Há precisos 55 anos, mais de meio século, a panela do mundo fervia e o Brasil se despedaçava por dentro. Aquele outubro nada primaveril desembocou no AI-5 de dezembro, quando os militares, no poder desde 1964, arrocharam pra valer a ditadura e o bicho pegou, feio
O 68 começou tenso em todo o planeta. Os jovens estudantes agitaram as estruturas, carcomidas. O movimento estudantil francês uniu-se aos trabalhadores e a França parou em maio, em greves, instigantes bandeiras e barricadas. Houve eco.
Na Tchecoslováquia a reformista Primavera de Praga contra o velho comando comunista soviético, movimento sufocado na porrada. Nos EUA, a luta contra o racismo e a desgraceira da Guerra do Vietnã. No México, o massacre de Tlatelolco, no começo de outubro, após a ocupação militar da UNAM; uma desgraceira, nunca contaram o número de mortos.
O ‘outubro’ violento brasileiro começou em março, com o assassinato do estudante secundarista Edson Luis, no restaurante universitário Calabouço. O episódio rendeu a célebre manifestação/Passeata dos Cem Mil, no Rio (dia 26 de junho), e incendiou o ambiente estudantil, universitário e secundarista, no país inteiro. Uma grande bandeira unia todos: ‘Abaixo a ditadura!’
Nos dias 2 e 3 de outubro de 1968 aconteceria a chamada Batalha da Maria Antônia, o conflito entre os esquerdistas alunos da USP e os direitistas alunos do Mackenzie, que transformou a rua, onde se localizavam os ‘campi’ universitários das duas instituições, em uma praça de guerra. Sangrenta de verdade. Teve muita pancadaria, vidros quebrados, paus e pedras, coquetéis molotov, ácidos, feridos, tiros de vera e um estudante secundarista baleado e morto: José Guimarães, de 26 anos, varado com uma bala calibre 45.
Daí, as manifestações se espalharam por outras ruas, até o centro de São Paulo, com veículos virados, incendiados e uma multidão de jovens quebrando e saqueando tudo pelas avenidas. Claro, a repressão militar pegou pesado. Muitos presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional.
Para que se possa entender como tudo começou, é preciso contar que a USP era de fato um polo da esquerda estudantil que pregava uma ampla reforma universitária e a derrubada dos militares no poder. No comando, a UNE, que tinha como presidente o líder Luis Travassos, e na frente das batalhas um certo José Dirceu de Oliveira e Silva, aquele mesmo (depois ministro todo-poderoso de Lula), à época estudante, militante de comando. FHC ensinava lá, os estudantes o curtiam como esquerdista, posicionava-se pelas reformas.
Do lado oposto, a ‘burguesia’ universitária do Mackensie, faculdade dos riquinhos, tida como de extrema direita pois tinha em suas fileiras até militantes do famigerado grupo CCC- o Comando de Caça aos Comunistas, benquistos pelos milicos do governo.
O estopim do conflito teria sido a cobrança de pedágios na rua, por parte do pessoal da USP, no intuito de conseguir dinheiro para bancar o Congresso da UNE, que aconteceria em Ibiuna, interior de São Paulo, semanas depois (as forças militares invadiram a fazenda em Ibiuna, onde os estudantes estavam reunidos, no dia 12 de outubro; mais de 800 presos).
O pessoal do Mackensie tentou impedir na tora a cobrança do pedágio, a pedradas. Houve reação, óbvio, e o couro comeu na rua. No começo da noite daquele dia 2 de outubro vidraças e janelas do prédio da Faculdade de Filosofia da USP restaram quebradas. Na tarde do dia seguinte a batalha recomeçou, já com uso de coquetéis molotov, porretes, ácidos e tiros de armas de fogo que partiam das janelas dos prédios da Mackensie. Um deles matou o secundarista. Aí a coisa tornou-se incontrolável.
Ou, pior: tudo terminaria controlado à força das armas pelos militares de plantão, a partir do AI-5 assinado pelo general presidente Costa e Silva nos meados de dezembro. Seguiram-se anos de trevas, com suspensão dos direitos civis e políticos, censura rigorosa, medo, perseguição dos ‘inimigos’, tortura e morte nos porões. Do ponto de vista político, os anos 70 foram de amargar.
*
Termino, como reflexão, citando o cineasta e pensador José Padilha, num artigo de outubro de 2018, pela efervescência das eleições que elegeram Bolsonaro. :
“… se a ética não sobrepujar a ideologia no curto prazo, o Brasil caminha para uma tragédia sem tamanho”
Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.