Pedro Augusto Pinho*
Logo que surgiu a febre da produção de óleo e gás dos folhelhos existentes nos Estados Unidos da América (EUA), escrevemos mostrando que era solução inadequada, quer pelo próprio regime de produção, quer pelos custos financeiros e sociais. Mas não eram a racionalidade econômica, tão decantada pela literatura liberal, nem a possibilidade de lucro fácil que levavam os EUA a investirem, com forte e majoritária participação do Estado, nesta aventura energética.
Desde o Acordo de Achnacarry (localidade e castelo na Escócia), em 27 de agosto de 1928, o mundo industrializado – EUA, Reino Unido, França, Holanda – importador de petróleo, lançou-se com guerras, golpes e subornos à conquista de reservas pelo mundo. Assim, por meio século, o preço do petróleo cru manteve-se barato, no entorno, em moeda constante, de um dólar o barril (USD 1/bbl), mesmo enfrentando guerras e bombas atômicas.
A situação muda nos anos 1968, com as guerras árabes-israelenses, o fechamento do Canal de Suez e pela descoberta de petróleo no Mar do Norte, com custo de produção superior a USD 10/bbl, da época. Surgem as “crises do petróleo” que mudam definitivamente o patamar de preço e insere o mundo árabe e os capitais financeiros, não petroleiros, na formação do preço do petróleo.
Os EUA, maior consumidor do mundo, vê, com muita apreensão, a mudança de cenário e tem início a ofensiva, já em época de guerra híbrida, sucessora da guerra fria. Embora ambas, na feliz expressão do Tenente-Brigadeiro do Ar Alvani Adão da Silva, sejam transmissoras de uma espécie de “catarata mental”.
Uma das armas desta guerra foi a “descoberta” das fantásticas (!) reservas de “shale oil &gas” que libertariam os EUA da dependência estrangeira. Bastariam as guerras contra o Iraque, a destruição do Estado Nacional Líbio, as agressões à Síria e à Venezuela, para mostrar a falácia desta libertação.
Agora os EUA procuram se ressarcir dos custos da aventura dos folhelhos, com o dinheiro brasileiro, mergulhado numa administração neoliberal e entreguista.
Estas são a Notícia e o Comentário que apresentamos a seguir.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
A NOTÍCIA
BRASIL BUSCARÁ APOIO DOS ESTADOS UNIDOS PARA AVANÇAR NA EXPLORAÇÃO DE ÓLEO E GÁS NÃO CONVENCIONAIS
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br)
“Brasil vai buscar nos Estados Unidos uma inspiração para avançar na exploração de recursos não convencionais de óleo e gás. A informação foi revelada nesta segunda-feira (3) pelo Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que participa hoje do Primeiro Fórum de Energia Brasil-EUA, no Rio de Janeiro. Ao lado do secretário americano de energia, Dan Brouillette, Albuquerque comentou que o Brasil quer se beneficiar da exploração do shale.
“O que estamos fazendo é mostrar a nossa realidade associada à realidade americana e aquilo que poderia ser aproveitado do nosso marco regulatório. Um dos pontos que estamos procurando avançar, e nos ressentimos de não ter um marco regulatório que ampare esse tipo de investimento, é o shale gas”, afirmou o ministro, durante entrevista coletiva. Albuquerque seguiu dizendo que o Brasil que trabalhar neste tema com os Estados Unidos nesse sentido, mas sem detalhar como será a cooperação entre as duas nações. “Queremos nos beneficiar nesse tipo de produção de gás e de óleo associado a esse tipo de atividade não convencional”, completou.
O ministro explicou que a cooperação entre Brasil e EUA no setor de óleo e gás visa criar um melhor ambiente de negócios para o setor, seja ele no comércio internacional, na realização de leilões ou a fim de permitir segurança regulatória e jurídica para investidores.
