Prof Michel Chossudovsky, Global Research, Canadá
A declaração de Obama dia 16/12 em conferência de imprensa na Casa Branca e as recentes “revelações” feitas pelo diretor da CIA John O. Brennan constituem uma declaração “oficial” de que Vladimir Putin, presidente da Federação Russa teria interferido diretamente e deliberadamente nas eleições presidenciais dos EUA a favor de Donald Trump. São acusações graves, sem nem fiapo de prova que lhes dê fundamento, dirigidas tanto contra Moscou como contra o presidente eleito.
Tudo leva a crer que aí esteja em andamento um Golpe “soft” com apoio da inteligência dos EUA, para impedir a posse de Donald Trump na Casa Branca.
O objetivo é claro: degradar Trump aos olhos da opinião pública, pressionar os Eleitores do Colégio Eleitoral A NÃO VOTAR EM TRUMP dia 19/12, porque Trump estaria “dormindo com o inimigo” e é agente de Moscou.
É a estratégia confirmada pelo governo de Obama nos seus últimos dias, com o apoio das duas agências, CIA e FBI.
Estamos lidando com um movimento coordenado, apoiado em persistente propaganda pelos veículos da mídia-empresa, com protestos anti-Trump organizados pelo bando de Hillary por todo o país, além de campanha pelas mídias sociais combinada com campanha aberta de difamação.
Essa iniciativa a favor da gangue de Hillary não se confunde com a campanha contra Trump que emana de alguns movimentos de base da sociedade norte-americana.
O que falta é (i) autêntico movimento de massas, distanciado simultaneamente das duas gangues em disputa dentro da elite; e (ii) efetiva campanha de contrapropaganda em todo o país, que exponha as mentiras e ardis construídos e distribuídos pelas grandes mídia-empresas.
O que aconteça amanhã, dia 19/12, é crucialmente importante.
Seja qual for o veredicto, os EUA caminham na direção de grave crise, com consequências de longo alcance no plano constitucional.
[assina] Michel Chossudovsky, 18/12/2016
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Em artigo anterior intitulado [trad.] Crise no plano constitucional e golpe para impedir que Trump, presidente eleito, chegue à Casa Branca?, analisei o processo de confronto entre as facções Trump e Clinton que cerca a Votação no Grande Colégio Eleitoral dia 19/12.
Ao mesmo tempo em que a facção de Hillary Clinton apoiada pela propaganda distribuída pelas grandes mídia-empresas norte-americanas acusa Moscou de intervir nas eleições dos EUA a favor de Trump, a mesma facção também trabalha para mudar os votos do Colégio Eleitoral a favor de Clinton, com o objetivo de impedir que o presidente eleito Trump chegue à Casa Branca.
Se tal coisa acontecer, os EUA serão jogados numa crise política profunda. Não se pode esquecer que a ‘oposição’ à posse de Trump vem acompanhada de protestos de massa em todo o país, organizados pela facção Clinton.
“O que está em cena são rivalidades fundamentais dentro do establishment dos EUA marcado pelas disputas entre grupos empresariais rivais, cada um deles vitalmente necessitado de controlar a próxima Casa Branca.” (Ibid)
Rex Tillerson para a Secretaria de Estado
Depois de publicado meu artigo anterior, o presidente da ExxonMobil Rex Tillerson foi escolhido por Trump para ocupar a posição chave de Secretário de Estado dos EUA. Essa escolha sinaliza grande mudança na política externa dos EUA (incluindo um posicionamento abertamente anti-China, de Trump). Sinaliza também crescentes divisões dentro do establishment norte-americano. Não apenas Tillerson mantém ótimo relacionamento com o presidente Vladimir Putin, mas, além disso, a ExxonMobil tem enormes interesses comerciais na Federação Russa, incluídos projetos gigantes de perfuração de poços de petróleo no Ártico, Mar Negro e Sibéria, associado à Rosneft russa. Desnecessário dizer que esses projetos foram afetados pelas sanções econômicas que o governo Obama impôs contra a Rússia.
Em resposta a essa indicação controversa, a facção neoliberal/neoconservadora ligada ao “Partido da Guerra”, no qual se reúnem Democratas e Republicanos, ameaçou não aprovar no Congresso a nomeação de Tillerson.
Deve-se observar que Wall Street também está dividida. As instituições financeiras estão engalfinhadas numa guerra interna. Donald Trump anunciou dia 12/12 o nome para o Conselho Econômico Nacional da Casa Branca [ing. National Economic Council (NEC)]: o indicado é Gary Cohn, presidente e Chefe de Operações de Goldman Sachs. O diretor do NEC ocupa posição chave de aconselhamento no processo de formulação da política econômica do governo. Ironicamente, Cohn é Democrata e sabe-se que o banco Goldman Sachs apoiou a campanha de Hillary Clinton.
Agenda Militar Global
Não se trata aqui de “conflito de classes”. O que está em disputa são rivalidades, confrontos e divisões profundas dentro das estruturas da elite no que tenham a ver com a agenda militar global dos EUA.
Hillary é a candidata do Complexo Industrial-militar dos EUA, e a agenda furiosamente belicista dela para a política externa não interessa diretamente a grande parte das empresas norte-americanas, incluída aí a importantíssima fatia da indústria do petróleo.
Segundo Karen Kwiatkowski, tenente-coronel reformada da Força Aérea, “intervencionismo é business e tem seu eleitorado, e ela cisca nesse setor (…) Ela [Clinton] está a favor do complexo militar-industrial e dos neoconservadores.”
