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quinta-feira, 21 novembro, 2024

COPA DO MUNDO DE 2022/CATAR: UMA COPA PARA O SHEIK MESSI

Foto: Getty Images

HISTORIANDO AS COPAS – XXII

 

Fechando a série Historiando as Copas do Mundo.  Um Natal cheio de luz, saúde e paz para todos.

Zédejesusbarreto

    No mundo árabe aconteceu uma Copa do Mundo de surpresas, zebras e uma final emocionante, com seis gols, pênaltis, defesas espetaculares e a glória de ‘La Pulga’, o novo semideus dos argentinos, em trajes de gala catarianos e dois troféus de ouro nos braços, coroando a “era Messi’ no futebol planetário.

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  A Copa do Oriente Médio foi uma aula sobre a descoberta de um jeito humano de viver diferente, hábitos, manifestações, arquiteturas, religiosidades. História. E uma competição de jogos surpreendentes, goleadas, jogadas, defesas fantásticas, arte.  Emoções.

 E tudo terminou com o triunfo de um país da América Latina, do Sul, então vivenciando um momento de grave crise política e econômica. O troféu de campeão chegou em tempo, como um prêmio, um consolo, a festa de um povo apaixonado pela deusa bola. A nossa vizinha Argentina vestida inteira de albiceleste, carnavalesca.

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  Uma Copa na beira de um imenso deserto que serviu a todos nós para uma melhor compreensão do mundo, das diferenças humanas, da história – essa caminhada humana pelo tempo sobre o planeta terra, tão água, tão azul … e tão desigual.

Entendamos…

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Luxo e estranhezas

 Cada Copa do Mundo é diferente, por sua localização, clima, época, acontecimentos, misturas, contrastes, culturas. Mas a Copa do Catar /2022, desde antes de a bola rolar mostrava-se talvez a mais estranha e diferente de todas acontecidas até agora, desde 1930, num total de 21. Os sheiks catarianos compraram a Copa do Mundo, e compraram a FIFA também. Fizeram uma copa catariana. Escrita em ‘letras’ árabes.

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 – Foi a primeira Copa a ser disputada num espaço de mundo com de hábitos, costumes e história únicos. Um ‘outro mundo’, dentro da nossa concepção ocidental, capitalista, cristã.

– A paixão e interesse dos catarianos pelo futebol, a ponto de sediar uma Copa do Mundo, são sentimentos historicamente recentes e tem muito a ver com dinheiro, investimentos, altos negócios e também os objetivos de expansão planetária da cultura árabe, do Islã.

– Outro diferencial é o evento esportivo, que congrega os olhos de gente de todos os continentes, ter acontecido nos meses de novembro e dezembro por conta da alta temperatura naquela região de deserto, onde o calor pode chegar aos 55 graus à sombra, no verão.  Dezembro é mês de começo de inverno no hemisfério norte. Os jogos aconteceram à noite e em estádios climatizados, na sua maioria.

– Mais um detalhe: toda a competição se desenrolou numa só cidade, Doha e seus arredores, a moderníssima e chocante capital do Catar. Tudo muito próximo, muito perto, sem viagens ou desgaste para as delegações.

 – Mais de um trilhão $$$ foram empregados em obras, estádios, infraestrutura, com tudo com o que há de mais moderno no planeta, mirando cada detalhe, na busca obstinada da perfeição e da ostentação … típica dos rigores e tradições arábicos.

– As organizações e entidades ligadas aos diretos humanos dizem que mais de 6.700 trabalhadores teriam morrido nas obras, por conta de jornadas exaustivas e falta de segurança, péssimas condições de trabalho. Protestos nas redes, na mídia. Mas a bola rolou solta…

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 A cartilha árabe

 Na solenidade de apresentação da Copa, Fifa e embaixadores do evento presentes, o jovem Sheik árabe, ‘dono da bola’, foi claro. Um resumo:

 – “Faremos um grande espetáculo para o mundo, de luxo, tecnologia e beleza, dentro de nossas tradições. Não haverá lugar para mochileiros ou aventureiros. Somos acolhedores mas que respeitem nossa cultura e tradições. Temos nossa identidade e a preservamos com ardor. Arte, escrita, arquitetura, religião, costumes … são a identidade do um povo. Temos a poesia árabe como expressão existencial, desde a escrita. Nossa caligrafia é arte e a vida é expressão divina.”

