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sexta-feira, 26 julho, 2024

QUANDO TERRORISTAS E DESTRUIDORES DE PAÍSES SÃO LIBERTADORES

Meus Terroristas São Libertadores

Pedro Augusto Pinho*

É notável a criação de George Orwell em seu célebre romance “1984”. Apenas um erro: focava a União Soviética stalinista. Deveria abranger todos os Impérios e não apenas um deles.

No romance, Orwell trata da novilíngua. Novos e inteiramente distintos conteúdos para conhecidas palavras e exemplifica num dos lemas do Partido: “guerra é paz”.

Parece absurdo? Então, caro leitor, o que significam estas frases, retiradas do Atlas dos Conflitos Mundiais, de Dan Smith com Ane Braein, na tradução de Carmen Olivieri e Regina Aparecida de Melo Garcia, para a Companhia Editora Nacional (SP, 2007) da versão de 2003, do trabalho originalmente publicado em 1997:

“África Ocidental – A África Ocidental nunca conseguiu se recuperar do período em que esteve sob o domínio colonial. Apesar das riquezas naturais, nenhum país dessa região conseguiu administrar-se apropriadamente”.

“Ásia Central – A população dos cinco países abrange mais de 100 nacionalidades e grupos étnicos. As fronteiras entre eles foram estabelecidas em Moscou, na fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas”.

E as fronteiras africanas? E as etnias americanas, asiáticas, africanas destruídas pelo colonialismo europeu e a expansão estadunidense?

É um tapa na cara de toda humanidade, tal desplante em atribuir à liberdade e não às agressões sofridas pelos povos africanos de seus escravizadores, as potências europeias e estadunidense, a situação em que se encontram. E que continuam vítimas com os golpes, as pressões econômicas e os bloqueios.

Este mesmo cinismo é usado pelos Estados Unidos da América (EUA) na qualificação de “terrorista”.

Terroristas são todos que lutam pela soberania de seus povos, que buscam construir, com suas culturas, os Estados Nacionais.

Mas os invasores estrangeiros, que os EUA são o maior desde o fim da II Grande Guerra, que ocupam com bases militares muitos outros países em todo mundo, que promovem golpes de estado para impedir avanços econômicos do Brasil, do México, da Argentina, do Chile, do Peru e de toda América Latina, para ficarmos em nosso entorno, são “libertadores”. É ou não a galhofa universal!

A CIA entra no Brasil para depor Vargas que inicia, mais de 400 anos após a chegada dos portugueses, a construção do Estado Nacional Brasileiro. Não conseguindo impedir este avanço, promove outro golpe, em 1964, que também, pelo nacionalismo de parcela dos militares, continua o desenvolvimento nacional. Então promove o golpe da democracia: estabelece, com os recursos da guerra híbrida, um país que anda para trás, um país neoliberal. É o estado em que nos encontramos desde 1988.

No mundo, após a farsa da implosão das torres gêmeas – é sempre bom recordar que foram três edifícios implodidos – inicia a “guerra ao terror”, que começa com o fim das liberdades, pelo Patriot Act, nos próprios EUA.

Vamos esclarecer este fato, sempre deturpado pela comunicação mainstream, de lá e de todo mundo (guerra híbrida).

Com o Decreto de George W. Bush, de 26/10/2001, toda a liberdade de expressão e comunicação está controlada pelos órgãos de segurança e de inteligência dos EUA, que interceptem, entre outras, ligações telefônicas e emissões de e-mails de organizações e pessoas, sem necessidade de qualquer autorização da Justiça, sejam elas estrangeiras ou americanas.

Este ato totalitário foi sendo renovado até 2015, quando o Congresso aprovou o USA Freedon Act, que convalidou em parte o Patriot Act. Isto eles chamam democracia.

Voltemos à novilíngua. No Google estão listados 43 países que os EUA envolveram, só neste século XXI, em conflitos. E neste número não estão, por exemplo, aqueles que sofrem, desde muitos mais tempo, bloqueios, sanções, impedimentos comerciais, ameaças a empresas que com eles negociem, como ocorre com Cuba, o caso mais antigo, com a República Popular Democrática da Coreia, a Federação Russa, a Venezuela e outros.

Os EUA são o verdadeiro estado terrorista e beligerante, como se comprovou, mais uma vez, no assassinato do general iraniano Qasem Soleimani, no Iraque. E tem, no Império que ele substituiu – o britânico, e no país que criou, para desestabilizar o local mais rico em petróleo do mundo, Israel no Oriente Médio, seus grandes parceiros.

Os terroristas, na novilíngua estadunidense, são os patriotas, os libertadores, os democráticos. Terroristas mesmo são os que têm mil bases militares espalhadas pelo mundo.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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