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terça-feira, 22 outubro, 2024

COPA DO MUNDO DE 1990 NA ITÁLIA-DEU ALEMANHA

HISTORIANDO AS COPAS – XIV

  Zédejesusbarreto

  1990 – na Itália               

              O LAZARONÊS DA ERA DUNGA                                                               

                “Jogo se ganha em campo, mas títulos se vence fora de campo”

Osório Villas Boas comenta final Bahia x Inter - YouTube

 (Osório Villas-Boas, eterno presidente do Bahia)

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  Para os baianos e todos os estudiosos dos meandros do futebol, o Brasil começou a perder a Copa do Mundo de 90 ainda em 89, na Bahia, antes da estreia da seleção na Fonte Nova pela Copa América, sob comando do treinador Sebastião Lazaroni (mineiro de Muriaé, 38 anos, ex-treinador do Vasco em 87/88), indicado e bancado pelo amigo Eurico Miranda, então Diretor de Futebol da CBF, entidade já presidida por Ricardo Teixeira, o genro de Havelange, o poderoso da FIFA.

Evaristo de Macedo relembra campanha campeã de 1988 - Jornal Correio

 O Bahia, sob comando de Evaristo de Macedo, acabara de vencer seu segundo título de Campeão Brasileiro e tinha na equipe uns quatro jogadores que mereciam estar na Seleção: Paulo Rodrigues, Zé Carlos, Bobô e Charles – até porque estavam jogando mais do que alguns já selecionados por Lazaroni. Para agradar (ou tapear) os baianos e encher a Fonte Nova, ganhar dinheiro, convocaram o centroavante Charles, um dos ídolos da torcida, mas, às vésperas da estreia, por conta de a Sul-Americana só permitir a inscrição de 22 atletas, Charles, o intruso nordestino sobraria, seria cortado. Burrice ou trapalhada da CBF e do treinador, mal a notícia do corte de Charles vazou instalou-se um clima de revolta, protestos dos baianos, e o presidente do clube Campeão Brasileiro, Paulo Maracajá, foi de madrugada ao hotel Quatro Rodas, onde a delegação estava hospedada, e de lá saiu arrastando Charles pelo braço, bradando nos microfones, gerando uma animosidade que se alastrou entre torcedores e toda mídia esportiva local. Vaias, xingamentos, ameaças, rejeição de todas as formas ao treinador Lazaroni, CBF, seleção e atletas à serviço da seleção. Os baianos ‘trocavam de mal’ com o escrete, o ambiente sujou, ficou insustentável.

 Pior, em campo, com um gramado enlameado, sob apupos, a seleção não conseguiu mostrar futebol na Fonte Nova. Mas Lazaroni foi mantido por Eurico Miranda e sua turma, os atletas o apoiaram, a delegação foi bem acolhida em Recife, na sequência, e terminou vencendo a Copa América no Maracanã, numa final contra o Uruguai, 1 x 0, no dia 16 de julho de 86. Há 40 anos não vencíamos um título sul-americano, o último tinha sido em 1949, no Rio.

  Lazaroni, emocionado e agradecido, ficaria refém, sentia-se devedor ao grupo de jogadores que levaria à Copa. Mas, por conta dessas circunstâncias, perdera o comando da ‘tropa’, e a campanha na Itália, em 90, teve ares de um convescote de turistas amigos em férias, o treinador metido até em briga por premiações e grana de publicidade, o plantel a receber familiares e amigos, sair à noite, tudo correndo frouxo.

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Maracanã: Farsa de Rojas ainda rende. Ex-goleiro disse que 'Rose fogueteira' era inocente. Por Wladimir Miranda - Notícias - Terceiro Tempo

  Rose, a fogueteira

  Os jogos eliminatórios sul-americanos para a Copa/90 foram fáceis, mas ficou marcado com o episódio da decisão contra o Chile, no Maracanã. O Brasil vencia, 1 x 0, gol de Careca, o que garantia a classificação. Daí, aos 25 minutos do segundo tempo, um foguete sinalizador – desses usados em navegação – foi atirado das arquibancadas  na direção das traves do Chile, defendidas pelo bom e ‘metido a esperto’ goleiro Roberto Rojas, que desabou no gramado, envolvido pela fumaça, como se tivesse sido atingido. Os atletas chilenos o acudiram, tinha sangue no rosto do goleiro, carregando-o para os vestiários, e não voltaram mais a campo. O árbitro argentino Juan Lostau esperou 20 minutos e acabou o jogo.

