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quinta-feira, 25 abril, 2024

O país da intolerância

Israel Aparecido Gonçalves e Brigette Schröter*

A história do Brasil é marcada pela violência física e simbólica. O fator estruturante da violência no país está na escravidão que durou mais de 350 anos. Homens e mulheres negras conquistaram sua liberdade, mas isso não significou a sua emancipação social, econômica e política. Eles foram lançados à margem da sociedade, com acesso restrito à educação e ao emprego.  Foi no governo Lula da Silva (2003-2010) que políticas públicas iniciaram uma certa reparação histórica, com destaque para as Cotas Raciais atribuídas aos negros, para o seu acesso às universidades públicas. Na contramão da inclusão da diversidade cultural e étnica, o governo de Jair Bolsonaro desconversa e prefere fazer piadas sobre comunidade negra, ao mesmo tempo que autoriza o presidente da Fundação Palmares a desmontar as conquistas realizadas pelos movimentos negros.

Nesse contexto de intolerância, criou-se, explicitamente, um ambiente de hostilidade aos negros e negras do país. Os jornais diariamente relatam casos de homens, mulheres, jovens e crianças negras, mortos pela ação da Polícia e quase nada é feito para mudar a postura dessa instituição. Quando uma empresária de renome nacional, na busca de oportunizar melhores empregos, resolveu criar um curso de trainee somente para negros, sofreu pesadas críticas de uma elite branca. Assim como não foi à toa que, com o advento da Covid-19, a primeira vítima no Rio de Janeiro tenha sido uma mulher negra, que trabalhava como empregada doméstica e que contraiu a doença de seus patrões infectados, porque foi, praticamente, coagida por eles a retornar ao serviço.

Da morte noticiada de crianças negras nas favelas pela polícia, passou-se à violência explícita.  A morte, agora, é gravada por smartphones, como foi o caso de João Alberto Silveira Freitas, espancado até a morte, diante de sua esposa, por seguranças de um supermercado de Porto Alegre, na véspera da Consciência Negra. Em Joinville, Santa Catarina, uma vereadora eleita foi ameaçada de morte, nas redes sociais, por ser negra e de esquerda.

Após o assassinato de João, o vice-presidente do Brasil, o general Mourão, afirmou em entrevista, que não havia racismo no Brasil, mas desigualdade social. O discurso do vice-presidente legitima a ideia do governo e, porque não, de uma parte da sociedade, que acredita que a luta dos negros, seria por privilégio e não por reparação histórica.

Nesse contexto, de eterna negação do óbvio, é preciso ir além do debate sobre o racismo e ser, declaradamente, antirracista, ou seja, ser crítico a ponto de atuar politicamente contra essa inaceitável segregação social.

*Israel Aparecido Gonçalves é Cientista Político pela UFSCar e Brigette Schröter é mestre em Educação pela UDESC.

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