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quinta-feira, 28 março, 2024

Como a Rússia está a preparar-se para a III Guerra Mundial

por The Saker

Recentemente publiquei um artigo em que tentava desmistificar alguns mitos populares acerca da guerra moderna . A julgar por muitos comentários que recebi, tenho a dizer que os mitos em causa ainda estão vivos e actuantes e que falhei claramente em convencer muitos leitores. O que me proponho a fazer hoje é examinar o que a Rússia realmente está a fazer em resposta à ameaça crescente do ocidente. Mas primeiro tenho de definir o contexto ou, mais precisamente, redefinir o contexto no qual a Rússia está a operar. Vamos começar por examinar as políticas anglo-sionistas em relação à Rússia.

As acções do ocidente:

O primeiro ponto nesta lista é, obviamente, a conquista pela NATO de toda a Europa do Leste. Falo em conquista porque é exactamente aquilo que é, mas uma conquista alcançada de acordo com as regras da guerra do século XXI, as quais defino como “80% informacional, 15% económica e 5% militar”. Sim, eu sei, os bons sujeitos da Europa do Leste estavam a fantasiar acerca de serem subjugados pelos EUA/NATO/UE/etc – mas e daí? Qualquer um que tenha lido Sun Tzu reconhecerá imediatamente que este profundo desejo de ser “incorporado” dentro da “Família”(“Borg”) anglo-sionista não é senão o resultado de uma auto-identidade esmagada, um complexo de inferioridade profundamente arraigado e, portanto, uma rendição que nem mesmo tem de ser induzida por meios militares. No final das contas, não faz diferença o que os habitantes locais pensam que estão a alcançar – eles agora são sujeitos do Império e os seus países colónias mais ou menos irrelevantes na beira do Império Anglo-Sionista. Como sempre, a elite compradora local está agora a borbulhar com orgulho por ser, ou assim pensa ela, aceite como igual pelos seus novos mestres (pense em Poroshenko, Tusk ou Grybauskaite) – os quais lhes dão coragem para ladrar a Moscovo por trás da protecção da NATO. Que lhes faça bom proveito.

O segundo é a colonização agora total da Europa Ocidental dentro do Império. Enquanto a NATO se movia para o Leste, os EUA também ganhavam controle mais profundo da Europa Ocidental a qual é agora administrada para o Império através do que o antigo presidente da municipalidade de Londres denominou as ” grandes supinas protoplásmicas gelatinas inverterbradas ” – os burocratas sem rosto estilo François Hollande ou Angela Merkel.

Em terceiro lugar, o Império tem dado apoio total a criaturas semi-demoníacas que vão desde al-Khattab a Nadezhda Savchenko. A política do ocidente é clara como cristal e simples ao extremo: se é anti-russo nós apoiamos. Esta política é melhor exemplificada por uma campanha de demonização de Putin e da Rússia a qual, na minha opinião, é muito pior e muito mais histérica do que qualquer coisa vista durante a Guerra Fria.

Em quarto, o ocidente tem efectuado um certo número de movimentos militares altamente perturbadores incluindo a instalação dos primeiros elementos de um sistema anti-míssil na Europa do Leste, o envio de várias formas de forças de reacção rápida, a instalação de algumas unidades blindadas, etc. A NATO agora avançou com a instalação de postos de comando, os quais podem ser utilizados para apoiar a actuação de uma força de reacção rápida.

Qual é a lógica de tudo isto?

Neste exacto momento, não grande coisa realmente. Sim, o movimento da NATO sobre as fronteiras russas é altamente provocatório, mas primariamente em termos políticos. Em termos puramente militares, não só isto é uma ideia muito má (ver clichênº 6 aqui), como a dimensão das forças reais instaladas é, na realidade, pequena: o sistema ABM actualmente instalado pode, na melhor das hipóteses, esperar interceptar uns poucos mísseis (10-20 conforme as suas hipóteses) quando para as forças convencionais elas são da dimensão de batalhão (mais ou menos 600 soldados mais apoio). Portanto agora não há categoricamente nenhuma ameaça militar à Rússia.