  Depois, todos ficaram sabendo e o próprio Rojas confessou que o sangue fora resultado de um corte premeditado feito pelo atleta com uma gilete que levara escondida na luva. O Chile perdeu o jogo, os pontos, foi punido pela FIFA, fiucou quatro anos de fora das competições oficiais e Rojas foi banido do futebol – depois, perdoado, tornou-se treinador de goleiros do São Paulo.

 A moça que atirou o sinalizador em campo, Rosemary Mello do Nascimento Barcelos da Silva, de 24 anos, casada, mãe de um filho de 10 meses, coitada, foi presa em flagrante e alcunhada de ‘a fogueteira’. Depois, a sabida Rose aproveitou-se do insólito episódio e faturou boa grana posando nua para uma revista masculina. Ora pois.

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 Bolinha murcha

 Foi uma Copa tecnicamente fraca, com 12 empates, muitas decisões por penalidades, uma média de gol baixíssima, muitos 1 x 0, partidas modorrentas e pouco brilho individual.

  Vivíamos a chamada ‘era dunga’, de um futebol retranqueiros e brucutu, a seleção canarinho embalada pelo “lazaronês”, a empolada e vazia linguagem do treinador quando falava aos microfones – coisas como ‘galgar parâmetros’, ‘interação sinérgica’, ‘lastro físico’… – e que os atletas nem compreendiam. Inventou um sistema de jogo com três zagueiros de área – um líbero, Mauro Galvão -, dois alas que não avançavam, um meio campo com Dunga espanando, dois ou três meias de totó, toques curtos laterais, e uma equipe de bolinha murcha – a ‘era Dunga’. O guerreiro Dunga, bem melhorado tecnicamente, se redimiria na Copa de 94, nos EEUU, levantando o troféu, já sob comando de Parreira. Outro capítulo.

O plano econômico que confiscou a poupança dos brasileiros - YouTube

  Poder ‘collorido’ e povo à mingua

  Eleito pelo voto livre e direto do povo, fruto da tão almejada redemocratização do país, assumiu a Presidência da República em 15 de março de 1990 o carioca-alagoano Fernando Affonso Collor de Mello, de 40 anos, vendido ao eleitor como o ‘caçador de Marajás’. Lula foi derrotado por ele nas urnas. Só que, logo que se viu sentado no ‘trono’ do Alvorada/Planalto, o moço atlético e político astuto instituiu e implantou o chamado “Plano Brasil Novo” ou ‘Plano Collor’, que, de cara, congelou ou se apropriou de 80% da poupança/economia dos brasileiros, deixando a nação inteira confusa e perplexa, quebrada. Ainda mais que ninguém entendia o que queria explicar e onde queria chegar a ministra da Economia, Fazenda e Planejamento do governo, dona Zélia Cardoso de Mello.

  A inflação anual bateu em mais de 1.470%, o salário mínimo valendo 52 dólares, ou, mais precisamente 8.836,82 cruzeiros. A economia no descontrole, a nação no olho de um furacão, o povo vivendo um turbilhão de incertezas.  Chitãozinho & Chororó, Leandro & Leonardo, sertanejos no auge.  Em 1992, depois de mil presepadas em Brasília, farinhadas, sessões cabalísticas, denúncias de corrupção e indignação popular, Collor foi derrubado no Congresso através de um impeachment, foi impichado – como bem traduziu o povo.

COPA DO MUNDO 1990 ITÁLIA - COPA DO MUNDO DE FUTEBOL DA FIFA - História das Copas do Mundo de futebol da FIFA

  Festa na Itália  

  A Itália, a ‘bota’ da Europa, que tinha realizado a Copa de 1934, ofereceu estádios em ótimas condições de jogo em 12 cidades, de norte a sul – Milão, Roma, Turim, Nápoles, Bari, Cagliari, Florença, Verona, Udine, Palermo, Gênova e Bolonha. O Brasil começaria jogando em Turim.

 O mascote da Copa foi uma criação animada por computação, pela primeira vez – um(a) boneco(a) de nome Ciao com o corpo formado por 23 cubos com as cores da bandeira italiana – verde, vermelho e branco – e a cabeça era uma bola de futebol.

 O cartaz da competição foi obra do pintor Alberto Burri, de 75 anos – mostrava o histórico Coliseu Romano (onde os gladiadores se enfrentavam), em cor cinza, sobre um gramado verde do campo de futebol.

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As limitações não impediram Salvatore Schillaci de ser o melhor jogador da Copa de 1990 - Calciopédia

 A grande novidade da Itália, no campo de jogo, foi a explosão meteórica, fugaz do artilheiro “Totó” Schillaci (seis gols na competição), que virou xodó da torcida local, e o goleiro Zenga, que bateu um recorde, 517 minutos sem levar um só gol na Copa.