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 O país diferenciado  

 O Catar, independente desde a década de 70 do século passado, é um país mais ou menos do tamanho de Sergipe.

Katara, espaço localizado ao norte da península árabe, era uma pequena e antiga aldeia encravada nas águas do Golfo Pérsico (Golfo Árabe), de barro e areia…   com um interior de deserto árido e litoral recortado de praias, dunas e enseadas, onde foi construída, do nada, a magnífica e estonteante capital Doha, de arquitetura única, desenhos diferenciados e ousados rasgando o azul de arranha-céus e ambientes com predominância da arte islâmica/árabe e também alguma inspiração europeia.

 O Catar está assentado numa das maiores reservas de gás e petróleo do mundo e seus mares são ricos de pérolas. É um dos PIBs e IDHs mais altos do mundo, dizem que é a maior renda per capita do planeta. Um luxo de estilo de vida, com investimentos focados na modernidade, na alta tecnologia, no bem estar, até mesmo na ostentação, na exuberância, diríamos.

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 O país é controlado, de forma absoluta, por uma elite trilionária, dona do dinheiro, do chão e dos poderes. São extremamente conservadores – do nosso ponto de vista ocidental. Esses privilegiados formam uma casta, a elite catariana representada por uns 250 mil bem nascidos e bem criados fieis ao Islão.

  Os 2.700 mil restantes habitantes do país são a massa de imigrantes, trabalhadores, peões, mão de obra barata vinda de várias regiões da África, da Ásia … explorados muitas vezes com jornadas de até 18 horas contínuas diárias de trabalho obrigatório pesado, baixos salários, vivendo sob rigorosa vigilância e controle.  As leis islâmicas são rígidas. Há denúncias de violações de direitos humanos básicos e falta liberdade de expressão. O fato é que o regime no Catar é fechado, não tem esse papo de democracia. As mulheres islâmicas, por exemplo, elegantíssimas e luxuosas, convivem com um rígido código de conduta. Acatam. O uso de bebida alcoólica é restrito a certos ambientes e horários, e a chamada ‘comunidade LGBTxs’… que se cuide com os  excessos.

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 Os achegos

 Em princípio, os catarianos são extremamente educados, mostram-se solícitos com os turistas. Havia navios cruzeiros ancorados no porto de Doha servindo de hospedagem, como também tendas e acampamentos montados no deserto. De dia, todos em casa, à noite todos nas ruas, praças, nos mercados, shoppings, museus… farturas. O mercado de Doha é um paraíso onde se encontra de tudo. Cores, formas, variedade, odores, beleza… luxo, ouro, pérolas, moda chic, até bichos. Trens e metrôs modernos, um deslumbre para os que chegam e apreciam.

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Os estádios

Todos dotados da mais alta tecnologia, controle de temperatura, sinalizações, serviços …

– O Lusail – é o maior de todos, com capacidade para 80 mil pessoas, lá acontecerá a final. Belo por fora, todo dourado, e por dentro, conforto, facilidades.

–  O Al Bayt – luxuosíssimo, com capacidade para 60 mil pessoas, abriga hotel com suítes de paraíso e visual para o campo de jogo.

– O Al Janoub, o Ahmad Bin Ali, o Al Thumamam, o Education City (todo refrigerado, dentro de uma cidade universitária), o Khalifa International e o Estádio 974 (todo feito /montado com containers recicláveis, desmontável, sustentável – esses com capacidade para 40 mil pessoas.