Então por que os russos estão tão claramente inquietos?

Porque os actuais movimentos dos EUA/NATO podem bem ser apenas os primeiros passos de um esforço muito mais amplo o qual, com tempo suficiente, pode começar a apresentar um perigo muito real para a Rússia.

Além disto, a espécie de retórica vinda agora do ocidente é não só militarista como também russofóbica, muitas vezes absolutamente messiânica. A última vez que o ocidente ateou a sua crónica “síndrome messiânica” velha de 1000 anos a Rússia perdeu 20 (a 30) milhões de pessoas. Assim os russos podem ser desculpados se estão a prestar uma grande atenção ao que a propaganda anglo-sionista diz acerca deles.

Os russos estão ansiosos principalmente com a recolonização da Europa ocidental. Longe estão os dias em que homens como Charles de Gaulle, Helmut Schmidt ou François Mitterrand eram responsáveis pelo futuro da Europa. Apesar de todas as suas falhas muito reais, eles pelo menos eram patriotas e não simples administradores coloniais dos EUA. A “perda” da Europa Ocidental é muito mais preocupante para os russos do que o facto de ex-colónias soviéticas na Europa do Leste estarem agora sob a administração colonial dos EUA. Por que?

Olhe para isto do ponto de vista russo.

Todos os russos vêem que o poder estado-unidense está em declínio e que o dólar, mais cedo ou mais tarde, gradualmente ou subitamente, perderá o seu papel como divisa principal de reserva e de intercâmbio no planeta (este processo já começou). Dito simplesmente – a menos que os EUA encontrem um meio para mudar dramaticamente a actual dinâmica internacional – o Império Anglo-Sionista entrará em colapso. Os russos acreditam que aquilo que os americanos estão a fazer é, na melhor das hipóteses, utilizar tensões com a Rússia para ressuscitar uma adormecida Guerra Fria v2 e, na pior, para realmente começar uma guerra real com tiros na Europa.

Assim, temos um Império em declínio com uma necessidade vital de uma grande crise, uma Europa ocidental sem espinha para defender seus próprios interesses, uma Europa do Leste subserviente a implorar para tornar-se um campo de batalha maciço entre o Leste e o Oeste e uma retórica messiânica, raivosamente russofóbica como pano de fundo para um aumento de posicionamentos militares na fronteira russa. Será realmente surpresa para alguém que os russos estejam a considerar tudo isso muito seriamente ainda que neste momento a ameaça militar seja basicamente inexistente?

A reacção russa

Assim, vamos examinar a reacção russa à posição do Império.

Primeiro, os russos querem deixar absolutamente certo que os americanos não caiam na ilusão de que uma guerra em plena escala na Europa seria como a Segunda Guerra Mundial, na qual os EUA sofreram apenas uns poucos e minúsculos, quase simbólicos, ataques por parte do inimigo. Uma vez que uma guerra em plena escala na Europa ameaçaria a própria existência do estado e da nação russa, os russos estão agora a tomar medidas para garantir de modo absoluto que, se isso acontecesse, os EUA pagariam um preço imenso por tal ataque.

Segundo, os russos estão agora a assumir que uma ameaça convencional do ocidente pode materializar-se no futuro previsível. Eles portanto tomam as medidas necessárias para conter essa ameaça convencional.

Terceiro, uma vez que os EUA parecem ter a decisão firme de instalar um sistema de mísseis anti-balísticos não só na Europa como também no Extremo Oriente, os russos estão a tomar as medidas para derrotar ambos e contornar este sistema.

