Paulo Metri – Conselheiro do Clube de Engenharia e do CREA-RJ
Ao setor nuclear brasileiro, foi sempre dedicada atenção nacionalista, em várias épocas. Contudo, devido ao Brasil ser um país com inúmeras carências e possuir tantas opções energéticas, este setor não foi mais desenvolvido, o que seria benéfico para a própria sociedade. Porem, o que foi feito representa um razoável avanço para um país de desenvolvimento tardio.
A posição brasileira sobre questões nucleares em fóruns internacionais sempre foi de extremo compromisso com a nossa sociedade. O evento mais característico da retidão de um representante nosso ocorreu com o Almirante Álvaro Alberto quando da proposição do governo estadunidense quanto às reservas do mundo de tório e urânio, chamada de Plano Baruch. Em resumo, este plano determinava que elas ficariam sob o controle de uma agência internacional, sobre a qual os Estados Unidos teriam forte influência.
Nesta oportunidade, o Almirante votou contra a proposta, que ele chamava de “tentativa dos Estados Unidos de desapropriar as reservas mundiais” e propôs o Princípio das Compensações Específicas, que significava que nenhuma transação comercial com minerais estratégicos deveria ser realizada com o pagamento em moeda, mas através do fornecimento de tecnologia. Os países subdesenvolvidos, em geral donos de reservas, forneceriam o minério desejado em troca do recebimento de tecnologias.
O Almirante Álvaro Alberto foi também o idealizador da compra de três centrífugas para o enriquecimento de urânio, na Alemanha do pós-guerra, que ainda estava sob o controle norte americano, e de trazê-las para o Brasil. Esta operação não resultou em sucesso. Entretanto, prova que ele sabia, em 1954, sobre a importância desta tecnologia para o Brasil.
No ano de 1962, a criação do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), junto com a construção do reator de pesquisas Argonauta, concluído em 1965 com 93% de índice de nacionalização, representou uma reação do Brasil ao programa “Átomos para a Paz” dos Estados Unidos, que buscava criar dependência dos países em desenvolvimento àquele país com relação à tecnologia nuclear.
Dando um salto na história de uma dezena de anos, durante o governo do General Geisel, em 1975, o Brasil fechou o Acordo Nuclear com a Alemanha, que era muito ambicioso, mas tinha preocupação com a transferência da tecnologia nuclear para o Brasil. Como consequência desta transferência, por exemplo, o Brasil, há anos, fabrica as recargas de elementos combustíveis para as usinas de Angra I e Angra II. Durante a construção de Angra II, tecnologias foram absorvidas e uns poucos componentes foram fabricados na NUCLEP. Infelizmente, o conhecimento está sendo perdido por falta de continuidade na construção das usinas.
O auge da demonstração de querer o melhor para a sociedade brasileira ocorreu com a constituição do Programa Nuclear Paralelo. O objetivo último sempre foi dotar o país da potente arma de defesa, o submarino de propulsão nuclear. Sabe-se que nenhum país do mundo vende este submarino. Assim, o Brasil é obrigado a desenvolver as tecnologias necessárias para possui-lo, sendo as principais, o enriquecimento do urânio e a construção do reator compacto. O submarino necessita do desenvolvimento de outras tecnologias, mas, relacionadas com a energia nuclear e com alto grau de complexidade, são estas duas.
Com relação ao desenvolvimento do enriquecimento de urânio, houve grande sucesso, graças à equipe da Marinha e do IPEN, coordenada pelo Vice-Almirante Othon Pinheiro da Silva. As ultracentrífugas desenvolvidas por ela tinham um desempenho acima das melhores existentes à época. Entretanto, o maior valor desta equipe não foi a sua cultura técnica, que era grande, nem a sua capacidade inventiva. Foi, principalmente, o seu comprometimento com a sociedade brasileira. Todos os membros da equipe se esforçaram para conseguir este grande feito.
No momento presente, o país vive o assédio de forças neoliberais e entreguistas. Mas a população começa a reagir, apesar de todo controle midiático que se tem sobre ela. Trata-se do maior controle de informações já visto no país. Nem os militares com seus sensores com tesouras vetavam tanto o que o povo podia saber. Hoje, se não fossem as redes sociais, que buscam conscientizar a população, esta não saberia o que ocorre e, na próxima eleição, votaria contra os seus próprios interesses.
As relações interestatais e o desenvolvimento de cada nação explicam, em parte, a ascensão e a queda da vertente nacionalista em muitos países. Pode-se superpor a curva das decisões neoliberais e entreguistas ao longo do tempo com a curva do grau de soberania do país no tempo. Será notado que, quando o Brasil está em fase mais soberana, as decisões neoliberais e entreguistas são menores. Portanto, deve-se buscar aumentar o grau de soberania para usufruto da sociedade. Na atual fase dos Estados Nacionais, há extrema invasão dos países colonizados pelos colonizadores visando aumentar o grau de dominação.
Países com alto grau de soberania protegem seus mercados, seus setores estratégicos de indústrias e serviços, suas universidades fronteiras do conhecimento, suas fontes geradoras de tecnologia e sua cultura. Os brasileiros, enganados pelas empresas de comunicação de massa, em um sistema sem regulação, permitem que o país seja completamente dominado. Hoje, pode-se dizer que o Brasil é um relativo sucesso de dominação por capitais e países estrangeiros.
Em um novo formato de dominação de sociedades, forças armadas foram substituídas por eficientes empresas de entretenimento e comunicação. Não se desembarca mais em praias para tomar de assalto um país. Basta possuir uma forte empresa de comunicação e se começar a divulgar inúmeros conceitos errados, como, por exemplo:
-
O Brasil pode se desenvolver, com aumento do IDH, graças à entrada maciça de capital estrangeiro no país.
-
Não há setor industrial que necessite da existência de empresas estatais.
-
Em setores com predominância de empresas privadas, são necessárias agências reguladoras para, dentre outros objetivos, proteger a sociedade.
-
O Brasil pode ter sua segurança física garantida pelos Estados Unidos, não necessitando gastar em projetos militares custosos.
-
Há mais de 150 anos, o Brasil não entra em conflito com nenhum dos seus vizinhos, o que corrobora a tese de não precisar ter forças armadas fortes.
-
As barreiras à importação, também conhecidas como reservas de mercado, só servem para criar atraso tecnológico e ineficiência produtiva.
-
Para atrair o capital estrangeiro, importante para nosso desenvolvimento, devemos minimizar os impostos de uma forma geral sobre a atividade produtiva.