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Zebras soltas

 A primeira fase da competição, classificatória, chamada de fase de grupos, foi marcada por zebras – resultados inesperados, surpreendentes, bons jogos e algumas goleadas que, mais adiante, pouco significaram ou de nada serviram.

 A maior das zebras, com jeitão de camelo, aconteceu no dia 22, no Estádio Lusail, pelo Grupo C, quando a Arábia Saudita derrotou a Argentina (depois Campeã do Mundo), de virada por 2 x 1.

Pelo Grupo E, dia 23, no Khalifa International, o Japão derrubou a poderosa (era uma das favoritas ao título) Alemanha, 2 x 1. O mesmo Japão, dias depois venceria a Espanha, outra ‘favorita’, pelo mesmo placar – 2 x 1.

Pelo grupo F, Marrocos surpreendia vencendo a Bélgica (2 x 0). Pelo Grupo D, a Tunísia venceu a então campeã / França, por 1 x 0; o Brasil tomaria 1 x 0 de Camarões (Grupo G) e Portugal do CR-7 levaria um gude preso (1 x 0) da Coreia do Sul (Grupo H).

 E as goleadas: Inglaterra 6 x 2 Irã; Espanha 7 x 0 Costa Rica; França 4 x 1 Austrália. Nas oitavas, Portugal enfiou 6 x 1 na Suíça.   E daí?

  Restaram, para as semifinais, a Argentina, recuperada da estreia, crescente na competição, com Scalloni comandando o virote fora de campo e Messi brilhando nos gramados; a França de Didier Deschamps e Mbappé; a disciplinada e obstinada Croácia de Modric e o surpreendente e guerreiro Marrocos, primeiro time da África – norte mouro do continente – a chegar numa semifinal. Os marroquinos ficaram em quarto lugar, o bronze foi da Croácia.

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 O Brasil sem encantos

 O derradeiro título mundial da seleção brasileira foi em 2002. Daí pra cá … perdemos o brilho, a magia, a força. Muito tititi, muito mimimi e sobramos. Ora por falta de garra, outras por incompetências (dentro e fora das quatro linhas), um tanto de arrogância, pose, às vezes até mala suerte. Merecemos.

 No Catar não foi diferente.

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 O país, pra variar, num momento conturbado, pós eleição renhida (resultado nas urnas quase meio a meio), uma revirada com a volta da esquerda lulopetista ao poder e um presidente em fim de mandato despoderado, execrado, em esperneios. Uma economia cambaleante, muito por conta de três anos de pandemia/a Covid, uma nação dividida – o nós x eles -, raivosa, e togados com poderes absolutos nunca vistos.

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 Em campo, o ‘pastor’ Tite e suas ovelhas desfibradas, nalguns instantes cruciais atarantadas, dependentes de Neymar, um talento fracassado em três copas, sempre às voltas com lesões, corte de cabelos, redes digitais e presepadas.

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 O roteiro

 – A seleção brasileira estreou no Lusail, dia 24 de novembro, vencendo a Sérvia por um convincente 2 x 0. De melhor, o vistoso gol de Vini Jr, num tapa encobrindo a zaga e o goleiro, aproveitando-se de um rebote; e a maravilha cinematográfica do gol em voleio de Richarlison, recebendo ótimo passe de Vini Jr. Beleza de plasticidade no lance.  Venceríamos com muita dificuldade a Suíça, 1 x 0, gol de Casemiro, no Estádio 974; e perdemos, com um time mistão, de 1 x 0 para Camarões. Um alerta.

–  Nas oitavas, fizemos nosso melhor jogo, goleando a Coreia do Sul por 4 x 1, os quatro gols feitos no primeiro tempo: – Vini Jr; Neymar, de pênalti; Richarlison em boa tabela, com direito a dança do pombo com Tite e reservas; e Paquetá. Além da ‘dancinha do pombo’, meio que ridícula, destaque para as homenagens a Pelé, findo o jogo, os jogadores levando uma faixa com foto do Rei diante da torcida. Nada mais. Daí …

 A queda para a Croácia

Futebol não é justo ou injusto, é jogo. Competência e sorte. Não tivemos nem uma coisa nem outra.

