Por: Luiz Rodrigo Veloso
Andando por Salvador, onde muitos motoristas de táxi são petistas, eu percebo, paradoxalmente, que o Rio de Janeiro, de Crivella, Witzel e Bolsonaro, é uma cidade mais progressista em muitos sentidos.
No Rio é muito mais comum, por exemplo, ver pessoas fumando maconha na praia; ou bebendo na rua; ou ocupando as ruas com artes de vanguarda.
A minha sensação carioca pelas ladeiras do Pelourinho é quase como retrô. É a sensação de que a Lapa, que é o equivalente no Rio, é muito mais “ousada”.
O que me levou a pensar mais profundamente os motivos pelos quais minha cidade – gay-firendly, maconheira, carnavalesca e de moda informal – elegeu tantos fascistas com votações expressivas, enquanto Salvador, com ares de cidade menor, derrotou Bolsonaro em todas as seções eleitorais.
E não foi preciso recorrer à nenhuma tese sofisticada para descobrir. Olhando para os lados, reparando as pinturas feitas nos muros, e principalmente os cabelos trançados ou black power [que não circulam tão comumente pelo centro do Rio quanto circulam pelo centro de Salvador], eu vi uma consciência negra diametralmente oposta ao discurso de extermínio de negros que levou um desconhecido medíocre a se tornar governador do Rio.
A marca da esquerda na Bahia é a luta contra o racismo. E o aspecto mais conservador do Rio de Janeiro é a branquitude. Daí vem a liberdade aparente da classe média carioca, manifesta em praias segregadas, como Ipanema, que do alto é uma paleta de cores em degradé, em contraste com Salvador, onde os bairros de praia também são negros.
Lá, como cá, tem Barra. Só que a praia da Barra em Salvador, como todas as outras, é negra e os moradores no entorno são negros. No Rio, a praia da Barra é branca, e os moradores no entorno pedem blitz nos acessos para revistar os negros.
Tudo me leva a crer que para virar o jogo contra os fascistas que tomaram de assalto a minha cidade o eixo mais importante nos próximos 4 anos será a superação do racismo.