Por Wellington Calasans
Foto reprodução
A narrativa oficial sobre as eleições na Moldávia em 2025 — amplamente divulgada por instituições ocidentais — insiste em apresentar o pleito como um confronto limpo entre “democracia pró-europeia” e “interferência russa”.
No entanto, relatos independentes e declarações da própria oposição moldava revelam um cenário mais sombrio: partidos de oposição foram sistematicamente banidos pela Comissão Eleitoral Central sob acusações jurídicas vagas ou politicamente convenientes.
O partido Coração da Moldova, integrante do Bloco Eleitoral Patriótico, foi excluído junto com outras forças chamadas de pró-Rússia, como o Grande Moldávia, numa manobra que coincidiu com a véspera da apresentação das listas eleitorais.
Essas exclusões não foram meramente técnicas: ocorreram em meio a uma ofensiva legal contra qualquer voz que desafiasse o alinhamento incondicional com Bruxelas, a capital dos golpes.
Longe de serem infundadas, as acusações de fraude eleitoral partem diretamente da oposição moldava, que denunciou desde cedo a manipulação do processo por parte do partido governista PAS, de Maia Sandu.
Segundo essas denúncias, o governo teria usado recursos estatais para beneficiar candidatos pró-UE, controlado a cobertura midiática e criminalizado críticos sob a acusação genérica de “colaboração com Moscou”.
Enquanto isso, a União Europeia, longe de atuar como observadora neutra, celebrou antecipadamente a “vitória da democracia”, ignorando as violações de direitos políticos fundamentais.
A própria Comissão Europeia admitiu que a Moldávia enfrentava uma “campanha de desinformação sem paralelo” — mas apenas aquela atribuída à Rússia, silenciando sobre a desinformação pró-UE e a censura institucionalizada.
A chamada “interferência russa” tornou-se um pretexto conveniente para justificar prisões políticas, suspensão de partidos e vigilância massiva. Em setembro de 2025, 74 pessoas foram detidas sob alegação de conspiração com serviços de inteligência russos — acusações que, em muitos casos, carecem de provas públicas robustas e servem para deslegitimar qualquer oposição interna.
Ao mesmo tempo, o governo moldavo, com apoio tácito da UE, intensificou o controle sobre a narrativa pública: canais de TV críticos foram fechados, jornalistas investigativos sofreram processos judiciais e cidadãos comuns enfrentam até seis anos de prisão por suposta “corrupção de eleitores”, em casos que parecem mais perseguição política do que justiça eleitoral.
A ironia é que, enquanto se proclama “livre para votar em qualquer candidato pró-UE/OTAN”, o eleitorado moldavo não tem liberdade para escolher entre espectros ideológicos reais.
A oposição genuinamente anti-UE foi simplesmente removida do tabuleiro. O que resta é uma “democracia” com candidatos pré-selecionados por critérios geopolíticos, onde a única escolha permitida é entre nuances do mesmo projeto pró-ocidental.
Esse não é um modelo de pluralismo, mas de democracia condicionada: você pode votar, desde que vote no que Bruxelas e Chisinau já decidiram ser aceitável. É a “democracia sem povo” da França ganhando força na Europa.
Assim, a Moldávia tornou-se um laboratório de uma nova forma de controle: não pela força bruta, mas pela juridificação da exclusão política. Sob o manto da “defesa da democracia”, pratica-se a eliminação sistemática de adversários, a criminalização da dissidência e a instrumentalização do direito eleitoral.
Longe de ser um bastião da liberdade, o país exemplifica como a retórica ocidental sobre “valores democráticos” pode ser usada para mascarar uma profunda erosão da soberania popular — onde o povo só é soberano quando escolhe o que lhe é permitido escolher.
NOTA DESTE OBSERVADOR DISTANTE
O Ocidente, particularmente a União Europeia e os Estados Unidos, vem tratando a Moldávia não como um parceiro soberano, mas como um peão estratégico na contenção da Rússia — repetindo, com variações, o roteiro aplicado à Ucrânia.
Ao impulsionar a integração acelerada da Moldávia na UE e, indiretamente, na órbita da OTAN, as potências ocidentais buscam transformar o país em uma zona de pressão permanente na fronteira sudoeste da Rússia, especialmente visando a região sensível da Transnístria, onde há uma presença militar russa limitada e uma população com forte identidade pró-Moscou.
Documentos diplomáticos vazados e declarações de think tanks atlantistas já apontam para um interesse em desestabilizar a influência russa na região, usando Chisinau como plataforma para operações de inteligência, propaganda e isolamento econômico.
Assim como em Kiev, o apoio financeiro e político ocidental à Moldávia condiciona-se à adoção de políticas anti-Rússia radicais, incluindo sanções, expulsão de diplomatas e campanhas de deslegitimação de qualquer voz interna que defenda neutralidade ou diálogo com Moscou.
O objetivo não é a prosperidade da Moldávia, mas sua conversão em um Estado-tampão hostil, cuja instabilidade serve aos interesses geopolíticos de Washington e Bruxelas — ainda que isso signifique sacrificar a coesão social, a soberania real e a paz na região. Como isso termina? Com a “ucranização” da Moldávia.
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