Por Alain Valdes Sierra Havana (Prensa Latina) A Colômbia vê o sonho da verdadeira paz recuar por causa dos massacres quase diários e das mortes seletivas de líderes sociais e indígenas, ex-guerrilheiros e defensores do meio ambiente e dos direitos humanos.
A atmosfera de violência que o país sul-americano está vivendo foi perfeitamente definida pelo ex-presidente Ernesto Samper quando escreveu ‘na Colômbia, não é novidade que alguém seja morto’.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Paz (Indepaz) detalha em seu site os nomes e datas dos colombianos assassinados durante 2020, sem dúvida um ano muito difícil em termos de segurança para ativistas e pessoas desmobilizadas.
A Indepaz informa que 287 líderes sociais e defensores dos direitos humanos foram violentamente mortos, somando 79 massacres registrados no país durante os últimos 12 meses, nos quais outros 340 colombianos perderam suas vidas.
Com relação aos ex-guerrilheiros, a instituição afirma que no ano que está quase terminando, num total de 245 membros desmobilizados das FARC, hoje Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC), 60 foram assassinados, desde a assinatura do Acordo de Paz.
Organizações sociais, forças políticas, sindicatos e organismos internacionais condenaram o clima de violência, especialmente nas regiões rurais, onde grupos paramilitares e outros grupos armados operam com impunidade.
Por exemplo, a Jurisdição Especial pela Paz (JEP) exigiu que o governo garantisse a segurança e a vida dos ex-guerrilheiros, assim como os senadores Griselda Lobo, Feliciano Valencia, Sandra Ramírez e Iván Cepeda, ex-presidente Samper e personalidades de outros países.
A JEP destacou em um relatório que, apesar do Acordo de Paz, persistem violações dos direitos fundamentais dos desmobilizados signatários do pacto, uma preocupação compartilhada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O órgão mundial tomou a posição de que o assassinato de líderes sociais e indígenas, ex-guerrilheiros e defensores do meio ambiente e dos direitos humanos é um dos principais obstáculos para a implementação da paz na Colômbia.
Isto foi refletido em um relatório do chefe da Missão de Verificação da ONU no país e representante especial do Secretário Geral da ONU, Carlos Ruiz Massieu, que ratificou a questão da insegurança como um dos principais impedimentos para levar o processo a uma conclusão bem-sucedida.
Segundo a ONU, mais de 13.000 membros desmobilizados das FARC assinaram o Acordo de Paz com o Estado em 2016, e suas mortes violentas, como as de outros atores sociais, não contribuem para o clima de tranquilidade necessário para a realização do acordo.
‘Se não houver segurança para ex-guerrilheiros e líderes sociais, será muito difícil implementar os acordos porque tudo começa com a proteção da vida’, disse Ruiz Massieu.
Um dos maiores desafios, disse o diplomata, é que o Estado chegue aos territórios onde a violência marca o dia-a-dia, mas não apenas com as forças públicas, mas também com as instituições civis, educação, saúde, seções judiciais e instituições que levam desenvolvimento, serviços e segurança a esses territórios.
As regiões rurais da Colômbia, as principais cenas desses assassinatos e massacres, estão intimamente ligadas ao cultivo da coca, portanto, além de serem áreas de operações de paramilitares e outros grupos armados, são também zonas de influência de quadrilhas dedicadas ao tráfico de drogas.
Os analistas apontam que tantas mortes vieram para ‘imunizar’ muitos da violência na Colômbia. A frequência de assassinatos e massacres faz muitos suporem que esta é a rotina diária em um país onde a paz está escapulindo de novo e de novo.