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quinta-feira, 3 outubro, 2024

Trump ameaça economia de guerra Keynesiana que joga capitalismo americano na maior contradição histórica

Foto Reuters/Jim Bourg

César Fonseca 

Donald Trump, candidato do partido republicano, ao dizer que negociará fim da guerra, na Ucrânia, vencida, praticamente, pela Rússia, está de olho na saúde do dólar, que pode ir para o buraco, se o tesouro americano não frear desenfreada emissão de moeda seguida de sanções comerciais, como faz Joe Biden, seu adversário do partido democrata, levando os países a fugirem das verdinhas de tio Sam e a buscarem novo sistema monetário internacional, especialmente, depois da emergência dos BRICS.

As sanções fracassaram contra a Rússia, ao serem contornadas pelo espírito de competição comercial em todo o mundo, levando às trocas de mercadorias que se desenvolvem por vários mecanismos financeiros.

A forma de pagamento internacional imposta pelos Estados Unidos depois da segunda guerra, em Bretton Woods, não suporta mais, indefinidamente, os mecanismos modernos que proporcionam as relações comerciais internacionais.

O bitcoin e as demais moedas virtuais em plena evolução, devido ao progresso da economia virtual, no contexto do avanço inexorável da Inteligência Artificial, é aviso terrível para o dólar, que está sob desconfiança global dado o tamanho da dívida pública americana(30 trilhões de dólares e picos), a colocar os grandes fundos de investimentos de barbas de molho.

Trump vira, com seu alerta, no maior perigo para a indústria de guerra dos Estados Unidos, movida a dívida pública, enquanto vai comprovando a ineficácia americana no processo de guerra por procuração, que se desenvolve depois a queda do Muro de Berlim e do colapso da União Soviética, no final da década de 1990.

FINACIARIA MINA O IMPÉRIO

De lá para cá, o desejo e a força imperial americana de abarcar o mundo por meio do neoliberalismo financeiro especulativo impulsionaram a financeirização econômica global, cuja beneficiária maior é a indústria de guerra, bélica, espacial e nuclear, impulsionada para a dominação imperialista internacional, levando, consequentemente, à desarticulação política mundial.

As guerras por procuração, característica da nova guerra fria, são apenas mecanismos de multiplicação da indústria de produção de “não-mercadorias”, destinadas à destruição, como denominou o marxista Lauro Campos, em “Crise da Ideologia keynesiana”.

Trata-se da objetivação, pura e simples, da completa dissipação produtiva de guerra para sustentar o Estado Industrial Americano, assim chamado, nos anos 1960, pelo presidente Eisenhower, que desconfiava de catástrofes monetárias futuras.

Biden é o oposto de Eisenhower, pois é, fundamentalmente, garoto propaganda da indústria de guerra, movida pelo modelo econômico keynesiano de gastos públicos em preparação para as armas como principal fator de dinamização da demanda global capitalista.

O grande economista inglês soprou para Roosevelt, em 1936, o recado fatal: “Penso ser incompatível com o sistema capitalista que o governo eleve seus gastos na escala necessária capaz de fazer valer a minha tese – a do pleno emprego -, exceto em condições de guerra; se os Estados Unidos se INSENSIBILIZAREM para a preparação das armas, aprenderão a conhecer sua força.”

Jamais Washington, depois da recomendação de Keynes, acreditaria na máxima neoliberal do equilibrismo orçamentário, consciente de que equilibrar as contas do governo representa receita certa para o fracasso do capitalismo de livre mercado, como comprovou a crise de 1929.

ADEUS LAISSEZ FAIRE

John Maynard Keynes abandonara as recomendações do seu antigo ídolo e profeta, Alfred Marshall, papa do Marginalismo econômico dezenovecentista liberal inglês, ancorado no padrão ouro, que levou a Inglaterra, com a libra esterlina, ao apogeu imperialista global, antes que a primeira guerra imperialista mundial (1914-18), acabasse com os pressupostos liberais que haviam deixado de ser úteis à acumulação ampliada de capital.

Emergiram, desde então, no lugar do livre mercado, os trustes, monopólios e oligopólios, que jogaram a economia do laissez faire, na lata de lixo.

A nova fase capitalista, depois do ciclo liberal de 1873-1893, que levou à grande crise do capitalismo do laissez faire, prevista, em O Capital, por Marx, inaugura o “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, título do livro de Lênin, escrito em Zurique(1916), em que refutava os revisionistas que tentavam destruir o marxismo, na tentativa de voltar ao passado liberal, como havia feito Kautsky .

Keynes aprendeu com Marx e Lênin, como, disfarçadamente, reconhece em “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, que o laissez faire teria que abrir espaço à economia de guerra, ancorada nos gastos do governo, para tirar o capitalismo neoliberal da crise.

O presidente Roosevelt cuidaria de cumprir o recado keynesiano, elevando gastos públicos, no New Deal, receita que confessa ter aprendido com o presidente Getúlio Vargas, em 1930, antes de assumir a presidência dos Estados Unidos, em 1933, como relata José Augusto Ribeiro, em “A Era Vargas”, segundo volume, 1930-1945/1951-1954, Editora Folha Dirigida.

Getúlio, para salvar os capitalistas brasileiros da crise de 1929, mandou queimar café, para recuperar o preço do produto no mercado internacional, assumindo, inicialmente, os gastos pelo Estado interventor econômico etc.

O século 20 é marcado pelo keynesianismo adotado pelos Estados Unidos na segunda guerra mundial, desbancando, definitivamente, a Inglaterra, colocando o dólar como moeda hegemônica, no lugar da libra, reinante no padrão ouro, que se transformaria em “relíquia bárbara” (Keynes).

O governo gasta para poupar e não o contrário, poupa para gastar, tese keynesiana que o presidente Lula abraça quando diz que orçamento social em educação não é gasto, mas investimento, deixando atônitos os neoliberais do mercado financeiro.

A economia de guerra keynesiana é fruto dessa nova conceituação econômica, que levaria os Estados Unidos à hegemonia mundial, até que crescessem as desconfianças do mercado global na saúde financeira do governo imperialista, excessivamente, endividado, responsável por transformar, atualmente, a política monetária conduzida pelo FEC, controlado pelos banqueiros privados, em fator decisivo de instabilidade internacional, enquanto o capitalismo americano perde competitividade para a China.

COLAPSO DA ESTRATÉGIA IMPERIALISTA

As guerras por procuração bancadas por Washington, objetivando destruir a Rússia, a partir da invasão da Ucrânia pelas tropas da OTAN, colapsaram.

O presidente Vladimir Putin venceu a disputa na Ucrânia e colocou em cena o dilema americano de continuar ou não as guerras por procuração, ameaçadoras de estabilidade do dólar, principalmente, depois que Rússia e China se articularam para a aliança que desembocou na construção dos BRICS, nova ameaça aos Estados Unidos.

Trump, em campanha eleitoral contra Biden e sua política de guerra por procuração, que trinca a confiança do mundo no dólar, promete outra realidade, para salvar a América do possível colapso financeiro.

Diz que negociará – certamente, com Putin – o fim do conflito e ameaça cortar o orçamento americano que banca a OTAN, braço armado do império para expansão de conquistas territoriais e econômicas imperialistas.

Ou seja, Trump sinaliza, com sua promessa, para tentar manter a hegemonia do dólar, sem a qual o império desaba, o fim do keynesianismo de guerra.

Abre-se confronto com a indústria armamentista, que, mediante gastos keynesianos, construiu o império americano com a força das armas.

Grande contradição imperialista que o mundo passará a viver, se Trump vencer Biden.

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