  Fizemos um joguinho burocrático, sem imaginação contra uma brava e resistente Croácia, o tempo regulamentar sem gols. Paramos às vezes no goleiro Livakovic – um dos melhores do torneio, mas perdemos o duelo no meio campo, onde tínhamos basicamente dois, três contra cinco croatas. Tite não enxergou e Modric deitou e rolou, nos cozinhou em banho-maria.

 Neymar, mesmo se arrastando em campo, fez um golaço na prorrogação, tudo parecia ir bem, mas deixamos a Croácia empatar, numa dos raros chutes que deram a gol, com nossa marcação frouxa, adiantada, três croatas livres na linha da nossa grande área.

 E, na cobrança das penalidades, falhamos, erramos duas, e o goleiro Livakovic – o melhor jogador em campo – pegou uma, outra foi na trave. Nosso goleiro Álisson não pegou nada, nenhum pênalti, não fez uma só defesa o jogo inteiro, e ainda caiu atrasado no gol croata, braço curto.

 O jogo eliminatório de quartas de final aconteceu no estádio Education City, com arbitragem inglesa, Michael Oliver no apito.

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– Tite escalou: Álisson, Militão, Thiago Silva, Marquinhos e Danilo; Casemiro, Paquetá e Neymar; Raphinha, Richarlison e Vini Jr.

– Os croatas de Zlatko Dalic, atuais vice-campeões mundiais: Livakovic, Juranovic, Lovren, Gvardiol (de máscara) e Sosa; Kovacic, Modric (capitão e astro da equipe), Pasalic, Brozovic, Perisic; Kramaric.

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 Com a bola rolando …

 Como era de esperar, marcação intensa, dura e alta dos croatas, dificultando a saída de bola defensiva brasileira. É uma equipe de pegada, muita disposição e disciplina tática.  Primeiro tempo morno, a Croácia com posse de bola, domínio do meio campo, defendendo-se bem e chegando pouco à frente. Sem pressa, apostando em não tomar gols e ir para os pênaltis.

 No segundo tempo voltamos mais acesos, buscando mais a área adversária, eles com a mesma pegada e o goleiro Livakovic garantindo atrás. Aos 30’, Neymar encarou o goleiro, pela esquerda, e desperdiçou a chance, Livakovic abafou, mandou a escanteio. Pressão brasileira, os croatas respondiam, valorizavam a posse de bola.

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 Na prorrogação os croatas claramente buscavam o empate, travando, gastando tempo, confiantes na atuação do goleiro, um exímio pegador de pênaltis. O Brasil tentava chegar na individualidade. Até que…

– Gol! 1 x 0 Neymar! Já no finalzinho do primeiro tempo da prorrogação. O avante saiu tabelando pelo meio com Rodrygo, com Paquetá, livrou-se da marcação na área inimiga, driblou o goleiro e fez 1 x 0. Um golaço!

  Intervalo, faltavam apenas 15 minutos. Tite a conversar, não sabemos o quê, com os jogadores. Saíram Militão (desconjuntou a linha de quatro defensiva) e Paquetá, entraram Alex Sandro e Fred.  Os croatas foram inteiros ao ataque, cruzando bolas na área brasileira, com novos atacantes altos.  O time brasileiro atrás, saindo só de boa, tentando segurar a bola mas marcando mal, dando espaços.  Daí …

– Gol! 1 x 1 Croácia, aos 11 minutos da segunda etapa da prorrogação, faltando apenas quatro para acabar. Como?  Inexplicavelmente nosso time avançou inteiro até o campo adversário…   Perdemos de bobeira ou falta de raça uma bola boba lá na frente, eles deram chutão, a bola caiu no pé de Modric, mal marcado por Casemiro, o passe saiu longo pra esquerda, nossa defesa toda desarrumada e desguarnecida, três croatas livres na entrada de nossa grade área… Petkovic pegou um chute da meia lua, por baixo, a bola desviou de raspão em Marquinhos e Álisson não chegou.

