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quinta-feira, 25 abril, 2024

Por que será que Bolsonaro não consegue tirar Moro do governo?

Jair Bolsonaro e Sérgio Moro (Foto: Carolina Antunes/PR)

Brasil 247

“Parece que Bolsonaro tem mesmo medo de Moro”, escreve o jornalista Ribamar Fonseca. E se decidir indicá-lo ao STF, “terá de suportar a presença do ex-juiz fungando no seu cangote até novembro, quando o ministro Celso de Mello será obrigado a se aposentar”, observa

Parece que Bolsonaro tem mesmo medo de Moro. Ele não consegue exonerar o ex-juiz do Ministério da Justiça mesmo consciente do perigo que representa para a sua reeleição e, por isso, pensa em livrar-se dele indicando-o para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal. Por alguma razão  desconhecida – dizem  que o ex-juiz teria um dossiê contra ele – o capitão não tem coragem de confrontar Moro. Na verdade, segundo a autora do livro “Tormenta”, quem segura Moro no governo são os militares, com os quais estaria  bem sintonizado. Ainda recentemente revelou-se que Bolsonaro estava decidido a exonerá-lo, depois dele ter manifestado seu desagrado com a decisão do ministro Dias Toffoli, que suspendeu as investigações sobre o senador Flávio Bolsonaro, mas teria sido dissuadido pelo general Augusto Heleno, chefe do GSI, para quem o governo “acaba” se o ex-juiz for demitido. Se o chefe da Segurança Interna acredita realmente nisso, ou seja, que a saída de Moro do Ministério da Justiça seria o “fim do governo”, então Bolsonaro teria se tornado um joguete nas mãos do ex-juiz e dos militares.

Aparentemente, porém, não há unanimidade entre os militares sobre a visão do general Heleno. O vice-presidente, por exemplo, general Hamilton Mourão, disse que o Presidente não é refém de Moro e, portanto, pode exonerá-lo quando quiser. Isso significa que nem todos admitem o poder do ministro da Justiça no governo e muito menos a sua ascendência sobre o capitão, mesmo reconhecendo ter sido ele o principal responsável pela sua eleição, ao remover, com a prisão do ex-presidente Lula, o maior obstáculo à sua ascensão. É bem provável, inclusive, que a  nomeação do general Braga Netto para a chefia da Casa Civil, em substituição a Onyx Lorenzoni, seja uma forma de inibir o ex-juiz, reduzindo a sua influência no governo. Com o Planalto militarizado, conforme afirma o próprio Bolsonaro, tudo leva a crer que haverá uma mudança de comportamento do governo, com o novo chefe da Casa Civil mais presente nos movimentos do presidente, talvez até colocando um freio em seus destemperos verbais. É possível, também, que o general Braga Netto na Casa Civil não tenha sido escolha de Bolsonaro e a  militarização do Planalto seja parte de um plano  muito mais amplo do que se imagina.

O fato, porém, é que as diversas tentativas frustradas para exonerar Moro e, inclusive, para reduzir o seu poder, desmembrando a segurança pública da Justiça, sugerem que Bolsonaro tem hoje menos força do que o seu ministro dentro do governo e, também, menos popularidade. E como parece não ter coragem de tirá-lo do seu caminho com uma simples canetada, prefere uma solução menos traumática para livrar-se dele: indicá-lo para a primeira vaga que surgir na Corte Suprema, contrariando decisão anterior, de indicar um nome “terrivelmente evangélico”, segundo sua expressão. Portanto, se as notícias sobre a sua nova decisão se confirmarem, ele terá de suportar a presença do ex-juiz fungando no seu cangote até novembro, quando o ministro Celso de Mello será obrigado a se aposentar, abrindo vaga para a nomeação de um novo ministro. Resta saber, no entanto, se Moro, acreditando que tem chances de chegar à Presidência, se conformará com a indicação ao STF, pois seus seguidores estão muito animados com a sua candidatura, a começar pelo seu conterrâneo, o senador Álvaro Dias, do Podemos, que insiste em convidá-lo para ingressar no seu partido.

