O selo de Cuba no ballet, inevitável em sua cultura

No arraigo do ballet na cultura desta nação resultou determinante a decisão de três profissionais de apelido Alonso: Alicia, reconhecida mundialmente por sua qualidade de bailarina; Fernando, maestro de todos os talentos nativos; e Alberto, excepcional coreógrafo.

O trabalho deles não esteve isento do confronto a preconceitos sociais, agora superados em Cuba, mas que dentro da América Latina seguem freando o desenvolvimento da dança clássica.

Para adquirir uma base profissional, os Alonso viram-se obrigados a marchar aos Estados Unidos, onde conseguiram compartilhar com grandes maestros das diversas escolas da Europa, convertidos em emigrantes pelo avanço do nazismo e a II Guerra Mundial.

Na década seguinte, quando fixavam a metodologia da escola cubana de ballet, tomaram com respeito os aspectos técnicos que realçavam nas academias existentes e criaram um brilhante híbrido, com contribuições técnicas e interpretativas próprias.

Ao mesmo tempo notaram que certos caráteres emergiam espontaneamente, pois por natureza o cubano não é frio de caráter, nem rígido de movimentos, nem tão sério, pelo contrário, recorre à gesticulação em seu trato quotidiano, e desfruta de envolver outros, compartilhar.

Por isso não estranha que a escola cubana produza excelentes colegas de cena, ou partenaires, para os chamar de acordo com a linguagem técnica.

Os bailarinos cubanos têm uma grande sensualidade e, como dizia Arnold Haskell, acariciam a música em seus passos. As mulheres têm um grande swing que lhes sai natural e o homem é muito viril, muito macho, comentou a Prensa Latina uma vez o maestro Alonso, falecido em 2013.

Essas características outorgam um contraste muito belo a dança do homem e da mulher em conjunto, fazem um grande casal, acrescentou.

Outras qualidades distintivas são a postura crescente do bailarino, ou seja, o trabalho do corpo em uma perene sensação de crescimento, equilíbrios, numerosos giros, agilidade e altura nos saltos de femininos e masculinos, e frequente combinação de saltos com giros, entre várias.

Quando os primeiros frutos da escola cubana começaram a conquistar medalhas no prestigioso Concurso Internacional de Ballet de Varna, Bulgária, a inícios da década de 1960, a atenção dos críticos, mestres e assistentes voltaram-se a Cuba.

Alicia já não era um fenômeno isolado, igual começava a ser notório um uso peculiar da técnica clássica e a expressividade corporal no dance de Josefina Méndez, Mirta Plá, Loipa Araújo e Aurora Bosch, a quem o decano da crítica de ballet, o inglês Arnold Haskell, denominou as joias do ballet cubano.

Desde então os reconhecimentos à escola e a companhia Ballet Nacional de Cuba têm sido contínuos, o país conta com um volume importante de bailarinos cujo prestígio eleva o nome da nação sobre outras de maior desenvolvimento econômico.

No entanto, não está isenta dos efeitos da globalização, que ameaça apagar tradições nacionais e caráteres distintos, então, preservar o selo cubano no ballet depende, unicamente, da consciência de todos os praticantes e professores, pelo bem de sua identidade.