Não podíamos ter tomado um gol assim. Caímos ali. Faltou malícia, cautela, um bico, uma falta, ‘bola pro mato que o jogo é de campeonato’…  foi.

 Assim, a decisão e a queda se deram a partir de cobranças de tiros livres da marca do pênalti. O emocional é tudo nessa hora. Os croatas muito mais afeitos, acostumados a esse tipo de decisão, confiantes demais no goleiro, venceram por 4 x 2. Perderam Rodrygo, o garoto, o mais novo da equipe, o primeiro a cobrar, o goleiro pegou; e Marquinhos, num dia infeliz, sua bola bateu na parte interna do poste, no rodapé, não entrou.

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 A Croácia enfrentaria a Argentina, e perderia o jogo (3 x 0), com o treinador argentino, nada bobo, recheando o meio campo e marcando Modric em cima, duro. O que não fizemos.

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  Os afilhados de Tite

  Alisson, Ederson e Wéverton (goleiros); Danilo, Dani Alves (39 anos), Alex Sandro e Alex Teles (Laterais); Thiago Silva, Marquinhos, Bremmer e Militão (Zagueiros); Casemiro, Fred, Fabinho, B Guimarães, Paquetá, Emerson Ribeiro (meio-campistas); Neymar, Raphinnha, Vini Jr, Richalison, Gabnriel Jesus, Anthony, Rodrygo e Martinelli (atacantes).

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A “albiceleste” tricampeã

numa Final inesquecível 

 

 Dia 18 de dezembro, um domingo, meio dia, o estádio Lusail, o dourado, lotado, o azul e branco dos sul-americanos predominando nas arquibancadas.

Com sofrências, gostinho de tango de Gardel, na cobrança de tiros livres da marca penal, a Argentina superou a França e sagrou-se Campeã do Mundo pela terceira vez na história (2022, 1986 3 1978).

 Lágrimas, dentro e fora de campo, nas Arábias, em Paris, na América Latina, Argentina, Buenos Aires em dias de loucura incontrolável.

Foi uma das decisões de copa das mais emocionantes da história das copas.  Empate de 2 x 2 no tempo regulamentar, 3 x 3 na prorrogação, emoção e chances de gol até o último segundo. Na cobrança de penalidades, brilhou o goleiro Martinez …

 

 “Título não se joga, se ganha. Com competência, força e alma”.

– O troféu de ouro exposto na beira do gramado. Levado e apresentado por Casillas, goleiro espanhol campeão em 2010.

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 Com bola rolando …

 – Começo tenso, como era de se esperar. De Paul espanando Rabiot, Upemecano chegando duro em Messi, apito do árbitro polonês soprando forte.

  Scaloni surpreendeu Deschamps pondo Di Maria aberto na esquerda. O avante arrebentou e decidiu no primeiro tempo, foi o dono da bola. Os europeus campeões do mundo não viram a cor da bola.

– Aos 20’, Di maria entrou costurando pela esquerda e caiu, tropeçando em Dembelé, cavando…  o árbitro marcou pênalti. A velha ‘milonga!’

 – Gol! 1 x 0 Argentina, aos 24 minutos. Messi bateu o pênalti com calma, deslocando Lloris. Mais que justo, pelo volume de jogo argentino, um amasso.

– Gol! 2 x 0 Argentina, Di Maria, aos 36min. Contragolpe de almanaque: Messi, Mac Allister em velocidade pela direita e Di Maria do outro lado livre, à vontade. Golaço! Quatro toques, apenas.

