“A gritaria despertada pela decisão óbvia de refinar no Brasil o petróleo brasileiro revela que a guerra híbrida ainda não acabou”, escreve Leonardo Attuch
Bastou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, anunciarem a retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, para que todas as máscaras caíssem. A mídia corporativa brasileira, supostamente democrática e civilizada, cerrou fileiras contra uma decisão elementar tomada pela Petrobras e pelo governo Lula: a de refinar no Brasil o petróleo brasileiro. É uma medida correta por vários motivos. Não apenas porque a obra interrompida pela Lava Jato precisa ser finalizada, como também porque é muito mais eficiente processar derivados no Brasil do que importar de outros países, como Rússia e Estados Unidos. Além disso, estando presente no refino e também na distribuição, como se espera que ocorra em breve, a Petrobras terá melhores condições para praticar preços consistentes com uma estratégia de desenvolvimento nacional e de proteção aos consumidores brasileiros. Em outras palavras, uma estratégia de soberania energética, como definiu o ministro Paulo Pimenta.
A reação uníssona de veículos como Globo, Folha de S. Paulo, CNN e Estado de S. Paulo, assim como de seus colunistas amestrados, sugere que o governo Lula teria entrado em território proibido. Como tais veículos de comunicação são aparelhos ideológicos do imperialismo no Brasil, e que se prestam à defesa de interesses internacionais, e não do povo brasileiro, há uma mensagem clara sendo transmitida: o presidente Lula não pode ousar desenvolver o Brasil, rompendo com o modelo agro-financista que ganhou força no Brasil após o golpe de estado de 2016, interrompido com a volta de Lula ao poder, em 2022.
As forças golpistas, na certa, imaginavam que o presidente Lula, escaldado pelos 580 dias da prisão política de Curitiba, não sairia do script traçado. Faria um governo engessado pelas restrições impostas por um Congresso conservador e pelas medidas aprovadas durante o período Temer-Bolsonaro, como a autonomia do Banco Central e as mudanças no estatuto da Petrobras. Entretanto, com os bons resultados econômicos alcançados no primeiro ano de seu terceiro mandato, Lula conquistou legitimidade para avançar no processo de retomada de investimentos estratégicos e de uma estratégia de desenvolvimento nacional.
Num país normal, soberano e independente, as iniciativas do governo não apenas estariam sendo celebradas pela imprensa, mas também seriam debatidas em detalhes. Por exemplo, seria natural que a imprensa discutisse uma estratégia de industrialização do Nordeste a partir dos investimentos que estão sendo feitos em Pernambuco. Mas não é assim que a banda toca no Brasil. Num país ainda colonizado, a imprensa corporativa atua como uma força que sabota o desenvolvimento nacional. A propósito, nunca é demais enfatizar que o presidente Lula não foi preso porque deu na telha de um grupo de procuradores e de um ex-juiz suspeito colocá-lo na cadeia. Lula foi preso, com apoio de toda a mídia lesa-pátria, para que um projeto de desenvolvimento nacional fosse derrotado – ou, pelo menos, adiado.
Como Lula, aos 78 anos de idade, convenceu-se de que não tem mais nada a perder e que sua missão de vida é reconstruir tudo aquilo que foi destruído pelo consórcio formado por golpistas e lavajatistas, todo cuidado é pouco. Os editoriais da mídia corporativa deste fim de semana deixam claro que a guerra híbrida contra o Brasil não acabou e será necessário enfrentar, com vigor, todas as forças que se opõem à reconstrução nacional. É preciso informar e educar a população brasileira sobre o que está curso para que não sejamos surpreendidos por um novo golpe, que teria mais uma vez como cerne a questão do petróleo.
*Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.
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