Clinton colheu generosas doações para a Fundação Clinton, recompensada pelos contratos multibilionários que ela aprovou a favor da indústria de armas enquanto foi Secretária de Estado de Obama. Inclui-se aí uma venda de $29 bilhões em armas para a Arábia Saudita, pela qual Clinton recebeu uma contribuição de $10 milhões depositada nos cofres da Fundação Clinton:
“O negócio de armas saudita envolvia dúzias de armas cuja venda foi aprovada pelo Departamento de Estado de Hillary Clinton que pôs armas em mãos de governos que também doaram dinheiro ao império filantrópico da família Clinton.
(…) Sob a liderança de Clinton, o Departamento de Estado aprovou vendas de armas no valor de $165 bilhões para 20 nações cujos governantes deram dinheiro à Fundação Clinton. Esse número – que corresponde aos três anos fiscais cheios do mandato da Clinton como secretária de Estado (de outubro 2010 a setembro 2012) – foi quase o dobro do total das vendas de armas norte-americanas feitas a países e aprovadas pelo Departamento de Estado durante o mesmo período do segundo mandato do presidente George W. Bush.
O Departamento de Estado da Clinton também autorizou $151 bilhões em acordos para vendas de armas negociados pelo Pentágono para 16 dos países que doaram fundos à Clinton Foundation, aumento de 143% no total de vendas completadas àquelas nações, ao longo do mesmo tempo durante o governo Bush.
Fornecedores norte-americanos da Defesa também doaram fundos à Clinton Foundation no período em que Hillary Clinton foi secretária de Estado e em alguns casos fizeram pagamentos diretamente a Bill Clinton por palestras. Essas empresas e suas subsidiárias estavam listadas como fornecedoras em $163 bilhões de contratos negociados pelo Pentágono e autorizados pelo Departamento de Estado da Clinton entre 2009 e 2012 (vide Business Times Investigation, 26/5/2005).
As apostas por trás desses contratos multibilionários para Boeing, Lockheed Martin, Northrop Grumman et al são altíssimas. A agenda militar de Hillary Clinton constitui uma bonança de multibilhões de dólares para a indústria de armamento que poderia, potencialmente, levar à 3ª Guerra Mundial. Segundo o New York Times, Clinton (se eleita, dependendo do resultado da Eleição no Colégio Eleitoral) “redobraria seus esforços para punir e castigar Moscou por crimes de guerra na Síria e agressão contra a Ucrânia e outros vizinhos” (negritos meus).
“Sem guerra, os negócios fracassam”:
Um governo Trump resultaria em Perdas Pesadas para os Fornecedores da Defesa?
No início dessa semana (12/12), as “Ações de Lockheed Martin caíram, com um tuíto em que o presidente eleito Donald Trump dizia que produzir jatos de combate F-35 é caro demais; e que ele cortaria “bilhões” nas compras dos militares” (CBC.ca, 12/12/2016).
De fato “Preços de todas as ações da Defesa sofreram com aquele tuíto”:
“com as ações da Lockheed Martin Corp. caindo 5% no pregão da manhã (…), ações de outros fornecedores da Defesa, incluindo a General Dynamics, que está produzindo submarinos militares, e Northrop Grumman, que produz sistemas de navegação (…) também se moveram para baixo” (Ibid).
Desnecessário dizer, a candidatura de Rex Tillerson não é a preferida dos fabricantes de armas. Segundo a mídia-empresa, Trump pode entrar em “confronto direto no Capitólio”, por causa da candidatura de Tillerson. Segundo John McCain citado pela CNN, “Os laços cordiais que ligam Tillerson e Putin, que o senador do Arizona considera inimigo dos EUA, são como uma bandeira vermelha” (12/12/2016, CNN).
A Votação no Colégio Eleitoral
Dia 12/12, dez Super Eleitores dos quais só um é Republicano distribuíram uma “carta aberta” dirigida ao Diretor da Inteligência Nacional James Clapper, redigida por Christine Pelosi, filha da Republicana Nancy Pelosi.
A carta aberta “que busca informação da inteligência dos EUA sobre possível interferência estrangeira na eleição” também foi assinada pelos quatro Super Eleitores Democratas em New Hampshire.
Podesta descreve a iniciativa como “bipartidária”, sugerindo que Trump estaria “dormindo com o inimigo”:
“Nossa campanha denunciou a interferência da Rússia em nossa campanha e seu objetivo evidente de nos ferir para ajudar Donald Trump (…). Apesar de nossas denúncias, o assunto não recebeu da mídia, durante a campanha, a atenção que merece. Agora sabemos que a CIA já determinou que a interferência da Rússia nas nossas eleições aconteceu com o objetivo de eleger Donald Trump. É informação que necessariamente preocupa todos os norte-americanos” (citado em Politico, 12/12/2016).
A inexistente ‘interferência’ de Moscou nas eleições dos EUA está sendo usada como ferramenta de propaganda para alterar os votos do Colégio Eleitoral, amanha, 19/12, a favor de Clinton.
Até o momento, esses esforços deram em nada. Mas há muito mais aí, além do que a vista alcança.
Ninguém deve descartar a possibilidade de uma surpresa dia 19/12.
Os dois lados representam interesses de empresas e empresários poderosos, e dos dois lados há gente trabalhando sem descanso. A opinião pública, mais uma vez, é cuidadosamente mantida bem longe de qualquer informação prestável.
A gangue Clinton fará de tudo para reverter os votos do Colégio Eleitoral.
As apostas são da ordem de muitos bilhões de dólares… As implicações políticas são potencialmente devastadoras.*****
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