 No mais, lampejos da Colômbia do cabeludo meia Valderrama, do espalhafatoso goleiro Hiquita e o brilho surpreendente do avante camaronês Roger Milla, de 38 anos.

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     A rota brasileira

Brasil x Suécia| Fase de grupos | Copa do Mundo FIFA de 1990, na Itália | Jogo Completo

   – O Brasil estreou vencendo a Suécia (2 x 1) no Stadio Delle Alpi, em Turim, na noite de domingo, 10 de junho. Dois gols de Careca, o primeiro aos 40 minutos, recebendo um lançamento de Branco em profundidade, driblando o goleiro Ravelli e comemorando com dancinha. O segundo, aos 18 do segundo tempo, escorando cruzamento de Müller. Brolin diminuiu aos 34’, passando fácil por Ricardo Gomes e Mauro Galvão, o frouxo miolo de zaga de Lazaroni.

A Costa Rica alvinegra na Copa de 1990 ~ O Curioso do Futebol

 – A Costa Rica, que tinha vencido a Escócia na estreia (1 x 0), com os escoceses Rod Stewart (músico) e Sean Connery (ator) presentes, seria derrotada pelo Brasil (1 x 0), ainda em Turim, na tarde de um sábado, 16 de junho, com um gol de voleio de Müller, a bola desviando no zagueiro Montero, deslocando o goleiro Conejo.

– O terceiro jogo na fase de classificação marcou a estreia do centroavante Romário, que pouco produziu e deu lugar a Müller por volta dos 20 minutos do segundo tempo. O Baixinho ainda tentava se recuperar de uma fratura grave no tornozelo sofrida três meses antes, já jogando na Holanda – foi convocado na tora, a pedido de Lazaroni, com seu fisioterapeuta particular, o Filé, a tiracolo. O gol brasileiro foi de Müller, completando com oportunismo um chute travado de Careca, aos 37 minutos da segunda etapa.

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 O Brasil se classificava para as oitavas de final invicta, mas sem brilho. Pegaria a Argentina de Diego Maradona que, a despeito da idolatria em Nápoles (ganhou dois Scudettos para o Nápoli, onde jogava ao lado dos brasileiros Careca e Alemão), já não era mais o mesmo da extraordinária Copa do México/86. Estava já meio parrudinho, por conta da vida desregrada fora dos gramados, e padecia com um edema no tornozelo, atuando no sacrifício, às vezes, à base de muita fisioterapia e infiltrações..     

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O dia que a Itália teve o coração partido pela Argentina em Nápoles na Copa de 1990

  Deu Maradona&Caniggia

  Sim, até por conta da rivalidade e pela mediana equipe argentina – que tinha um bom goleiro, exímio pegador de pênaltis, Goycochea, mais Burruchaga, Caniggia e o Camisa 10  Diego -, o Brasil faria seu melhor jogo até então na Copa. Dominamos a primeira etapa, desperdiçamos algumas chances e os hermanos na moita, se defendendo, sem conseguir penetrar na defensiva brasileira. Tudo ia bem, sob controle, até por volta dos 30 minutos do segundo tempo, quando Maradona decidiu, em 10 segundos:

 – Recebeu livre um rebote defensivo, ainda no grande círculo argentino, livrou-se fácil de Alemão que, mui amigo, evitou parar a jogada com falta, escapou de um carrinho sem rodas de Dunga, invadiu pelo meio com a bola dominada e os olhos acesos, driblou Ricardo Rocha e, quando Mauro Galvão e Ricardo Gomes saíram estabanados ao mesmo tempo pra cima dele, já na meia lua, ele deu um tapinha mais na frente, pra esquerda, onde Caniggia penetrava livre. O atacante de cabelos louros driblou Taffarel com calma e escorou para o gol vazio. Bastou.

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Água benta

 De mais interessante no jogo aconteceu a cena da famosa milongagem dos argentinos, oferecendo uns goles de ‘água batizada’ a Branco, na lateral do campo, já perto do intervalo. Branco tomou a água da garrafinha e chegou nos vestiários como se tivesse ‘mamado’, bêbado. Maradona confessaria depois, às gargalhadas, que a água ‘benta’ fora encomendada para o lateral Branco, que estava voando, e para o meia Alemão (amigo e companheiro dele no Nápoli) que estava encarregado de marcá-lo.

Mas… que substância os argentinos puseram naquela água?