Durante o fórum, os governos de Brasil e Estados Unidos estão discutindo uma agenda de cooperação conjunta não apenas em óleo e gás, mas também em energia nuclear e eletricidade/eficiência energética. No evento, conforme noticiamos mais cedo, foi assinado um Memorando de Entendimento que amplia a cooperação bilateral entre a Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) e o Instituto de Energia Nuclear (NEI, na sigla em inglês). Logo depois, também foi assinada uma Carta de Intenções entre a Eletronuclear e a Westinghouse, visando a extensão da vida útil de Angra 1.
“Estamos acostumados a trabalhar com planejamento. E planejamento tem que ter um acompanhamento. Isso que nos propusemos a fazer daqui pra frente. Teremos reuniões frequentes para que possamos realizar um acompanhamento em tudo que aquilo que poderá ser alcançado no setor de energia entre o Brasil e os Estados Unidos”, afirmou o ministro Albuquerque”.
O COMENTÁRIO
Por Luciano Seixas Chagas, geólogo
“O ministro Bento Alburqueque deveria ler, conhecer mais sobre os assuntos da sua pasta, para evitar desperdício do dinheiro público via as nossas empresas. Praticamente quem ganha com o gás de folhelho nos EUA são as companhias de serviços tipo Baker, Schlumbeger, e Halliburton, etc. A maioria dos projetos lá instalados têm fluxo de caixa negativo apesar das bacias intra cratônicas estadunidenses terem evolução térmica favorável para a geração de petróleo e serem absolutamente diferentes das bacias similares brasileiras, inclusive no porte.
Recomendo que o ministro assista o vídeo, no YouTube, do geólogo americano Scott Thinker do Bureau de Geologia do Texas, que ainda é atualíssimo e versa, de modo substantivo, sobre o assunto sob seus diversos aspectos, inclusive os econômicos, e mostra claramente que tais projetos (a maioria) são absolutamente inviáveis com petróleo na casa de US$60/boe.
É impressionante como os temas são abordados aqui com o conhecimento raso e absolutamente desprovidos de EVTE’s ou algo que os suportem.
A esperança dos operadores americanos era que os “Permian silts and fine sands”, mais facilmente fraturáveis, franjas sedimentares de antigos reservatórios produtores, apresentassem melhores resultados que os dos “sweets spots” dos folhelhos (shales). Infelizmente eles têm declínio de produção mais acentuados e os resultados econômicos deles são piores.
Assim, afirmo, as companhias de serviços, que dominam absolutamente de maneira técnica os serviços que prestam (fracking, microseismic, propants, logs, etc.), tentam vender para outros países tais serviços que são os seus “core business”, e somente os incautos ou alguns interessados em ganhar dinheiro com tais serviços ou mirabolantes consultorias, vendem ou tentam vende-los, principalmente para os que analisam de modo vago o assunto e tentam influenciar, positivamente, quem decide. O Brasil tem pessoal absolutamente qualificado para fazer tais análises e muitos deles estão na Petrobras ou disponíveis no mercado local como independentes ou em outras companhias, inclusive nas majors, já aqui instaladas.
Já vi, no Brasil, compararem os folhelho da Bacia do Recôncavo, com sweet spots da Bacia de, no máximo, 0,5 mil km2 de área, como os Eagle Ford, Barnet, Bakken, etc.,dos EUA, ou seja, confundem uma bacia inteira, rifte, de 13 mil km2 e 0,5 mil de “sweet spot” com acumulações maiores de bacia carbônicas de dimensões continentais, sendo que estas últimas encerram, às vezes, áreas superiores a 2 mil km2, cada, só de sweet spots. É um samba do crioulo doido no dito de Sérgio Porto, com mistura louca de alhos com bugalhos.
A pergunta que faço senhor ministro: Quem ganha com isso? Num Brasil que tem um exuberante pré-sal ambicionado por todos, com breakeven tendendo a US$ 25/boe, por que investir, intensivamente, aqui, nos folhelhos? Por que as majors, tipo Exxon, Shell, Equinor, etc, não investem tal ativo no Brasil como a Devon o fez nos EUA? Como está a Devon? Por que as majors nos EUA tentam se livrar de tais ativos?
A Chevron diz que vai investir intensamente lá nos EUA. Estou ansioso para ver os resultados ou quais serão tais investimentos propriamente ditos”.