Montevideo (Prensa Latina) Sob a marca ”Impunidade, responsabilidade do Estado, ontem e hoje”, sairão às ruas desta capital milhares de uruguaios para protagonizar a tradicional Marcha do Silêncio, uma maneira de reivindicar a verdade e justiça pelos desaparecidos.
Avenidas e ruas principais de Montevideo se verão tomadas por mulheres e homens -em que talvez seja uma gigantesca mobilização- que portarão em suas mãos retratos de amigos, colegas, conhecidos, filhos, pais e irmãos vítimas da ditadura.
Para Javier Tassino, integrante da organização Familiares de Uruguaios Detentos Desaparecidos, a marcha desta noite tem um forte componente ético e moral, já que não pode ser permitido que ‘192 desaparecidos fiquem aí’.
Algumas coisas conseguiram-se nos últimos 12 anos, mas ainda há muito por fazer no caminho da busca para valer e justiça, declarou a uma rádio local.
Assegurou que o Uruguai teve uma etapa de 20 anos na qual não se fez nada, e conquanto se avançou em investigação, achados e processamentos, ainda persistem muitas trava, sobretudo judicial, que impediram avançar como queríamos.
Em igual sentido pronunciou-se a senadora da Frente Ampla (FA) Mónica Xavier, quem reconheceu em um artigo jornalístico que seu país ‘arrasta uma dívida histórica’ com respeito às violações dos direitos humanos durante a ditadura.
A legisladora reconheceu que durante os três períodos de governo do FA teve avanços na busca de desaparecidos, se ingressou aos quartéis para pesquisar, se processou e encarcerou a alguns responsáveis por terrorismo de Estado, mas ainda é insuficiente.
Apontou que decorridas três décadas desde a recuperação da democracia ainda não se pôde, nem também não sabido, terminar com o pacto de silêncio de quem têm as respostas e não as dão.
Resulta inconcebível, afirmou, como nenhuma das pessoas que têm informação ‘não rompe esse pacto lacerante’, que perpetua o sofrimento do desaparecimento de uma filha, um filho, uma mãe, um pai ou de um irmão.
Fernanda Aguirre, responsável por direitos humanos da Central Única de Trabalhadores do PIT-CNT, apontou que a mais de 30 anos de recuperada a democracia e o fechamento do período ditatorial, os responsáveis por crimes de lesa humanidade estão soltos e ‘nossos colegas estão desaparecidos’.
Os dados indicam que dos 210 detentos desparecidos em Uruguai se encontraram e restituíram 15 crianças, foram identificados os restos de 29 adultos (24 deles na Argentina), três adolescentes ainda estão sem se encontrar e se desconhece que sucedeu com as mulheres grávidas desparecidas.
No ato pelo 1° de Maio passado, Oscar Urtasun, da organização de Familiares de Detentos Desaparecidos, chamou a seguir gerando consciência sobre a impunidade em que ainda se mantêm muitos dos crimes cometidos durante a ditadura (1973-1985).
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