O esforço russo é vasto e complexo. Ele cobre quase todos os aspectos da força planeadora russa, mas há quatro exemplos que, penso eu, ilustram melhor a determinação russa de não permitir que um 22 de Junho de 1941 aconteça outra vez:

  • A recriação do Primeiro Exército de Tanques da Guarda (First Guards Tank Army)(em andamento)
  • A instalação do sistema de mísseis táctico-operacionais Iskander-M (feito)
  • A instalação do ICBM Sarmat (em andamento)
  • A instalação do torpedo estratégico Status-6 (em andamento)

    A recriação do Primeiro Exército de Tanques da Guarda

    É difícil acreditar, mas o facto é que entre 1991 e 2016 a Rússia não tinha nem uma única grande formação (do tamanho de divisão ou maior) no seu Distrito Militar Ocidental. Umas poucas brigadas, regimentos e batalhões os quais nominalmente eram chamados de um “Exército”. Dito simplesmente – a Rússia claramente não acreditava que houvesse uma ameaça militar convencional do ocidente e portanto ela nem mesmo se incomodou em posicionar qualquer espécie de força militar significativa para defender-se de uma ameaça inexistente. A propósito, o facto também deveria informar-nos de tudo o que é preciso saber acerca de planos russos para invadir a Ucrânia, Polónia ou os países bálticos: é um absurdo total. Isto agora mudou dramaticamente.

    A Rússia anunciou oficialmente o Primeiro Exército de Tanques da Guarda (uma formação com uma história prestigiosa e muito simbólica ). O Exército de Tanques da Guarda agora incluirá a 4ª Divisão de Tanques “Kantemirovskiaia” da Guarda; a 2ª Divisão “Taman” de Rifles Motorizada da Guarda; a 6ª Brigada de Tanques; a 27ª Brigada Motorizada de Rifles de Sebastopol e muitas unidades de apoio. O Quartel-General deste Exército será localizado em Odinstovo, subúrbio de Moscovo. Actualmente o Exército está equipado com tanques T-21B3 e T-80, mas eles serão substituídos pelo novo e revolucionário tanque T-14 Armata enquanto os actuais veículos de combate da infantaria transportadores de tropas serão substituídos pelos novos APC e IFV . No ar, estas unidades blindadas serão protegidas e apoiadas pelos Mi-28 e helicópteros de ataque Ka-52. Sem dúvida isto será uma força muito grande, exactamente a espécie de força necessária para esmagar atacantes inimigos (a propósito, a 1TGA participou da batalha de Kursk). Estou certo de que no momento que a 1TGA estiver plenamente organizada tornar-se-á a mais poderosa formação blindada em qualquer lugar entre o Atlântico e os Urais (especialmente em termos qualitativos). Se as actuais tensões continuarem ou mesmo piorarem, os russos poderiam ainda aumentar a 1TGA para um tipo de “Exército de Choque” do século XXI com mobilidade acrescida e especializando-a em ruptura profunda das defesas do inimigo.

    A instalação do sistema táctico-operacional de mísseis Iskander-M

    O novo sistema de mísseis Iskander-M é uma arma formidável por qualquer critério. Se bem que tecnicamente seja um míssil táctico de alcance curto (alcance abaixo dos 1000km, o Iskander-M tem um alcance oficial de 500km), ele também pode disparar o míssil R-500 que tem a capacidade de atacar num alcance intermediário/operacional (mais de 100km, o R-500 tem um alcance de 2000km). Ele é extremamente preciso, tem capacidades anti-ABM avançadas, voa a velocidades hipersónicas e é praticamente indetectável sobre o terreno (ver mais pormenores aqui ). Este será o míssil encarregado de destruir todas as unidades e equipamentos que os EUA e NATO posicionaram avançadamente na Europa do Leste e, se necessário, limpar o caminho para a 1TGA.

