Por Valter Xéu
Neste dia 29 de novembro faz um ano que eu estava em Cuba para as homenagens póstumas ao Comandante Fidel Castro, na praça da revolução, local no qual Fidel discursou centenas de vezes para o povo cubano.
Único jornalista brasileiro convidado pelo governo de Cuba através de Bruno Rodríguez Parrilla, Ministro das Relações Exteriores, lembro que ao sair do quarto no Hotel Park Central, a camareira me deu os pêsames. Agradeci ao mesmo tempo em que imaginava que foi por estar presente aos funerais do Comandante, assim como todos que lá estavam hospedados. Fui em frente e peguei o elevador para me dirigir ao restaurante onde os garçons e as garçonetes repetiram o que me disse a camareira.
De imediato retruquei que quem deveria dar os pêsames era eu pela morte do Comandante, quando uma garçonete me informou que os pêsames eram porque tinha caído uma aeronave com um time brasileiro de futebol. Confesso que gelei na hora.
Em seguida uma série de perguntas passou pela minha cabeça. Será que foi o meu Vasco? O meu Santos? O Bahia? O Fluminense de Feira? Logo descartei o time feirense, pois esse beirando a quarta divisão nacional, não anda de avião e sim de ônibus e de van.
Refeito do susto inicial, perguntei que time estava no avião e me disseram ser a Chapecoense. Corri para a internet e lá estava a relação dos nomes dos jogadores, companheiros jornalistas, dirigentes e tripulação.
No final da tarde e já inicio da noite, todos os convidados embarcaram em um ônibus rumo à Praça da Revolução, onde ficamos na tribuna de honra, ao lado de aproximadamente uns 170 chefes de Estados; e diversas personalidades como o ator e ativista norte americano Dany Glover (de quem fiquei amigo, pois sentamos lado a lado), o jornalista franco-espanhol Ignácio Ramonet, diretor e editor do Le Monde Diplomatique e para meu orgulho, colaborador do Pátria Latina desde a sua fundação em 2002.
Com Ignacio Ramonet acima e nas fotos abaixo, com Frei Betto, Abel Prieto e Dany Glover, ator e ativista norte americano.
Estávamos em uma rodinha papeando com Abel Prieto, Ministro da Cultura de Cuba e assessor especial de Raul Castro, Dany Glover, Ignácio Ramoinet, o presidente da Duma (congresso) da Rússia, Frei Beto, Marilia Guimaraes. Foi quando de repente avisto José Serra, ministro das Relações Exteriores do Brasil, que tinha comparecido ao evento em homenagem a Fidel como representante do governo brasileiro e que as autoridades cubanas não lhe deram a mínima. Avistando Serra me dirigi a ele e perguntei sobre o acidente, e ele explicou que sairia dali direto para a Colômbia, para um evento em homenagem as vitimas.
RELEMBRANDO O PASSADO.
Lá pelos anos 90 em um encontro com Fidel no Comitê Central, eu e um grupo de jornalistas de vários paises, perguntamos a ele o que seria de Cuba quando ele se fosse.
Disse-nos que partiu José Marti e Cuba continuou, partiu os irmãos Maceo e partiram vários outros, e Cuba continuava cada dia mais altiva e mais dinâmica e que no dia que ele partisse, mais de 10 milhões de Fideis (a população de Cuba na época) estariam firmes e fortes para dar continuidade ao trabalho que começou com José Marti e outros revolucionários.
Lembro que depois comentamos que Fidel estava filosofando quando fez tal afirmação, mas quando vi a Praça da Revolução lotada com mais de dois milhões de cubanos a gritar “eu sou Fidel! Eu sou Fidel!”, tive ali a resposta e a confirmação das palavras que ele dissera uns trinta anos atrás.
Quando desembarquei em Cuba, esperava encontra um povo choroso. Mas na verdade encontrei um povo saudoso do desaparecimento do seu grande líder, o qual aprendeu a amar e admirar por mais de meio século.
Jamais me esquecerei da cena que vi na Tv, na casa do ex-embaixador de Cuba no Brasil, Jorge Lezcano Perez. Estávamos acompanhados de Jorge Ferrera, por muitos anos conselheiro político da embaixada de Cuba no Brasil e muito amigo dos brasileiros.
Uma repórter se aproximou de uma menina que aparentava ter seis anos mais ou menos, estava acompanhada dos pais e tinha escrito o nome Fidel Castro na testa. A repórter pergunta por que ela escreveu Fidel na testa e ela responde: “escrevi na testa, pois não posso rasgar meu coração para escrever o nome de Fidel dentro dele”. Cuba toda se emocionou e nós também. São lembranças que este admirador e defensor de Cuba jamais esquecerá.
*Valter Xéu é diretor e editor de Pátria Latina.