– Deschamps, tomando um banho tático e estratégico de Scaloni, nem esperou o intervalo, mexeu. Entraram Kolo Mouani e Truham nos lugares de Giroud e Dembelé, apagados. Os franceses foram para a ‘merenda‘ lamentando a falta que fazia em campo os meio-campistas Pogbá e Kanté, e o atacante Benzema (lesionados).

No retorno…

 Para os franceses era o ‘tudo ou nada’. Deschamps deu uma bronca nos vestiários – “vocês não estão disputando uma final de copa” – e os ‘bleus’ retornaram mais acesos.   Os argentinos, com o placar favorável, na manha, mais fechadinhos mas com todo o apetite, marcando em cima, atacando em pontadas sempre perigosas.

 Por volta dos 18/20 minutos saiu Di Maria, já sem condições físicas, e entrou Acuña, mais defensivo, mais pegador, manhoso, rodado. Scaloni parecia já querer   administrar a vantagem. Deschamps pôs os jovens e velozes  Kamavinga e Coman em campo,  saíram Theo Hernandez e Griezmann (apagado, bem marcado). Aos 30’, o primeiro chute de Mbappé, a essa altura já pelo meio, de centroavante, bola por cima. Mas… o jogo só acaba quando termina.

 A reação francesa

 – Aos 34’, Thuram ganhou no corpo, pela esquerda, invadiu a área e foi empurrado por  Otamendi, na área; o árbitro marcou pênalti.

– Gol! 2 x 1, França!  Mbappé bateu forte, rasteiro, no cantinho. Martinez foi e não achou.  Nem deu tempo de respirar e…

– Gol! 2 x 2 Mbappé!  Golaço! Troca de passes, Mbappé tabela com Thuram e já na área adversária, descaindo, pegou de primeira, um chutaço que passou por baixo do goleiro Martinez. Em dois lances apenas e a partida estava empatada. Ninguém mais acreditava.

  Ficou dramático. A França melhor no final, na pressão…

 Aos 48’, Coman entrou trançando pela esquerda, a finalização de Tchouaméni, e o goleiro Matinez evitou a virada. Os franceses pareciam mais inteiros. Aos 52’, Messi livrou-se da marcação e despejou de canhota, Lloris espalmou elasticamente por cima. Adrnalina pura. Jogaço!, 2 x 2 nos 90 minutos com emoção até o fim.

Virou um tango, de Gardel – que nasceu na França e virou ídolo na Argentina.

Prorrogação

  Trinta minutos mais, dois tempos de 15’. Pernas e coração no bico da chuteira. Saiu Rabiot, mortinho, entrou Fofana, enxuto. Ritmo mais cadenciado, mas a pegada continuava forte, marcação dura. Virou um lá e cá eletrizante. Scaloni mexeu: Paredes e Lautaro em campo, saíram Alvarez e De Paul, exausto. Aos 14’, o zagueiraço Upamecano salvou, duas vezes. Aberto e imprevisível. Intervalo…

 Logo no recomeço, Messi arriscou, Lloris espalmou no rodapé.

– Gol! 3 x 2 Argentina! Messi. Aos 19’, na pressão dos sul-americanos, chute cruzado e forte da direita, linha de fundo, ma defesaça de Lloris, mas no rebote Messi completou na pequena área, feito um centroavante, e vibrou como nunca.

  Não demorou e, do outro lado, aos 24’, um chute de Mbappé, sempre ele, chamando a responsa, a bola bateu e desviou no cotovelo de Paredes; o árbitro, em cima, bem colocado, marcou o pênalti.

 – Gol! 3 x 3, Mbappé, bateu firme, no mesmo canto da penalidade anterior, empatou e se isolou ali como o artilheiro da copa, com 8 gols.

  Nos minutos finais,  Mbappé cruzou e Tchouameni testou de raspão, a bola tirou tinta do poste de Martinez, batido. Lautaro perdeu boa chance de um lado e, na sequência, do outro, Kolo Mouani entrou livre após uma ratada do becão Romero, ficou de cara, encheu o pé e Martinez salvou, saindo para fechar o ângulo do atacante e desviando com a ponta da chuteira; ali o goleiro salvou o desempate francês, fazendo a defesa que garantiria o título. Uma final de cinema.

