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sexta-feira, 26 julho, 2024

Por uma frente contra a OTAN e o imperialismo – Propostas de encontros internacionais

Manifestação em Lisboa contra a OTAN.

– Acabar com a política das meias-tintas

Manuel Raposo [*]

A Terra move-se. Nos países ocidentais, nem tudo é inação acerca da guerra na Ucrânia. Apesar do peso esmagador da propaganda difundida pelos adeptos da guerra-até-ao-fim, e da censura às fontes de informação e às posições divergentes, há quem se mexa para contrariar a maré dominante. Duas iniciativas de alcance internacional merecem notícia: uma teve lugar em Paris em outubro do ano passado, replicada depois em Londres, Belgrado, Caracas e Gwangju (Coreia do Sul); outra é uma conferência internacional a realizar em Roma em outubro próximo.

Em ambos os casos, é expressa a condenação da Nato como instrumento do imperialismo norte-americano para promover a guerra à custa dos sacrifícios dos ucranianos e dos europeus. E é ressaltado o perigo real de alastramento do atual conflito, se não forem travados os manejos das potências ocidentais, com óbvias consequências para todo o mundo.

A importância desta posição não está apenas no fato de combater o discurso dos meios políticos dominantes, mas sobretudo, no que à esquerda diz respeito, no fato de pôr em xeque as correntes que adotaram uma atitude de meias-tintas a respeito do conflito — de que, por exemplo, a palavra de ordem “Nem OTAN, nem Putin” é expressão.

Este último posicionamento — sob o pretexto, teórica e politicamente falso, de que estamos perante uma disputa entre forças imperialistas que “não diz respeito” aos trabalhadores e na qual os trabalhadores “não têm que tomar posição” — submete-se na prática à política dominante, tendo como resultado paralisar a resposta que deve ser dada aos fatores da guerra por aqueles que mais são atingidos por ela: os trabalhadores e os povos, sejam das metrópoles imperialistas, sejam dos países dependentes. É um posicionamento de natureza centrista inibidor de uma ação popular radical contra a guerra.

A verdade é que estamos perante uma corrida para a guerra por parte das potências imperialistas agregadas na tríade EUA-UE-Japão, na tentativa de manterem o domínio sobre o resto do mundo de que desfrutaram de há 80 anos para cá. Essa corrida é impulsionada pela crise senil que atinge o sistema capitalista-imperialista por inteiro e que se manifesta, concretamente, pela quebra do poderio norte-americano, arrastando os parceiros da tríade, e pela emergência de outras potências capitalistas que defendem os seus interesses nacionais, políticos e econômicos. Colocar uns e outros no mesmo pé, é um erro político fatal que arreda a esquerda de desempenhar papel determinante no curso dos acontecimentos, por a colocar fora do movimento concreto – realmente, e não idealmente, existente – de combate ao imperialismo.

Só inserida nesse movimento real pode a esquerda ambicionar levantar as suas bandeiras próprias e assim ter influência no rumo dos acontecimentos.

A conferência realizada em Paris (Plataforma Mundial Anti-imperialista) aprovou uma declaração em que, nomeadamente, se realça a palavra de ordem “Derrota da aliança imperialista liderada pela OTAN!”, e em que se enquadra o conflito da Ucrânia, bem como as ameaças de outros conflitos, na tendência do imperialismo para a guerra.

A iniciativa prevista para Roma (Conferência Internacional para Travar a Terceira Guerra Mundial), reclama, entre outras coisas, a dissolução da OTAN e a constituição de uma Ucrânia democrática e neutral.

Transcrevemos a seguir o texto da Plataforma aprovada em Paris e também um resumo da apresentação feita pelos promotores da conferência a realizar em Roma.

DISSOLUÇÃO DA OTAN! NENHUMA COOPERAÇÃO COM A GUERRA IMPERIALISTA!

Plataforma Anti-imperialista Mundial – Paris, outubro 2022

A seguinte declaração foi feita em Paris na sexta-feira, 14 de outubro de 2022, quando comunistas e anti-imperialistas se reuniram para lançar a Plataforma Anti-imperialista Mundial.

A declaração resume a abordagem comum da Plataforma em relação à corrida imperialista para a guerra, propondo a necessária clarificação sobre as causas profundas e a natureza da guerra, ao mesmo tempo que indica o que os socialistas e anti-imperialistas acreditam que deveria ser a nossa abordagem em relação ao movimento crescente que se opõe aos efeitos da crise e da guerra sobre os trabalhadores em todo o mundo.

Encontramo-nos num momento de grave perigo para os trabalhadores e os povos oprimidos em todo o mundo, no qual o ímpeto imperialista para a guerra está a empurrar-nos para uma terceira guerra mundial e uma conflagração nuclear.

Mesmo que a agressão da OTAN na Ucrânia esteja a falhar, tanto militar como economicamente, o desespero dos EUA para salvar a sua posição hegemónica no mundo significa que não podem recuar, mas, em vez disso, estão à procura de formas de expandir e prolongar a guerra. Levando em conta a experiência, parece que os imperialistas ainda esperam poder encontrar uma forma de acabar com toda a resistência ao seu domínio e sair vitoriosos.

