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sexta-feira, 29 março, 2024

Um século de golpes

A I Grande Guerra, que historiadores chineses com sutil ironia denominam Guerra Civil Europeia, foi uma despedida do modelo colonial de ocupação militar e submissão política. É óbvio que não se restringiu à Europa, onde estavam as grandes potências coloniais daquele passado, pois o Japão e os Estados Unidos da América (EUA) também já participavam deste modelo político-econômico-militar. Mas a evolução econômica da sociedade mundial exigia um novo tipo de dominação.
Uma grande responsável pela mudança foi a alteração no combustível que alimentaria o novo ciclo colonial: o petróleo. Vemos nas curvas de produção e consumo que, em 1915, se inicia uma elevação mais forte na produção mundial de petróleo que passa a novo patamar em 1925 e, verdadeiramente, dispara a partir de 1945.
Como nos parece óbvio, a mudança do insumo energético, corolário da transformação industrial, acarreta igualmente a mudança no sistema colonial. Este novo modelo será amplamente adotado nas “independências” das colônias na Ásia e na África e irá alterar os relacionamentos com os países latinoamericanos. Claro que mudanças econômicas, políticas e sociais não se dão no estalar dos dedos, mas se revestem de mantos ideológicos, culturais e muita propaganda política, seja nas artes, na imprensa e até mesmo nas pedagogias adotadas. Quem, que esteja hoje na faixa dos 70 ou mais anos de idade, não aprendeu no antigo primário, hoje o Fundamental I, que o Brasil “é um país essencialmente agrícola”, que a industrialização aqui não vingaria? Era a doutrina da dominação da época que derrubou, em 1945, o Presidente Getúlio Vargas.
Este modelo colonial que denominarei “colonial industrial” ganha corpo a partir da I Guerra Mundial e se fortalece com a II Guerra Mundial, o que não significa que não ocorria antes nem que esteja balizado pelas guerras. Neste intervalo surge um novo sistema político-econômico-social, o comunismo, que adota o mesmo modelo colonial industrial, e será um competidor do europeu, norteamericano e japonês. Não cabem, neste artigo sobre os golpes, análise das diferenças entre os modelos de colonização, embora sejam bem distintos em suas consequências.
O mundo capitalista, com a dominação do capitalismo industrial, conhece um grande desenvolvimento tecnológico e investimentos nas áreas das ciências, em especial físicas e matemáticas. Disto resulta a revolução no setor da informação, que já nas guerras tem uso na codificação e na transmissão e recepção de mensagens e ganha corpo com aplicações nas mais diversas áreas do conhecimento humano. Por volta da metade do século XX, a informação e a ecologia atuarão com ênfase para o empoderamento de um novo ciclo colonial: o colonialismo financeiro.
Este novo colonialismo não será adotado pelo comunismo e marcará sua dificuldade em sobreviver aos novos padrões que o sistema financeiro internacional, a banca, imporá em todo mundo.
A República Popular da China, com seu modelo protegido das influências exteriores, conseguirá o feito único de se desenvolver industrialmente no mundo do colonialismo financeiro.
Este colonialismo atual é impeditivo de desenvolvimento pela exclusividade que dá ao financismo. Todos os ganhos devem ser apropriados pelo sistema financeiro que, por sua vez, vai promovendo a crescente e universal concentração de renda.
Uma sequência quase didática desta mudança de foco golpista pode ser observada no período 1964-1985, no Brasil. Talvez nossos historiadores ainda esperem maior distância dos fatos para análise mais consistente desta história, o que um administrador de empresa não se exige.
Em 1964, os EUA, que estiveram presentes em todos os golpes, bem ou mal sucedidos no Brasil desde a Proclamação da República, estavam ainda na era do colonialismo industrial. Assim, era objetivo maior a transferência de controle do processo de industrialização do Brasil para as empresas norteamericanas. Paralelamente, visava-se a apropriação de riquezas minerais e criação de mercado consumidor moderno.
Mas logo a seguir, o colonialismo financeiro começa a ganhar corpo nos EUA, e, numa verdadeira coincidência, parcelas ponderáveis das Forças Armadas, de inegável sentimento nacionalista, dão um golpe dentro do golpe e tomam o controle do processo de desenvolvimento econômico. Passa, assim, o colonialismo financeiro a ser o arquiteto do novo golpe no Brasil. Este vem com a “redemocratização”.
Quando no exterior a banca derruba o comunismo em seu país símbolo, cria-se um ambiente de irresponsabilidade e arrogância que pode ser consolidado na expressão “o fim da história”. Aqui há o golpe branco do engodo e da hipocrisia com a eleição e reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Neste momento a comunicação de massa em nosso País já é um oligopólio de quatro famílias, estreitamente vinculadas com todos os colonizadores estrangeiros.
No período em que estivemos totalmente sob tutela da banca, além da criação de mitos econômicos, como do tripé – câmbio, juros e controle fiscal –, o Brasil sofreu um processo de desindustrialização, alienação do controle de riquezas naturais e endividamento que justificasse o pagamento de juros elevadíssimos e submissão ao Fundo Monetário Internacional. Nem se precisa mencionar que os reclamos sociais, em especial a educação, não constavam das pautas políticas então vigentes.
Este golpe midiático, guiado por interesses estrangeiros, teve resposta na eleição das pautas opostas, por quatro vezes. Na última, armou-se no congresso, eleito pelo dinheiro de empresas nacionais, estrangeiras e caixas dois, a base parlamentar do golpe. A base jurídica foi articulada diretamente pelo sistema de informações com os grampos e a espionagem eletrônica estrangeira. O resto foi simples campanha publicitária, diuturna, inundando os veículos da oligopolística imprensa.
O mundo está num momento de delicado confronto dos nacionalismos populares, religiosos e fascistas entre eles e deles com a banca. Várias guerras estão sendo travadas, especialmente na Ásia, e outras estão sendo alimentadas, com interesses meramente econômicos da indústria bélica e dos neocolonialismos resultantes. Neste momento um governo frágil pela origem golpista e pela sujeição aos interesses estrangeiros, coloca o Brasil em situação de incapacidade para oferecer reação nacionalista, de defesa nacional. A isto chegamos em um século de golpes, aplaudidos por burguesia alienada, opressão midiática e repressão policial e judiciária.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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