos a mais esdrúxula situação de um País que abriu mão dele mesmo.

Quando escrevo este artigo, empregados da Petrobrás estão em greve há nove dias. Inúmeras ameaças os cercam. Mas é o momento que os brasileiros precisam acordar e verificar quem está mandando no Brasil.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado

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