Prêmio Nobel da Paz participou de ato do 1º de Maio em Porto Alegre e cobrou unidade da militância na luta contra a ruptura institucional
Naira Hofmeister, de Porto Alegre/Carta Maior
De Che Guevara a Jango Goulart, não faltaram referências históricas nos discursos do ato organizado pela CUT e CTB para celebrar o Dia do Trabalhador em Porto Alegre, que contou com a participação do Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel.
O argentino, militante dos direitos humanos e preso político durante a ditadura militar em seu país, convocou os movimentos sociais à resistência diante do “golpe brando” que considera estar em curso no Brasil.
“Não podemos nos ajoelhar nunca! Sempre em pé para defender a soberania dos nossos povos. Estou aqui como irmão latino-americano para dar a todos os brasileiros um abraço fraterno de força e esperança”, saudou os assistentes do ato no Parque da Redenção.
Assim como fez em Brasília, onde esteve na última quinta-feira (28 de abril), Pérez Esquivel comparou a situação política brasileira aos episódios que culminaram com a queda dos ex-presidentes do Paraguai Fernando Lugo, em 2012, e de Honduras, Manuel Zelaya, em 2009.
“Quando denuncio esse golpe, quero dizer que já houve no nosso continente experiências piloto, com Lugo e Zelaya. Agora se está utilizando a mesma metodologia no Brasil. Antes necessitavam exércitos, hoje basta levantar os meios de comunicação para plantar a desconfiança sobre os governantes progressistas”, condenou.
Na Capital Federal, o argentino conversou com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto e fez uma breve fala no plenário do Senado Federal. Em ambos os casos, ressaltou o caráter golpista que o pedido de impeachment de Dilma Rousseff carrega consigo. Em Porto Alegre, condenou a decisão dos senadores brasileiros de excluírem sua fala dos anais do Legislativo após protestos da oposição. “Falei apenas um minuto, mas essa fala deu a volta ao mundo. Porém apagaram minha participação, o que é censura. Quando isso ocorre, não há mais liberdade”, lamentou.
O ativista defendeu a necessidade de união dos movimentos sociais na defesa do mandato de Dilma Rousseff e da democracia. “O que fazer? Fundamentalmente precisamos da unidade do povo, de todos os setores sociais, acima das diferenças porque o mais importante é a defesa da democracia no Brasil”, clamou.
“A riqueza dos povos é a diversidade, é a consciência crítica, os valores. Que os brasileiros não percam seus direitos à liberdade cidadã”, completou.
Ao se despedir, o argentino fez uma referência ao Fórum Social Mundial, que nasceu em Porto Alegre, e citou seu conterrâneo Che Guevara, protagonista da revolução cubana em 1959. “Como dizemos no Fórum Social Mundial, é preciso somar o esforço de um povo ao de todos os outros e assim seguir, ‘hasta la victoria siempre’”.
Trabalhadores temem investidas de Temer contra direitos
Pérez Esquivel lembrou em sua fala que o vice-presidente Michel Temer já sinalizou com medidas privatizantes caso venha a assumir o comando do Governo Federal. Já as lideranças sindicais alertaram os trabalhadores neste 1º de Maio para retrocessos nos direitos conquistados caso haja a substituição da presidente Dilma Rousseff.
“Essa quadrilha conservadora liderada por Temer ,Eduardo Cunha e Aécio Neves tenta acabar com a virada iniciada em 2002 com a ajuda dos trabalhadores. Querem acabar com a democracia e com a CLT, nossa conquista que tem 73 anos e que pode ser rasgada caso esse golpe se concretize”, denunciou o presidente estadual da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Guiomar Vidor.
Já o líder da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo, lembrou três projetos de lei que estão na pauta do Congresso Nacional e atingem os trabalhadores: o que autoriza a terceirização sem limites do trabalho, outro que determina a prevalência do negociado sobre o legislado (em acordos e dissídios coletivos), e o que desvincula o reajuste dos aposentados do salário mínimo. “São os mais preocupantes”, esclareceu.
Representando a Intersindical, Carine Fernandes lembrou do PL 257/2016, que prevê o reequilíbrio fiscal dos estados, que “representa o desmonte do serviço público” porque apresenta medidas como o congelamento de salários e a redução dos investimentos.
Já o neto do ex-presidente João Goulart, Christopher Goulart, suplente do senador gaúcho Lasier Martins (PDT) – que já anunciou voto favorável ao impeachment de Dilma – recordou a tradição do trabalhismo e as conquistas durante os governos Vargas e Jango, como a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o aumento de 100% do salário mínimo concedido por Jango às vésperas do golpe militar de 1964.
“Não existe trabalhismo de direita”, alertou, antes de citar uma frase de Osvaldo Aranha, braço direito de Vargas na Revolução de 30: “Vamos à luta, a vitória ou a derrota chegarão. Mas só podemos nos envergonhar da capitulação”