Foto Metrópoles
César Fonseca
A realpolitik imperialista é cruel.
O presidente Donald Trump, com todo o poder imperial por trás de si, põe banca em cima do Brasil.
Do ponto de vista trumpista truculento imperialista protecionista, a independência dos poderes republicanos, na periferia capitalista, sob influência dos Estados Unidos é, absolutamente, relativa.
Está, tal independência, combinada com o império, ou está sujeita às circunstâncias determinadas pelo imperador?
Trump, ao mandar carta ao presidente Lula, considerando injusto o processo judicial contra o ex-presidente Bolsonaro e exigindo “IMEDIATAMENTE” a liberdade dele, no rastro do tarifaço, levou em consideração a independência republicana do STF, na tarefa de julgar o ex-presidente por ter conduzido golpe de Estado?
Toda a expectativa, nesta semana, era – ainda é – a de que a prisão de Bolsonaro seria efetuada pelo ministro Alexandre de Moraes, da Suprema Corte, ficando super evidente que tal aconteceria por ele não ter obedecido às medidas cautelares que Xandão expediu.
Bolsonaro, ao contrário, exibiu-se com a tornozeleira, como vítima, e os bolsonaristas, na terça-feira, 22, tentaram romper na marra o recesso parlamentar para fazer pressão pró-Bolsonaro, levantando bandeira de Trump no Congresso.
O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta(Republicanos-PB), intercedeu, melando o evento, mas, quando o fez, os bolsonaristas já tinham produzido fato político escandaloso, escorados no retrato de Trump, como a garantia por trás deles para produzir confusão e desmandos anti-republicanos.
Nesse contexto, politicamente explosivo, a convicção da esquerda e dos progressistas em geral era a de que a prisão do ex-presidente era questão de horas, estando toda a mídia de plantão à espera do desfecho, com Xandão autorizando a PF prendê-lo.
Isso não aconteceu, ao longo da terça e, hoje, quarta-feira, por enquanto, o que todos cantavam como bola dentro, ainda, não aconteceu.
Acontecerá, ainda, hoje ou a decisão, nesse sentido, está adiada, devido à suposta pressão de Trump para que tal não aconteça, mediante ameaças, cujo teor, ainda, não é público?
Com a temperatura elevada, pode ou não ter acontecido de os ministros do STF terem feito reuniões emergenciais e chegado à conclusão de que é melhor esperar mais um pouco, empurrando a lei com a barriga?
O fato concreto é que o presidente Lula decidiu mandar a Washington missão para negociar com o governo Trump, que exige, como pressuposto, a libertação imediata de Bolsonaro, como está na carta trumpista para o titular do Planalto.
O presidente Lula, no olho do furacão trumpista, pode ou não ter concordado com eventual recomendação dos ministros do Supremo a Xandão, para que “manerasse” a barra?
Pelo menos na manhã desta quarta-feira, a prisão esperada de Bolsonaro, ainda, não ocorreu.
Ocorrerá?
A FORÇA DO IMPÉRIO
Historicamente, os Estados Unidos, ao longo do século 20, impôs a sua verdade, ditada pelo poder econômico, ao ponto de se admitir, como consenso pragmático, que a vontade imperial é a lei que vigora, segundo as regras não escritas da realpolitik imperialista.
Quantas democracias latino-americanas, sob regime republicano, foram derrubadas?
O tarifaço entra ou não nessa cota de desmando e prepotência imperialista, exercitados pelo imperador contra todos que julgar prejudiciais ao interesse do império norte-americano?
“Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, eis, no capitalismo, o mandamento da lei do mais forte, que impõe o direito da força, no lugar da força do direito, que sobrevive como ficção jurídica, no reinado do capital, onde, como diz Marx, a infraestrutura econômica, dominada pela concentração de renda e de poder capitalista, condiciona o comportamento da superestrutura jurídica.
O golpe neoliberal de 2016, no Brasil, no âmbito da Operação Lava Jato, monitorada por Washington, determinando aos procuradores tupiniquins destruírem o poder das empresas estatais, esvaziando-as economicamente, levando-as à privatização, teve, por exemplo, o apoio do STF, que proibiu Congresso de exercitar sua autonomia no assunto.
Onde ficou a autonomia republicana do Legislativo, senão, apenas, no papel?
A BRONCA IMPERIALISTA
No caso do Brasil, a bronca trumpista é o acréscimo do fato de Trump entender que, politicamente, o governo Lula é anti-americano, de esquerda, por apoiar os BRICS, movimento econômico antiimperialista que fragiliza a moeda americana, destruindo seu poder hegemônico.
Se está com o BRICS, está contra Trump, eis o entendimento pragmático da Casa Branca.
Ao contrário, quem está contra o BRICS, como é o caso de Bolsonaro, bem como Miley, na Argentina, tudo bem, tem passe livre no Salão Oval.
A exigência de Trump para que Bolsonaro seja liberado “IMEDIATAMENTE” é ou não imposição da realpolitik imperialista?
Prender o ex-presidente, conforme se cogita, neste momento, por parte dos que julgam conhecer a letra da lei, esquecendo-se que esta é determinada, no capitalismo, pelo poder econômico, pelas classes sociais dominantes, é ou não, ao juízo do imperador, interessado em fragilizar Lula, confrontar a realpolitik imperialista?
Os que davam como certa a prisão de Bolsonaro para ontem ou para hoje, com o argumento de que ele feriu a lei, desobedecendo medidas cautelares, que o mantém em prisão domiciliar, podem ser obrigados a enfiar a viola no saco e irem cantar em outra freguesia.
A confiança da família Bolsonaro de que novas medidas bombásticas trumpistas vem por aí para atrapalhar o governo Lula, como anunciam, despudoradamente, pode ou não influir no ânimo do ministro do STF, Alexandre de Moraes, para o qual se voltam as atenções do mundo político e jurídico?
FATORES EMERGENTES ENTRAM EM CENA
A conclusão possível sobre o que realmente se passa, nesse momento, é a de que fatores emergentes, políticos, para além das expectativas não cogitadas, entraram em cena, contrariando o que, do ponto de vista brasileiro, seria considerado lógico: a prisão de Bolsonaro.
Ou a lógica é outra, a da lei do mais forte, que está na mão do imperador, que baixa tarifa de 50% sobre o Brasil, sendo que o Brasil registra déficit e não superavit comercial com os Estados Unidos?
Combinaram com os russos?
A lógica, por essa realidade comercial, em si, diria que não tem sentido o tarifaço trumpista.
Mas, o que é a lógica para Trump, nesse momento, senão a de que, para ele, o Brasil/Lula tem que ser punido por participar, como comandante político da nação, do BRICS, que o império quer exterminar, se possível, para fragilizar a China?
Por essa e outras, especialmente, por Trump ter vencido Joe Biden, do Partido Democrata, apoiado pelo presidente Lula, poderia ou não existir recomendação irônica, do imperador ao presidente brasileiro, tipo: “Vai pedir ajuda a Biden, Lula”?
O Supremo Tribunal Federal, como poder republicano independente, num país capitalista periférico, dependente de poupança externa, notadamente, americana, em forma de financiamentos em dólar, para as atividades produtivas em geral, é realmente independente, sob a ótica do imperador Trump?
Confiante na impunidade, Bolsonaro saiu, hoje, de casa para politicar com seus aliados na sede do PL.