O
Ministério da Saúde da Argentina confirmou, nesta sexta-feira (27), o
primeiro caso da chamada varíola dos macacos, doença comumente encontrada na África que, há algumas semanas, passou a registrar transmissão local na Europa e na América do Norte.
De
acordo com o jornal argentino Clarín, há um segundo caso suspeito no país, não relacionado ao primeiro. O ministério informou que ainda espera resultados do sequenciamento genômico para identificar se a cepa do vírus é a mesma da que está em circulação na Europa.
Após erradicar a varíola humana nos anos 1970, o Brasil agora parece viver o risco iminente da chegada da nova variante da doença. Mas o país está preparado para uma eventual nova crise sanitária, ainda em meio à pandemia de COVID-19?
Para a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o momento é de preocupação. Ela lembra que o Brasil não produz mais vacinas contra a varíola e não tem feito investimentos no setor.
A especialista explica que a doença do século passado era causada por um “vírus primo” da varíola do macaco. E na realidade, esta cepa, apesar de identificada em macacos, é oriunda de pequenos redores que habitam florestas tropicais africanas.
A letalidade da varíola atual é mais baixa. Enquanto a original tinha mortalidade em torno de 30% dos casos de infecção, a dos macacos é uma versão mais branda, mas longe de ser desprezível, que vitima cerca de 3% dos contaminados.
“Esta é uma mutação do vírus, que se adaptou melhor à espécie humana. Assim, o vírus ficou mais transmissível de humano para humano. A doença estava restrita ao continente africano e relacionada a pessoas que viajavam [para países africanos] ou que transmitiam para outras, mas sempre em conexão com a África. Não é o que ocorre agora”, aponta Maciel, lembrando que já há confirmação de transmissão comunitária no Reino Unido, sem qualquer relação com o continente africano.
Até a última terça-feira (24), a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou
131 registros de varíola dos macacos e outros
106 casos suspeitos desde o relato da primeira infecção, em 7 de maio, conforme
noticiado pela CNN Brasil. Os casos foram detectados em
19 países diferentes, onde a doença não é considerada endêmica, segundo o órgão.
Vacina contra varíola dos macacos
De acordo com a OMS, até o momento, não há tratamentos específicos contra a varíola dos macacos. Apesar disso, a organização afirma que a
disseminação do vírus “
pode ser contida“.
Isso porque a vacina desenvolvida no século passado contra a varíola original também pode ser usada para combater o vírus atual.
“Como o vírus da varíola dos macacos está intimamente relacionado ao vírus que causa a varíola humana, a vacina também pode proteger as pessoas da infecção por varíola dos macacos”, diz o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.
De acordo com o CDC, a vacinação após a exposição à varíola dos macacos pode ajudar a prevenir a doença ou torná-la menos grave.
A vacina Jynneos, com uma composição atualizada do imunizante utilizado no século passado, foi
aprovada nos EUA, em setembro de 2019, pelo órgão regulador “Food and Drug Administration” (FDA, na sigla em inglês). Segundo especialistas, a vacina possui
85% de eficácia contra a varíola dos macacos.
O imunizante é produzido pela fabricante dinamarquesa Bavarian Nordic.
A epidemiologista Ethel Maciel ressalta, no entanto, que ainda não há produção em larga escala do imunizante e nenhum movimento do governo brasileiro para buscar adquirir doses, caso haja necessidade no futuro.
“Havia estoque de doses, porque vacinam militares quando vão para área de combate na África. Os EUA possuem milhões de doses e o Reino Unido já começou a vacinar profissionais de saúde, pois também tinham estoque. Agora, é preciso negociar com empresas que fabricam a vacina”, disse Maciel.
A especialista critica a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde do país por falta de estratégia contra a nova enfermidade.
“No último domingo (22), o Ministério da Saúde [do Brasil] emitiu um comunicado sobre o risco, para que estados e municípios fiquem atentos, mas efetivamente não estamos fazendo investimentos nem campanhas em aeroportos, portos e fronteiras terrestres”, afirmou a especialista.