28.5 C
Brasília
sexta-feira, 4 outubro, 2024

Quando o chibatado venera a chibata

Por Luiz Fernando Leal Padulla*

Não sou negro, mas posso e devo falar sobre o racismo. Assim como não sou mulher, mas sou capaz sim de falar sobre o machismo e a necessidade da sororidade feminina. Também não preciso ser gay para entender e defender direitos dos LGBTIs.

E vamos lá.

Um branco, ainda que mestiço, pode ainda nutrir sua raiz preconceituosa e agir como um racista. E por isso se faz necessário a desconstrução cultural que o criou assim. Trabalho árduo, a longo prazo, mas possível. O que não consigo entender e aceitar é ver negros atuando como…racistas!

A atual nomeação de Sérgio Nascimento para a presidência da Fundação Palmares pegou a sociedade de surpresa. Um sujeito que nega a luta do movimento negro, difama seus irmãos e menospreza importantes lideranças como Zumbi, Dandara e Martin Luther King.

Como um ser humano desses, cujo histórico de luta de classes está enraizado (ou pelo menos deveria!) em seu DNA, faz e prega tais absurdos? Negar o racismo é negar toda trágica história da humanidade!

Ser contra o Dia da Consciência Negra, e ainda ter a vergonhosa fala de que escravos no Brasil eram privilegiados? O mesmo indivíduo que chama Gilberto Gil, Leci Brandão, Mano Brown, Emicida de “parasitas da raça negra no Brasil”.

Como esse ser repugnante, que diz que aqui “a negrada é imbecil e desinformada pela esquerda” será capaz de cumprir com o Decreto N.º 6.853, de 15 de maio de 2009, que regulamenta a instituição, a Fundação Cultural Palmares com a finalidade de promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira?

Que valores tem um canalha como ele?

Será que em algum momento ele reconhecerá que está errado em negar a luta? Será que é fruto de uma venda capitalista barata, sendo objeto dessa propaganda reacionária? Seria esse pulha mais uma cortina de fumaça para tentar esconder as relações cada vez mais escancaradas do clã bolsonarista no assassinato de Marielle?

Espanta realmente um capitão-do-mato desses assumir tal posto. No entanto, quando lembramos que outras aberrações como Damares e suas falas retrógradas e machistas ocupa o cargo de ministra da Família, Mulher e Cidadania, ou ainda de um ministro da Educação olavista, que acredita na Terra Plana, diz que a universidades federais só promovem balbúrdia, plantam maconha é produzem drogas sintéticas, percebemos que é apenas mais um caso surreal da “Nova política” braZileira.

 

Um retrato do obscurantismo e retrocesso, cujo enredo nem mestres como Hitchcock ou Luís Buñel seriam capazes de escrever. Esperaremos as cenas dos próximos capítulos ou interromperemos logo esse script ruim?

*Professor, Biólogo, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências. Autor do blog “Biólogo Socialista”.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS