A genialidade de Violeta fez com que sua arte, tão regional, se tornasse referência universal (Divulgação)
Mulher de temperamento forte, revolucionária, patriota, representante do povo, artista. Essas são algumas das características que definem a personalidade de Violeta del Carmen Parra Sandoval, popularmente conhecida como Violeta Parra.
Cláudia Zalaquett
Filha de Nicanor Parra, professor de música, e Clarisa Sandoval, costureira, Violeta nasceu no dia 04 de outubro de 1917, em San Carlos, região sul do Chile. Foi criada no campo, junto com mais nove irmãos, onde a situação era de muita dificuldade e pobreza.
Seu pai era alcoólatra e faleceu quando Violeta ainda era nova. A única herança que ele deixou para a filha foi um violão antigo. Sem nunca ter feito aulas, Violeta aprendeu a tocar o instrumento sozinha, apenas observando os adultos.
Mesmo sendo uma boa aluna, Violeta não conseguiu concluir seus estudos no colégio. Para ganhar alguns trocados e ajudar a família em casa, juntou-se com mais três irmãos e formaram então um grupo musical chamado “Los Hermanos Parra”, que se apresentavam pelos bares de Santiago. Mas Violeta, com seu caráter ousado, não parou por aí e se aventurou a viajar por todo o país, tocando e cantando com grupos de teatro e circo.
Violeta era politicamente engajada, se preocupava com a situação do país e principalmente com o povo do campo chileno, sua raiz. Com isso, em 1952, a cantora iniciou uma intensa pesquisa e investigação sobre a música folclórica chilena, com o objetivo de resgatar canções antigas que estavam esquecidas, registrá-las em papel, e posteriormente apresentá-las para o resto do mundo. Viajou por diversas cidades à procura de gente que pudesse ajudá-la nesse processo de busca, e fez novas composições musicais, seguindo os formatos tradicionais do folclore chileno. Violeta tinha a sensibilidade de poeta. Algumas de suas letras retratavam questões políticas e serviam como uma forma de protesto. Outras, não menos importantes, delineavam os sentimentos humanos mais profundos.
Foi então convidada para se apresentar em escolas e universidades do Chile, divulgando suas pesquisas sobre a cultura popular, além de comandar programas de rádio que falavam sobre o assunto. Viajou para Europa, participou de festivais e propagou sua arte em diversos países como Polônia, França e Suíça.
Cheia de aptidões, a artista também se revelou um grande talento nas artes plásticas. Não é para menos que, em 1964, suas obras foram apresentadas no Museu do Louvre, sendo a primeira exposição de uma artista latino-americana no local. No ano seguinte, em Santiago, Violeta fundou um centro cultural chamado “La Carpa de la Reina”, onde aconteciam encontros regados a música, dança, vinho e boa comida.
No quesito “relacionamentos”, Violeta foi uma mulher de muitas paixões, mas pessoas próximas à artista afirmam que ela teve apenas um grande amor. Casou-se duas vezes e teve quatro filhos: Isabel, Ánguel, Carmen Luisa e Rosa Clara. Porém, nenhum dos seus dois ex-maridos foi o verdadeiro amor de sua vida. Quem conquistou este posto foi o músico suíço Gilbert Frave, com quem ela morou por algum tempo em Genebra.
Uma de suas músicas mais famosas, reconhecida mundialmente e regravada por diversos artistas, chama-se Gracias a la Vida (Obrigada à vida). Por ironia do destino ou não, Violeta, aos 49 anos, suicidou-se com um tiro dentro do seu centro cultural. Há quem diga que ela estava abalada com a mudança de Gilberto à Bolívia, agravada pelo fato de que “La Carpa de la Reina” já não atraia mais o público.
Independente dos motivos que tenham levado Violeta a cometer suicídio, a artista é imortal. Sua genialidade fez com que sua arte, tão regional, se tornasse referência universal. Diversos países da América Latina e da Europa a homenagearam depois de sua morte. Em 1992, foi criada em Santiago a Fundação Violeta Parra, que reúne obras da artista. Já em 2011, foi lançado o filme “Violeta foi para o Céu”, dirigido por Andrés Wood.