Daí, com o empate…  

  A decisão do título saiu na cobrança de tiros livres da marca do pênalti. Haja coração!

 Deu Argentina, 4 x 2. O goleiro Martinez pegou a cobrança de Koman e Tchouameni chutou para fora. Pelos argentinos, fizeram Messi, Dibala, Paredes e Montiel.

 Uma festa albiceleste que os catarianos jamais esquecerão. Feriadão na Argentina.

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Escalações

 – A ‘Albiceleste’ Argentina: Martinez, Molina (Montiel), Otamendi, Romero e Tagliafico (Paredes); Di Maria (Acuña) De Paul (Pezella), Enzo Fernandez e Mac Allister; Messi e Alvarez (DI Bala). Treinador, Lionel Scaloni.

  Um assombro a partida de Martinez, Mac Allister, Di Maria, Enzo…

– “Les Bleus’ / França : Lloris, Koundé, Varane, Upamecano e Theo Hernandez (Thuram);  Tchouaméni  e Rabiot (Kamavinga); Dembelé (Koman), Griezmann (Kamavinga), Mbappé e Giroud (Kolo Mouani). Treinador, Didier Deschamps.

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– Curioso: branquelos latinos contra negões europeus. Mundão virado, não?

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 Os destaques FIFA

– A Bola de Prata, do ‘’craque jovem revelação”, foi entregue ao apoiador Enzo Fernandez, de 21 anos, 1m80, que atua no Benfica. Compôs um meio-campo extraordinário, ao lado de outro jovem, Mac Allister, que fez uma copa exemplar, e do ‘milongueiro’ De Paul, indispensável.

– O melhor goleiro, luva de ouro foi para o argentino Martinez, autor e ator de uma defesa espetacular no final da prorrogação, cara a cara com o avante francês Kolo Mouani – valeu como um gol, garantiu o troféu de campeão para Argentina.

– O Bola de Prata foi para o veterano meia croata Modric (37 anos, do Real Madrid), incansável. Arrebentou contra o Brasil, deu a medalha de bronze à Croácia.

 – O melhor treinador foi Lionel Scalloni, 44 anos, argentino. Deu show de inteligência, compreensão do jogo, táticas, estratégias, coragem. Jamais repetiu a mesma equipe em campo, cada partida uma leitura diferenciada.

 – O artilheiro, chuteira de ouro da competição para o francês Mbappé, oito gols marcados, três na final. Tem apenas 23 anos, algumas copas pela frente.

 – O Bola de Ouro, o craque da copa, foi Lionel Messi, 37 anos, capitão da campeã albiceleste, um gênio, verdadeiro sucessor de Maradona no trono dos semideuses argentinos. Merecido. A Copa foi dele, pra ele. Até pela trajetória inteira dele, sua carreira, suas conquistas, seis vezes eleito o melhor do mundo, Viva Messi!

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 – A seleção de Marrocos, treinada por Walid Regragu, foi a grande e grata surpresa da Copa do Catar, formada por atletas que, na sua maioria, atuam nos times da Europa. Destaques para o goleiro Bono, o lateral Hakimi (o melhor da Copa), o meio-campista Amrabat, o meia atacante Ounahi, e os avantes Ziyech, En Nesyri e Boufal.     …

 

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  A próxima Copa do Mundo, em 2026, com mais de 40 seleções, acontecerá em três países da América do Norte: Estados Unidos, México e Canadá.  Distâncias imensas, climas e culturas diferentes.

 

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        “Um dia, antes do derradeiro apito,

         a bola há de morrer como um gol

         no fundo do meu coração”

                                               (Armando Nogueira, 1927-2010)

 

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Zédejesusbarreto  dezembro2022

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