22.5 C
Brasília
quinta-feira, 28 março, 2024

Rússia, Auschwitz e o chamado a nunca esquecer

Por Antonio Rondón García Moscou, 27 jan (Prensa Latina) Ao cumprirem hoje 75 anos da libertação do campo de Auschwitz pelo Exército Vermelho, a frase de nunca esquecer se aplica tanto aos horrores do fascismo como às façanhas soviéticas para acabar com eles.
No dia 27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas da Primeira Frente Ucraniana descobriram uma construção fortificada ao cruzar uma zona arborizada que não aparecia nos mapas: era a ‘fábrica da morte’, que começou a funcionar no dia 20 de maio de 1940.

Os alemães tinham evacuado pouco antes 60 mil prisioneiros de um campo, dirigido pelas SS nazistas, com três instalações principais, sendo uma delas de extermínio, e outras 45 auxiliares, onde se calcula que foram eliminadas quase duas milhões de pessoas.

O Exército Vermelho conseguiu libertar mais de 6.500 prisioneiros, em sua maioria incapazes de se mexer e quase moribundos, testemunhas do extermínio diário de milhares de pessoas em câmaras de gás, experimentos com doenças, fuziladas ou mortas por inanição (fome).

A instalação, criada a partir de barracões de um quartel do exército polonês e uma área para adestrar cavalos, situa-se em Oswiecim, cerca de 33 quilômetros da Cracóvia, fez parte do sistema de campos de concentração e guetos judeus que totalizaram mais de 20 mil em toda Europa.

Cerca de seis milhões de judeus foram exterminados entre 1939 e 1945 na Europa (60% do total), entre eles, três milhões na Polônia, quase 1,5 milhão na Ucrânia, 800 mil na Bielorrússia, 140 mil na Lituânia e 70 mil na Letônia, segundo a Enciclopédia do Holocausto.

Chama a atenção que precisamente Polônia, Ucrânia, Letônia e Lituânia lideram o movimento na Europa que não só nega o papel do Exército Vermelho para libertar essas nações, mas promove a asenção e a glorificação dos colaboracionistas com o regime fascista.

Varsóvia desata agora uma forte campanha orientada não só a negar o papel da União Soviética na derrota do fascismo alemão, mas para colocar a URSS como causante do início da II Guerra Mundial (IIGM) e negar que o Exército Vermelho tenha libertado o território polonês.

Recentemente, o mandatário russo, Vladimir Putin, denunciou que a Polônia pretende esquecer ou apagar a façanha do Exército Vermelho para libertar o país, onde lutaram 2,6 milhões de soldados em uma operação militar na qual quase 600 mil pereceram.

No entanto, as atuais autoridades polonesas, pretendendo atender ambições políticas cojunturais, como denunciou Putin, põem em prática um programa de ‘descomunização’ que inclui a eliminação de dezenas de monumentos dedicados aos libertadores soviéticos.

O governo polonês, destaca o diário Vzgliad, põe em prática um sistema de educação que elimina um ano do ensino obrigatório, reduz as aulas de Literatura e aumenta as de História, com um carregado programa patriótico, com claras distorções sobre os fatos da IIGM.

Algo parecido acontece na Ucrânia, onde em 2015 a Rada Suprema (parlamento unicameral) eliminou a comemoração do Dia da Vitória, 9 de maio, e em seu lugar instituiu o Dia da Memória e da Concórdia, com a realização de passeatas ultranacionalistas e neonazis.

A Ucrânia reconheceu Stepan Bandera como herói nacional, líder do movimento UPA, envolvido no extermínio de dezenas de milhares de pessoas como força colaboracionista das tropas fascistas alemãs.

No entanto, o próprio governo estadunidense abriu documentos classificados onde Bandera é descrito como um agente a serviço de Adolfo Hitler e responsável por crimes de guerra.

A Rússia promove um movimento internacional contra as tentativas de glorificação do fascismo, incluindo uma resolução que tem levado nos últimos anos à Assembléia Geral da ONU, que em dezembro último se pronunciou com 133 membros a favor, dois contra e 52 abstenções.

Os únicos opostos à resolução sobre as medidas para impedir a glorificação do fascismo foram Estados Unidos e Ucrânia.

O tema da ascenção do neofascismo na Ucrânia foi talvez um dos motivos pelo qual recentemente o presidente Vladimir Zelensky (de procedência hebréia) viajou a Jerusalém, mas se retirou sem participar do V Fórum Internacional sobre a memória do Holocausto, realizado naquela capital.

A Polônia, de acordo com o roteiro traçado nos últimos tempos, se negou a participar do fórum, que destacou o tema do Holocausto e o 75 aniversário da libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho.

Na Rússia, surgiu a iniciativa do Regimento Imortal, que é uma marcha realizada todo dia 9 de maio de russos com fotos de familiares que lutaram na II Guerra Mundial, um gesto que a cada ano soma milhares de adeptos em cada vez mais países do planeta. Isso, claro está, para nunca esquecer.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS