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quarta-feira, 9 outubro, 2024

O que fazer pelo petróleo brasileiro

Foto: Reprodução/ Agência Brasil

 Pedro Augusto Pinho*

O mundo ocidental, desde meados do século passado, farsante e vendo que perdia o domínio das reservas de petróleo, apresenta os males dos combustíveis fósseis, como irresolúveis, e impõe suas substituições ao retrocesso energético do uso do Sol e do vento, como vivêssemos a alvorada do homem na Terra, há 50.000 anos.

Vejamos como se deu o consumo das fontes primárias de energia, de acordo com suas próprias estatísticas para 2022, divulgadas pelo Energy Institute, associado à KPMG, empresa de auditoria e consultoria empresarial, e à Kearney, empresa de consultoria de sustentabilidade.

O consumo mundial de energia foi equivalente a 97 milhões de barris equivalentes de petróleo por dia (bpd). Deste total, o petróleo, isto é, o óleo e o gás natural, que são produzidos dos mesmos tipos de reservatório, diferentemente das areias betuminosas que exigem procedimentos diferentes, representaram 55% do consumo mundial. O carvão mineral contribuiu com 27%, fazendo os combustíveis fósseis responsáveis por 82% da energia consumida no planeta.

Vê-se que é irresponsável a ação destas finanças que busca inibir o uso do petróleo apenas por não mais deterem o controle dos reservatórios.

Das mesmas fontes ocidentais, vejamos onde estão as maiores reservas de petróleo e de carvão mineral.

As maiores reservas de petróleo estão no Oriente Médio que já foi um quintal dos Estados Unidos da América (EUA), do Reino Unido e da França, mas atualmente, com os BRICS, ganharam suas autonomias e não mais se submetem aos interesses da geopolítica ocidental.

Por país, as maiores reservas de petróleo estão na Venezuela que explica as atrocidades que os EUA cometem contra seu povo, mas jamais as justificam. A África insurgente, principalmente nos países da Faixa do Sahel (5.400 km de extensão e 500 a 700 km de largura, ao sul do Deserto do Saara) vem se revelando petrolífera, o que só aguça a ira financeira ocidental.

A produção de carvão mineral em 2022, segundo a mesma fonte utilizada para os dados do petróleo, foi 8803,4 milhões de toneladas, extraídas, decrescimamente, da China (4.560 milhões), da Índia (910,9 milhões), da Indonésia (687,4 milhões), da Comunidade de Estados Independente (CIE) com 570,7 milhões de toneladas, das quais 439 milhões provenientes da Rússia, de 545,9 milhões de toda Europa, inclusive oriental, e 539,4 milhões dos EUA.

A dependência do urânio, como de muitos recursos minerais, pelo ocidente e o medo de se defrontar com novas potências nucleares, fez o mundo ocidental sabotar o uso da energia nuclear. Na Europa, houve decréscimo do consumo da energia nuclear de 2012 para 2022 em 30%, parcialmente compensado pelo acréscimo de 20% da CEI, ficando praticamente igual na década 2012-2022.

Verifiquem-se também as denominadas energias renováveis que na estatística do Energy Institute são apresentadas como: Eólica, Solar e Outras, sendo esta última a relativa à biomassa.

Vento e sol representam a quase totalidade desta energia primária renovável pois são aquelas que o Ocidente financeiro tem maior controle, quer das tecnologias, quer da fabricação, quer dos recursos para operação e manutenção. Porém a biomassa já produz cerca de dois milhões de petróleo equivalente por dia, comparados aos 55,5 milhões de bpd provenientes do óleo saído dos reservatórios de petróleo.

Diante deste panorama o que devemos fazer para a Petrobrás contribuir com seu trabalho para o progresso do Brasil.

Primeiro: fazer a Petrobrás voltar a ser uma Empresa Integrada de Petróleo.

Em 1992, para a Escola Superior de Guerra (ESG) foi elaborado o trabalho, acessível em https://bibliotecadigital.aepet.org.br/livros, com título “A Empresa Integrada de Petróleo” de onde retiramos as informações que seguem.

As empresas de petróleo têm uma singularidade que nos faz encontrar a mesma estrutura de organização seja ela estatal, privada ou de economia mista. E o trabalho exemplifica com as privadas, as estatais de países desenvolvidos e as de países em desenvolvimento e a Petrobrás como exitoso exemplo de empresa onde capitais estatais majoritários atuam com capitais privados, minoritários.

Esta estrutura faz com que o slogan do “poço ao posto” seja uma realidade. E por qual razão?