    A instalação do ICBM Sarmat

    Nem a 1TGA nem o míssil Iskander-M ameaçarão de qualquer modo o território dos EUA. A Rússia precisava portanto de alguma espécie de arma que realmente infundisse temor ao Pentágono e à Casa Branca do mesmo modo que o famoso RS-36 Voevoda (conhecido como SS-18 “Satan” na classificação estado-unidense) o fazia durante a Guerra Fria. O SS-18, o mais poderoso ICBM alguma vez desenvolvido, era bastante assustador. O RS-28 “Sarmat” ( SS-X-30 na classificação da NATO) traz o terror a nível totalmente novo.

    O Sarmat é nada menos que espantoso. Ele será capaz de transportar 10-15 ogivasMIRVed as quais serão entregues numa trajectória dita “deprimida” (sub-orbital) e que permanecerão manobráveis a velocidades hipersónicas. O míssil não terá de utilizar a típica trajectória sobre o Pólo Norte mas será capaz de atingir qualquer alvo em qualquer parte do planeta a partir de qualquer trajectória. Todos estes elementos combinados tornarão completamente impossível interceptar o próprio Sarmat e suas ogivas.

    O Sarmat também será capaz de transportar ogivas convencionais hipersónicas lu-71 capazes de um “ataque cinético” o qual poderia ser utilizado para atingir um alvo fortificado inimigo num conflito não nuclear. Isto será tornado possível pela espantosa precisão das ogivas Sarmat as quais, graças a uma recente fuga russa, agora sabemos ter um CEP de 10 metros:

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    Os silos do Sarmat serão protegidos por “medidas de protecção activa” sem igual, as quais incluirão 100 armas capazes de disparar uma “nuvem metálica” de 40 mil “balas” de 30mm a uma altitude de até 6km. Os russos também planeiam proteger o Sarmat com seus novos sistemas de defesa aérea S-500. Finalmente, o tempo de preparação para o arranque do Sarmat estará abaixo dos 60 segundos graças a um sistema de lançamento altamente automatizado. O que tudo isto significa é que o míssil Sarmat será invulnerável no seu silo, durante o seu voo e na reentrada nas partes mais baixas da atmosfera.

    É interessante notar que enquanto os EUA fizeram um grande alarido quanto ao seu planeado sistema Prompt Global Strike , os russos já haviam começado a instalar a sua própria versão deste conceito.

    A instalação do torpedo estratégico Status-6

    Recorda-se da “fuga” cuidadosamente encenada em Novembro do ano passado quando os russos “inadvertidamente” mostraram um impressionante torpedo estratégico no horário nobre do noticiário ? Aqui está esta famosa imagem:

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    O que é aqui mostrado é um “veículo submerso autónomo”, o qual tem avançadas capacidades de navegação mas que pode também ser controlado remotamente e pilotado a partir de um módulo de comando especializado. Este veículo pode mergulhar a uma profundidade de até 1000m, a uma velocidade de até 185 km/h e tem um alcance de até 10 mil quilómetros. Ele é entregue por submarinos especialmente configurados.

    O sistema Status-6 pode ser utilizado para alvejar porta-aviões em grupos de batalha, base navais dos EUA (especialmente bases SSBN ) e, na sua configuração mais assustadora, pode ser utilizado para lançar bombas de cobalto de alta radioactividadecapazes de devastar enormes extensões de terra. O sistema de disparo do Status-6 seria uma nova versão do torpedo T-15, o qual teria 24m de comprimento, 1,5m de largura, peso de 40 toneladas e capacidade de lançar uma ogiva de 100 megatoneladas o que a tornaria duas vezes tão poderoso como o mais poderoso dispositivo nuclear alguma vez detonado, a bomba soviética Czar (57 megatoneladas). A de Hiroshima tinha apenas 15 quilotoneladas.

    Recordar que a maior parte das cidades e centros industriais dos EUA estão ao longo da costa, o que os faz extremamente vulneráveis a ataques baseados em torpedos (isto é a proposta de Sakharov da ” bomba tsunami ” ou o sistema Status-6). E, tal como no caso do Iskander-M ou do ICBM Sarmat, a profundidade e velocidade do torpedo Status-6 o tornaria basicamente invulnerável à intercepção.

