Ricardo Mezavila*
Vivemos tempos de luto diário, de sobressaltos permanentes, tristeza prematura açodada nos primeiros raios do dia. Que tempo sombrio é esse, que afastou os abraços e os beijos, que decretou que o mal é o símbolo do poder em detrimento de tanta alegria reprimida?
Escreveu Dylan Thomas no poema ‘Este lado da verdade’: “O bom e o mau, duas maneiras de caminhar em tua morte, entre as triturantes ondas do mar, rei de teu coração nos dias cegos, se dissipam com a respiração, vão chorando através de ti e de mim”
O Brasil se transformou eu um cemitério de mortos, de meio vivos, ou quase mortos, um canyon de ossos fora de hora, amontoados sobre lembranças anacrônicas em desacordo com a sinopse original.
Quem é responsável pela tragédia? Destino ou sociedade? Quem vai estar no fim da linha com a bandeira levantada? De que pena sai a tinta que assassina?
Os principais temas dessa bad são a morte e a tortura, a incompetência e o negacionismo, o consentimento e a cumplicidade, a inação e o conformismo, a negligência e a censura, o pessimismo e a demência.
O artífice dessa peça fatídica é vítima de seus próprios preconceitos, da sua visão individualista de mundo que, na incapacidade de dar as mãos de olhos fechados, subverteu o significado lúdico de felicidade.
Agonia infinda essa das nuvens de outono, das flores, do calor e do frio, das pedras do Arpoador, da pulsação cosmopolita, da umidade das florestas, do clima árido e da mutilação verde de campos agrícolas.
A atmosfera do céu sobre o Brasil está carregada de espíritos maus e mesquinhos, que brincam em volta do incêndio fazendo festa, riem de cada lágrima derramada enquanto brindam as estatísticas.
*Ricardo Mezavila, cientista político