O risco da atividade petroleira está na fase da exploração, ou seja, na procura por reservatórios de onde se possa, economicamente, produzir petróleo. Para esta fase não há financiadores, é a própria empresa que deverá prover os recursos.

Num mercado oscilante e competitivo, os preços e as quantidades produzidas de produtos comercializáveis também variam. Atuando na produção de óleo e gás natural, na transformação desta matéria prima em derivados, e na comercialização do óleo cru e dos derivados, as empresas de petróleo conseguem reter recursos para prosseguirem na investigação exploratória, a primeira da longa cadeia que vai até os diversos produtos petroquímicos e fertilizantes nitrogenados.

Além das privatizações que retiraram da Petrobrás subsidiárias que auxiliavam a economia da empresa e a formação de seus gerentes no exterior, como a Braspetro e a Interbrás, promoveu o governo de Fernando Henrique Cardoso a reestruturação da Petrobrás que de empresa de petróleo se transformou em empresa de negócios. Certamente uma ordem dos verdadeiros dirigentes do Brasil, as finanças apátridas, para fatiar e vender por partes a Petrobrás, como efetivamente ocorreu. Venda de dutos e terminais, venda de campos de petróleo ou parte das reservas, quando não havia quem dispusesse da tecnologia da Petrobrás para operá-los, refinarias e até tecnologia como se fosse artigo de prateleira de supermercado.

Para tornar realidade esta proposta basta reestruturar a Petrobrás e criar Departamentos para a Comercialização, ações no Exterior e para circulação de produtos no Brasil.

As premissas de Hélio Beltrão para o primeiro Plano Básico de Organização da Petrobrás podem ser o caminho a seguir. O que alterou, e muito, foi a introdução da tecnologia digital, os modelos organizacionais apenas se adequaram às novas comunicações.

E nesta reestruturação incluir a atuação da Petrobrás na biomassa.

Segundo: Atuar na Biomassa como contribuição da Petrobrás para transição energética.

A Petrobrás está gastando mal, muito mal, ao investir na energia eólica em águas oceânicas. É o trabalho de um lobista que se tornou presidente da empresa. Pagar seus verdadeiros patrões. Nem do ponto de vista da transição energética, como se constata amplamente na Europa e nos EUA, nem na economia empresarial, a produção de energia eólica mostrou resultado compensador. Vê-se sua redução por toda parte, sendo o colonizado Brasil, pela ação governamental, não privada, o único que insiste neste desastre anunciado.

Há muitas queixas consistentes na energia fotovoltaica, principalmente por sua insegurança de fornecimento. Tanto nos mandam copiar o estrangeiro, e esta é a hora de ver a que chegaram os EUA e a Europa Ocidental nestas energias intermitentes e caríssimas.

Para o Brasil, de terras abundantes, com recursos hídricos e a possibilidade de produzir fertilizantes, o caminho da alternativa energética é a energia da biomassa, para o que a EMBRAPA e a Petrobrás deveriam fazer um acordo de cooperação.

O caminho da biomassa também permite ao governo ampliar sua ação social de gerar alimentos e empregos.

Terceiro: a questão tributária na energia

Não se trata de tratar a tributação para obter superávit primário, que ao fim e a cabo será canalizado para o sistema financeira, gerando ainda maior concentração de renda.

Neste conjunto da energia, o petróleo pode contribuir com os royalties para municípios produtores e estados produtores e com o adicional do acaso (serendipity) para as concessões do governo.

O que importa é excluir a energia de um sistema que engloba muitas diversidades e acaba onerando quem deve ser beneficiado, o consumidor dos produtos derivados do petróleo. O Brasil tem dos mais baixos indicadores de consumo de energia per capita do mundo.

Nada adianta ter o nono maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, se o consumo de energia per capita brasileiro, apenas na América do Sul, está em 4º lugar, muito próximo do 5º, o Uruguai, todos, exceto a Venezuela, países com muito menos recursos em petróleo e das outras fontes primárias de energia.

Temos que aumentar o consumo interno e o preço é o caminho mais rápido. A loucura do Preço de Paridade de Importação (PPI), imposta no governo Temer, ainda continua fazendo a cabeça dos dirigentes da energia no Brasil.

A Petrobrás pode e saberá, se estiver reestruturada como empresa integrada de petróleo, com dirigentes que tenham compromisso com o Brasil, e o governo fazendo valer sua maioria acionária, muito contribuir para melhorar a vida dos brasileiros.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

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