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Fui rotulado injustamente', diz Lazaroni, 30 anos após Copa de 1990 - Esportes - R7 Futebol

 Os ‘amigos’ de Lazaroni:

 – Taffarel e Acácio (goleiros); Jorginho, Zé Carlos e Branco (laterais); Ricardo Gomes, Mozer, Aldair, Ricardo Rocha e Mauro Galvão (zagueiros); Dunga, Alemão, Bismarck, Mazinho, Valdo e Silas (meio-campistas); Careca, Romário, Silas, Bebeto, Müller, Renato e Tita (atacantes).

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 A recepção

 No dia 27 de junho, uma quarta-feira, a delegação brasileira desembarcou de volta ao Brasil, sendo recebida no Galeão/ RJ por torcedores xingando e jogando moedas e cédulas. Lazaroni, protegido por Eurico, não encarou, escapou pelos fundos e, no dia seguinte, entregou o cargo.

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 Renovação era a palavra de ordem e o ex-craque Paulo Roberto Falcão assumiria o comando logo, ainda em julho, com a missão de mudar tudo. Tinha o aval da grande imprensa, dos jogadores, e os torcedores gostavam dele, era um ídolo.

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 Vitória insossa alemã  

 Alemanha e Argentina fariam a réplica da final da copa anterior, vencida pelos latino-americanos, quando Maradona estava no auge. O jogo foi no Olímpico de Roma, na noite de domingo, dia 8 de julho, com mais de 73 mil pessoas no estádio.

 Uma partida morna, sem grandes emoções, decidida com um pênalti duvidoso em favor dos europeus que os argentinos reclamam até hoje, óbvio.

 Os platinos tinham chegado àquela final por conta do goleiro Goycochea, pegador de pênaltis e alguns lampejos, aqui e ali. Os alemães, como sempre, obstinados, bem treinados por Beckenbauer, com o meia organizador Mathäus, um defesa dura e bem postada, dois avantes perigosos que atuavam na Itália: Völler e Klinsmann. Arbitragem mexicana, Edgardo Codesal no apito.

  O primeiro tempo foi indigno de uma final, medroso,  nada aconteceu. Aos 36 minutos do segundo tempo, o veloz Völler adiantou a bola e tropeçou na perna de Sensini, já na área argentina, o árbitro marcou pênalti e foi peitado, empurrado e xingado pelos argentinos por quase três minutos. Os alemães só espiando e escolhendo quem iria bater e como, porque o goleiro Goycochea era um especialista em defender pênaltis.

 Todos esperavam que Mathäus (eleito o Craque da Copa) ou o goleador Littbarski fizesse a cobrança, mas Beckenbauer, esperto, escalou o zagueiro Brehme, que chutou rasteiro, forte, na cantinho direito; o goleiro atirou-se no canto certo mas não alcançou.  A Alemanha ganharia assim o seu terceiro título mundial, dessa vez invicta, sem perder nenhuma partida.

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Alemanha Campeã da Copa de 1990 na Itália - Enciclopédia Global™

 Os Campeões:

– Illgner, Berthold, Reuter, Augenthaler, Brehme, Kohler, Buchwald, Hässler, Mathäus, Littbarski, Völler, Klinsmann.  Franz Beckenbauer, treinador.

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  A Copa de 1994 seria no verão quente dos Estados Unidos da América. Outro barato.

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Curiosidades:

 – O placar mais repetido da Copa, 16 vezes, foi 1 x 0, inclusive na final.

Maradona, da Argentina, tenta passar por Bergomi, da Itália, em jogo da Copa do Mundo 1990 - Esportes - Estadão

 – O jogo Itália x Argentina, pelas semifinais, foi disputado em Nápoles, onde Maradona era endeusado e foi decidido com um pênalti cobrado por ele, que jogou com raiva. Na véspera, os tiffosi, torcedores italianos fanáticos, provocativos, queimaram uma bandeira argentina na porta do hotel onde os latinos estavam hospedados. Maradona, indignado, jurou vingança. A partida terminou empatada (1 x 1), sem gols na prorrogação e foi decidida na cobrança de tiros da marca penal. Goycochea defendeu as cobranças de Donadoni e Serena.

Muro de Berlim: por que foi erguido, história, queda - Brasil Escola

 – Em outubro de 1990 aconteceu a unificação das Alemanhas / Ocidental e Oriental. Uma nova realidade geopolítica na Europa.

 – A Iugoslávia, em 1991, começou a ser repartida em países independentes. Primeiro, a Eslovênia e a Croácia. Depois, já em 2006, Montenegro separou-se da Sérvia; em 2008, Kosovo.

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  Zedejesusbarreto 24out2022

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