Como as eleições presidenciais ainda estão distantes, porém, qualquer prognóstico sobre seus resultados será prematuro. E não adianta fundamentar análises em pesquisas de intenção de votos hoje, que não tem a menor validade porque retratam o momento e, portanto, em três  anos devem apresentar resultados muito diferentes, pois o panorama político-eleitoral deve sofrer profundas alterações durante esse tempo. Como se sabe, os humores do eleitorado mudam com muita frequência, a partir de acontecimentos imprevistos ou de decisões do governo, o que impede qualquer exercício de adivinhação. Ninguém pode garantir nem mesmo que Bolsonaro concluirá seu mandato. De qualquer modo, os aspirantes ao Planalto não devem ficar de braços cruzados nestes três anos que nos separam do pleito presidencial, já que  precisam mobilizar-se para ocupar espaço. E como este é um ano eleitoral,  os partidos necessitam ampliar suas bases municipais, até por uma questão de sobrevivência, pois quem chegar em 2022 com um bom suporte nos municípios terá melhores chances na disputa. Os prefeitos e vereadores, afinal, ainda são os grandes catadores de votos, cuja ação é imprescindível para quem pretende se lançar a vôos mais altos.

Acredita-se, no entanto, que as eleições gerais de 2022 serão bem atípicas. Depois do sucesso do uso de fakenews na última campanha, que elegeu Jair Bolsonaro com todos os seus defeitos, não há dúvida de que essa será a maior arma dos candidatos a Presidente e Governador, sobretudo porque até hoje ninguém foi punido por espalhar notícias falsas nas redes sociais. Criou-se uma verdadeira indústria de mentiras (fakenews), inclusive com a utilização de robôs, que multiplicam a eficiência na distribuição das informações falsas. Muitas empresas foram instaladas, dentro e fora do país, ganhando muito dinheiro com contratos milionários pagos por empresários apoiadores de determinados candidatos. Reputações foram destruídas e o ódio disseminado de tal maneira que virou rotina a agressão a  políticos em locais públicos, inclusive em aviões comerciais. Donald Trump e Bolsonaro foram eleitos graças a essa nova arma que reduziu o poder da grande imprensa, hoje relegada pelos dois presidentes. Prova disso é que Trump e Bolsonaro esnobam a imprensa e até agridem jornalistas, dando o seu recado através de posts nas redes sociais, por onde anunciam até medidas governamentais. No Brasil os principais manipuladores de fakenews são conhecidos, mas nenhum deles até agora chegou sequer a prestar esclarecimentos às autoridades policiais. Até a CPI do Congresso, que  investiga as organizações criminosas de fakenews, não avança em sua tarefa.

Na verdade, ninguém sabe, apesar dos vários depoimentos,  o que a CPI das fakenews descobriu até agora e muito menos qual a situação das investigações. Tem-se a impressão de que os veículos de comunicação não estão interessados  nos trabalhos da comissão, nem a imprensa alternativa, porque são raras as notícias sobre as suas atividades. A deputada Joice Hasselmann, ex-líder do governo na Câmara Federal, abriu a caixa preta da indústria de  fakenews dos bolsonaristas (como ela fez parte do time, revelou os nomes e os métodos  usados na disseminação das mentiras), mas até agora não se tem conhecimento de que suas revelações tenham produzido algum resultado prático.  E apesar do seu funcionamento, a comissão não conseguiu até agora inibir a ação dos propagadores de fakenews, que continuam espalhando mentiras sem receio de punição, o que certamente só aconteceria se as vítimas fossem integrantes do governo Bolsonaro. Como o próprio governo, onde estariam abrigados alguns acusados  de disseminar fakenews, tem interesse nos danos que elas produzem nos adversários, os responsáveis não são alvos de investigação por parte da Polícia Federal. Resta ao povo, portanto, precaver-se das mentiras e evitar compartilhamentos, o que, no entanto, se mostra muito difícil, pois parte da população já se habituou a pensar com as fakes. Até porque elas, as fakes, são estimuladas pelo próprio governo.

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