Caracas, AVN
Como um programa de inclusão social, o maestro e músico venezuelano José Antonio Abreu, que faleceu neste sábado, 24, fundou em 1975 o Sistema Nacional de Orquestras e Coros Juvenis da Venezuela, cujo objetivo é o resgate pedagógico, ocupacional e ético da infância e da juventude, através da instrução e da prática coletiva da música com ênfase nas crianças dos setores mais vulneráveis do país.
Até a criação do sistema, “na Venezuela a música havia sido considerada exclusivamente um fim. A música é arte e é beleza, mas era apreciada de maneira desarticulada e separada da conduta humana e da experiência social. Estudar música em meu país era um privilégio de poucos, não todas crianças e jovens com talento podiam ter acesso aos estudos musicais”, relatou Abreu em uma entrevista à revista Cambio 16.
Nesta ocasião o maestro explicou que a rede de orquestras permitiu conjugar sua experiência como músico, docente e ativista social para criar uma plataforma de formação, que hoje conta com 948.725 integrantes em todo o país formados em 44 núcleos.
O Sistema possui mais de 1.681 orquestras juvenis, infantis e pré-infantils; 166 agrupações do Programa Alma Llanera, 1.389 coros infantis e juvenis, 1.983 grupos de iniciação musical e mais de 10 mil professores nos 24 estados da Venezuela, destaca o portal web da rede de orquestras.
Do total de integrantes, 59% são mulheres. O sistema também está presente nos sistemas penitenciários, onde participam mais de 1.700 pessoas, e promove a formação das crianças com poucos meses de nascidos, através da estimulação musical.
“A música e sua prática coletiva desde muito cedo, inclusive antes do nascimento de um bebê, oferece a oportunidade para a criança de ir se formando em uma escala de valores espirituais e humanos de alta transcendência, como por exemplo, o esforço compensando; porque desde o mesmo momento em que a criança toma o instrumento abandona a crença do ‘não posso’ para evidenciar-se premiado com o aplauso e o reconhecimento de familiares, amigos e da comunidade; a constância: a autovaloração e a autoestima, o trabalho em equipe e a solidariedade”, relatou Abreu na citada entrevista.
Para reforçar as conquistas alcançadas através da música, o Executivo nacional se comprometeu a investir todos os recursos necessários para conseguir a meta de um milhão de crianças e adolescentes atendidas pelo sistema promovido pelo maestro.
“Como te queremos José Antonio, te queremos, te apreciamos, te admiramos, este homem humilde de lá das montanhas de Trujillo, chegou a encher a pátria de música, de esperança, e de fé, José Antonio Abreu, o aplauso da Venezuela para você, o reconhecimento de todos para você, maestro, músico”, afirmou o comandante Hugo Chávez em 24 de novembro de 2007, quando foi lançada a Missão Música.
Com esta política, o Estado venezuelano continuou fortalecendo a rede de orquestras com a inclusão de um milhão de crianças para 2019, meta que foi ratificada pelo presidente da República, Nicolás Maduro.
Uma referência internacional
Em 43 anos de trajetória, o sistema soma 81 reconhecimentos internacionais e se transformou em uma referência para países como Colômbia, Bolívia, Argentina, Escócia, Estados Unidos, México, entre outros.
Até 2013, foram estabelecidos núcleos de orquestras e programas de ensinamento musical inspirados no programa venezuelano em mais de 35 países, entre eles Haiti, um dos países mais castigados pela pobreza na região.
E é aque o Sistema, como contou o maestro Abreu a Cambio 16, tem “tal força que transcendeu latitudes. Desde o começo, nossas orquestras geravam admiração nos países visitados, por seu ímpeto, por sua força, por sua luz.”