Como resultado, enfrentamos a perspectiva de a guerra na Ucrânia se espalhar para os países vizinhos da Europa e da Ásia Central – e também a eclosão de hostilidades em vários outros teatros mais a leste. As recentes provocações dos EUA em Taiwan, juntamente com o aumento incessante das tensões com a RPDC [Coreia do Norte] e a China em todas as frentes, deixam isso muito claro.

Neste momento de importância histórica, nós, os partidos abaixo assinados, concordamos que os seguintes pontos essenciais devem ser tornados claros às massas do mundo e devem orientar o nosso trabalho antiguerra e anti-imperialista:

Os conflitos que já surgiram ou ameaçam eclodir não são assuntos isolados e locais, mas são partes integrantes do esforço dos EUA para manter a sua hegemonia global.

A atual guerra na Ucrânia não é o resultado da “agressão russa”, mas sim dessa corrida imperialista ocidental para a guerra – em particular, dos EUA.

A guerra realmente começou quando os EUA e os seus aliados financiaram, armaram e organizaram um golpe fascista em Kiev em 2014; o lado russo, na sua aliança com os povos do Donbass, está envolvido numa guerra de autodefesa e libertação nacional contra o ataque imperialista.

Os impulsos de guerra contra a China e a RPDC são também resultado da agressão imperialista, e, se os conflitos eclodirem na Coreia ou em Taiwan, não importa quem dê o primeiro tiro, essas guerras serão igualmente guerras de autodefesa anti-imperialista e de libertação nacional travadas pelo povo coreano e/ou chinês.

A capacidade da Rússia e da China para se defenderem e defenderem outros não indica ambições expansionistas ou uma economia imperialista; tal capacidade baseia-se em décadas de planejamento de autodefesa, iniciado pelos governos socialistas da URSS e da RPC.

Não existem dados econômicos que justifiquem a caracterização da China ou da Rússia como imperialistas. São países que não vivem da superexploração ou da pilhagem do mundo. Eles não colocam outros países em escravidão militar, tecnológica ou por dívida. Pelo contrário, os termos de comércio benéficos e a assistência tecnológica e militar que oferecem estão a dar aos países em desenvolvimento mais pequenos a oportunidade de escapar à escravatura imperialista.

A Rússia e a China são alvos da agressão imperialista porque, tanto ao manterem a própria independência, como ao ajudarem outras nações a conquistar a sua, representam uma séria ameaça à hegemonia mundial dos imperialistas.

A crescente aliança entre a Rússia e a China oferece esperança aos povos do mundo: esperança de uma alternativa à dominação dos EUA e à superexploração imperialista. Um forte campo anti-imperialista é a melhor defesa dos nossos povos contra os planos agressivos da sanguinária aliança da OTAN – a nossa melhor defesa contra a ameaça iminente de uma guerra nuclear.

Os ativistas antiguerra devem mobilizar as massas nos seus países para uma campanha ativa de não cooperação com o esforço de guerra imperialista, visando sabotar a máquina de guerra da OTAN de todas as formas possíveis. Devemos recusar lutar ou ajudar os exércitos da Nato (diretos ou por procuração). Devemos recusar o transporte de homens e material da OTAN. Devemos recusar permitir que as bases da OTAN operem sem entraves nos nossos territórios. Devemos recusar fabricar ou fornecer armamentos e outros equipamentos vitais à OTAN. Devemos recusar difundir, imprimir ou distribuir mentiras de propaganda imperialista. E devemos recusar cooperar com o comércio imperialista e as guerras de sanções.

A corrida para a guerra, a crise econômica, a crise alimentar, a crise ambiental e muito mais deixam bem claro que a necessidade de remover o sistema econômico imperialista é mais urgente do que nunca.

As palavras de ordem dos verdadeiros anti-imperialistas neste momento devem ser: Derrota da aliança imperialista liderada pela Nato! Vitória da resistência! Nenhuma cooperação com a guerra imperialista!

CONSTRUIR UMA FRENTE UNIDA ANTI-IMPERIALISTA

Conferência internacional para impedir a terceira guerra mundial – Roma 27-28 outubro 2023

Os promotores convidam indivíduos, organizações e defensores da paz de todo o mundo a apoiar e participar numa conferência internacional de paz para travar a terceira guerra mundial.

Ao reunir indivíduos e organizações anti-imperialistas de todo o mundo, a conferência procura formar uma frente unida contra o militarismo e o imperialismo norte-americano/europeu, com o objetivo de construir um mundo multipolar baseado no respeito por todos os povos e nacionalidades.

As organizações promotoras reconhecem o papel ativo que a classe trabalhadora internacional deve desempenhar no desmantelamento da Nato, o cão de fila do imperialismo norte-americano/europeu, como uma pré-condição para alcançar uma paz duradoura.

Lista de exigências:

Suspensão imediata dos envios de armas para a Ucrânia.

Fim das sanções à Rússia, fim da campanha russofóbica.

Revogação da declaração que condena a Rússia como um Estado terrorista.

Armistício entre as forças beligerantes, permitindo negociações de paz.

Estabelecimento de uma Ucrânia verdadeiramente neutra e democrática.

Fim da corrida armamentista e dissolução da OTAN.

30/setembro/2023

[*] Arquiteto.

O original encontra-se em

www.jornalmudardevida.net/2023/09/30/encontros-internacionais-propoem-frente-contra-a-nato-e-o-imperialismo/

Este artigo encontra-se em resistir.info

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