    Avaliação:

    Não há realmente nada de novo em tudo o que foi dito acima e os comandantes militares dos EUA sempre souberam disto. Primariamente os sistemas de mísseis anti-balísticos dos EUA sempre foram uma fraude financeira, desde a “Guerra das Estrelas” de Reagan até os “ABM anti-iranianos” de Obama. Em primeiro lugar, qualquer sistema ABM é susceptível a “saturação local”: se se tem um número X de mísseis ABM a proteger um espaço de comprimento Y contra um número X de mísseis, tudo o que é preciso fazer é saturar apenas um sector do espaço Y com um monte de mísseis reais ou falsos disparando-os todos junto através de um pequeno sector do espaço Y que o sistema de mísseis ABM está a proteger. E há uma abundância de outras medidas que os russos poderiam adoptar. Eles poderiam colocar apenas um único míssil balístico lançado de submarinos (submarine-launched ballistic missile, SLBM ) no Lago Baikal tornando-o basicamente invulnerável. Já há alguma discussão dessa ideia na Rússia. Outra opção muito boa seria reactivar os ICBM movimentados por ferrovia BzhRK soviéticos. Boa sorte para encontrá-los na imensa rede ferroviária russa. De facto, os russos dispõem de abundantes medidas baratas e eficazes. Querem que liste mais uma?

    Aqui vai!

    Tome-se o míssil de cruzeiro Kalibr visto recentemente na guerra da Síria. Sabia que ele pode ser disparado de um típico contentor comercial, como aqueles que encontra sobre camiões, comboios ou navios? Verifique este excelente vídeo que explica isto:

    Lembre-se simplesmente que o Kalibr pode alcançar qualquer lugar entre os 50km e os 4000km e que pode transportar uma ogiva nuclear. Quão difícil seria para a Rússia instalar estes mísseis de cruzeiro mesmo junto à costa do EUA em navios correntes de contentores? Ou apenas manter uns poucos contentores em Cuba ou na Venezuela? Trata-se de um sistema que é tão indetectável que os russos se quisessem poderiam posiciona-lo ao largo da costa da Austrália para atingir a estação da NSA em Alice Springs, ninguém chegaria a vê-lo.

    A realidade é que a noção de que os EUA poderiam desencadear uma guerra contra a Rússia (ou a China a propósito) e não sofrer as consequências no território continental dos EUA é absolutamente ridícula. Ainda assim, quando ouço toda essa conversa louca de políticos e generais ocidentais fico com a impressão de que estão a esquecer este facto inegável. Francamente, mesmo as ameaças actuais contra a Rússia dão um sentimento de mau planeamento: um batalhão aqui, um outro ali, uns poucos mísseis acolá, uns poucos mais para lá. É como se os governantes do Império não percebessem que é uma ideia muitíssimo má empurrar um urso constantemente quando tudo o que trazem consigo é um canivete de bolso. Por vezes a reacção de políticos ocidentais recorda-me a dos bandidos que tentam assaltar um posto de gasolina com uma arma de plástico ou sem munição e que ficam absolutamente espantados por serem feridos com tiros pelo proprietário ou pela polícia. Esta espécie de banditismo não é senão uma forma de “suicídio pelo polícia”, a qual nunca acaba bem para quem tenta safar-se.

    Assim, algumas coisas têm de ser ditas directamente e sem ambiguidades: políticos ocidentais, é melhor não acreditarem na sua própria arrogância imperial. Até agora, tudo o que as suas ameaças conseguiram foi que os russos respondessem com muitos mas fúteis protestos verbais e um programa em plena escala para preparar a Rússia para a Terceira Guerra Mundial.

    Como já escrevi muitas vezes, os russos temem muito a guerra e farão tudo o que puder para evitá-la. Mas eles também estão prontos para a guerra. Isto é uma característica cultural especificamente russa a qual o ocidente tem interpretado mal um número inumerável de vezes ao longo dos últimos 1000 anos. Repetidamente os europeus atacaram a Rússia só para se encontrarem num combate que nunca teriam imaginado, mesmo nos seus piores pesadelos. Eis porque os russos gostam de dizer que “a Rússia nunca começa guerras, ela só as termina”.

    Há um profundo abismo cultural entre como o ocidente encara a guerra e como os russos o fazem. No ocidente, a guerra é, realmente, “a continuação da política por outros meios”. Para os russos, é uma luta implacável pela sobrevivência. Basta olhar para generais no ocidente: eles são administradores polidos e com boas maneiras muito mais semelhantes a executivos corporativos do que a, digamos, patrões da Mafia. Dê uma olhadela a generais russos (observe por exemplo a parada do Dia da Vitória em Moscovo). Em comparação com seus colegas ocidentais eles parecem quase brutos, porque acima de tudo são matadores implacáveis e calculistas. Não quero dizer isso de um modo negativo – eles muitas vezes são individualmente muito honestos e mesmo gentis e, como todo bom comandante, cuidam dos seus homens e amam seu país. Mas o negócio em que estão metidos não é a continuação da política por outros meios, o negócio deles é a sobrevivência. A todo custo.

    Não se pode julgar um militar nem uma nação pela forma como se comporta quando triunfa, quando está na ofensiva a perseguir um inimigo derrotado. Todos os exércitos parecem bons quando estão a vencer. Só se pode realmente julgar a natureza de um militar, ou de uma nação, no seu momento mais sombrio, quando as coisas são horríveis e a situação pior que catastrófica. Este foi o caso em 1995 quando o regime Eltsin ordenou a militares russos totalmente despreparados, desmoralizados, fracamente treinados, mal alimentados, mal equipados e completamente desorganizados (bem, umas poucas unidades apressadamente reunidas) que tomassem Grozny aos chechenos. Era o inferno na terra. Aqui está um trecho do filme do general Lev Rokhlin num posto de comando organizado às pressas numa cave dentro de Grozny. Ele está tão exausto, sujo e vulnerável como qualquer dos seus soldados. Olhem a cara dele e olhem as caras dos homens em torno dele. Isto é como se parece exército russo quando nas profundezas do inferno, traído pelos traidores que se sentavam no Kremlin e abandonado pela maior parte do povo russo (o qual, lamento recordar aqui, em 1995, na sua maior parte, estava só a sonhar com McDonalds e Michael Jackson).

    Pode imaginar, digamos, o general Wesley Clark ou David Petraeus a combaterem como estes homens o fizeram?

    Examine este vídeo do general Shamanova a ordenar a cessação de actividades ilegais a um político checheno local (não é preciso tradução):

    Shamanov hoje em dia é o Comandante em Chefe das Forças Aerotransportadas cuja dimensão Putin silenciosamente duplicou para 72 mil homens , algo que mencionei antes como altamente relevante, especialmente em comparação com os tépidos níveis de aumentos de força anunciados pela NATO (ver ” Suicídio da UE pela negação da realidade “). Para ter uma ideia do que são as modernas forças aerotransportadas russas, examine este artigo.

    Não é minha intenção glorificar aqui a guerra nuclear ou as Forças Armadas Russas. A razão para este e muitos outros artigos é tentar tocar o alarme quanto ao que está a acontecer nos dias de hoje. Os líderes ocidentais estão bêbados na sua própria arrogância imperial, países que antes eram considerados como manchas menores num mapa sentem-se agora fortalecidos para constantemente provocar uma super-potência nuclear, americanos estão a ser enganados e é-lhes prometido que alguma alta tecnologia mágica os protegeria da guerra enquanto os russos estão seriamente a preparar-se para a III Guerra Mundial porque chegaram à conclusão de que o único meio de impedir essa guerra é deixar absoluta e inequivocamente claro aos anglo-sionistas que eles nunca sobreviverão a uma guerra com a Rússia, mesmo que todos os russos sejam mortos .

