Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho
No 7 de setembro de 2025, na Avenida Paulista, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, jogou fora a imagem de moderado e se casou de vez com a retórica mais radical do bolsonarismo. Em tom inflamado, bombardeou o Supremo Tribunal Federal, mirou o ministro Alexandre de Moraes e repetiu inúmeras vezes que Jair Bolsonaro é o único nome da direita.
Logo de início, deixou claro que seu discurso não era de governador, mas de cabo eleitoral: “Só existe um candidato para nós: Jair Messias Bolsonaro”. E, em tom de confronto, insistiu: “Não podemos ser mais tímidos, não sejamos tímidos, vamos defender isso com toda a força da nossa alma”. Ao falar sobre os condenados pelos atos de 8 de janeiro, Tarcísio pregou a libertação geral: “Essa anistia, assim como foi em 79, tem que ser ampla, tem que alcançar todo o mundo, tem que ser irrestrita”.
Essa fala radicalizada tem efeitos políticos claros. Tarcísio se apresenta como um pau-mandado de Bolsonaro, repetindo ataques ao Judiciário e ecoando narrativas de perseguição. Com isso, dificulta qualquer tentativa de se diferenciar como “bolsonarista moderado” e, ao contrário, abrir espaço para Lula.
Diante de uma radicalização tão extrema, o presidente e a esquerda ganham a chance de reconstruir uma frente ainda mais ampla do que em 2022. Uma frente política que se fortalece justamente porque Lula passa a ser visto como porto seguro. Um candidato da moderação, de respeito às instituições, ao Judiciário e à democracia.
O contraste salta ainda mais aos olhos porque Tarcísio, no próprio 7 de setembro, ignorou o sentido histórico da data. Diante da maior bandeira dos Estados Unidos já vista numa manifestação no Brasil – que ocupou quase um quarteirão inteiro da Paulista – não disse uma palavra sobre soberania, independência nacional ou resistência a ataques externos. Ficou em silêncio sobre o tarifaço imposto por Washington, que elevou em 50% as tarifas contra produtos brasileiros. Em vez de defender o Brasil, prefiro repetir o catecismo de Bolsonaro.
O discurso, portanto, mostra um governador que não fala como estadista, mas como militante radical. Essa escolha pode até agradar à base mais fiel, mas entrega ao adversário – o presidente Lula e a esquerda – a oportunidade de reconstruir uma frente ampla e ampliar sua conexão com o centro político. Na prática, Tarcísio ajuda Lula a consolidar ainda mais o espaço de equilíbrio e moderação no cenário nacional.