    Lembro bem da Guerra Fria. Fiz parte dela. E recordo que a vasta maioria de nós, de ambos os lados, percebia que uma guerra entre a Rússia e o ocidente devia ser evitada a todo custo. Agora fico horrorizado quando leio artigos de oficiais superiores a discutirem seriamente tal possibilidade.

    Leia apenas este artigo, por favor: What would a war between the EU and Russia look like ? Aqui está o que este garoto escreve:

    Para aqueles com inclinação poética, os militares russos parecem mais como uma gigantesca tripulação de piratas do que com um exército regular. Os que dominam são os que têm as espadas mais afiadas e a boca maior, tipicamente alguma escumalha infestada de assassinos que confiam no apoio dos seus cúmplices para fazer qualquer “oficial” impopular marchar sobre a prancha… Ou, mais apropriadamente, parecem os membros da horda cossaca, dirigida pelos guerreiros mais impetuosos… Se bem que estas tropas possam ser muito corajosas, algumas vezes, elas não são eficazes no campo contra uma máquina militar moderna bem regulada e treinada. Em vista disso, é improvável, mesmo impossível, para tropas comuns russas conduzirem operações de consequências importantes a mais do que o nível de pelotão contra quaisquer exércitos disciplinados, especialmente dos EUA, Grã-Bretanha, Alemanha ou França.

    Cartoon da Alemanha do kaiser.

    Esta espécie de escritos assusta-me realmente. Não por causa da imbecilidade e da estupidez racista, mas porque em grande medida não são contestados nos media de referência. Não é só este, há uma multidão de tais artigos alhures (ver aqui , aqui ouaqui ). Naturalmente, os autores desta espécie de “análises” ganham o seu dinheiro precisamente com incentivos maníacos às forças ocidentais, mas esta é exactamente a atitude mental que perturbou Napoleão e Hitler e que acabou com forças russas estacionadas em Paris e Berlim. Compare-se esta espécie de chauvinismo agressivo e, francamente, insensatez irresponsável com o que um comandante militar real, Montgomery, tinha a dizer sobre este tópico:

    A próxima guerra será muito diferente da última, teremos de combatê-la de um modo diferente. Ao tomar uma decisão sobre essa matéria, devemos primeiro ser claros acerca de certas regras de guerra. A regra 1, na página 1 do livro de guerra, é: “Não marchar sobre Moscovo”. Vários o tentaram, Napoleão e Hitler, e não é bom. Essa é a primeira regra.

    Assim, em quem acreditar? Em profissionais de animação de torcidas ou em soldados profissionais? Acredita realmente que Obama (ou Hillary), Merkel e Hollande farão melhor do que Napoleão ou Hitler?

    Se o “estado profundo” anglo-sionista estiver realmente bastante iludido para desencadear uma guerra contra a Rússia, na Europa ou alhures, o narcisista e hedonista ocidente, bêbado com a sua própria propaganda e arrogância, descobrirá um nível de violência e guerra que não pode sequer imaginar e se isso afectasse somente aqueles responsáveis por estas políticas temerárias e suicidas seria uma grande coisa. Mas o problema naturalmente é que muitos milhões de nós, pessoas simples e comuns, sofrerão e morrerão em consequência do nosso fracasso colectivo em impedir esse resultado. Espero e rezo para que minhas reiteradas advertências pelo menos venham a contribuir para uma crescente percepção de que esta loucura tem de ser travada imediatamente e de que a sanidade deve retornar à política.

    O original encontra-se em www.unz.com/tsaker/how-russia-is-preparing-for-wwiii/ e em

    thesaker.is/how-russia-is-preparing-for-wwiii/

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info

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