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quinta-feira, 3 outubro, 2024

O gigantesco cassino da economia mundial

Havana (Prensa Latina) O mundo enfrenta uma das piores crises econômicas da história e as mutações do sistema capitalista a agravaram, disse o chefe do Departamento de Comércio e Integração Internacional do CIEM, Faustino Cobarrubia.

Por Teyune Diaz Diaz*

Em entrevista à Prensa Latina, o também professor e pesquisador do Centro Mundial de Pesquisas Econômicas (CIEM) explicou que estamos imersos na maior crise do capitalismo desde 1929, conhecida como Grande Depressão.

Há mais de 40 anos, acrescentou, a economia mundial está em processo de transformação e três aspectos fundamentais se destacam: a globalização econômica; a política neoliberal aplicada ao longo dessas quatro décadas; e o processo de financeirização (predominância da esfera financeira sobre a economia real).

Cobarrubia destacou que a globalização, auxiliada pela política neoliberal de abertura e liberalização comercial, aproximou as economias, processos acompanhados, ainda, pela revolução nos meios de transporte e comunicação; e tudo isso como um todo reduziu o espaço geográfico.

No entanto, esta ligação permitiu a propagação de crises, eventos que antes eram transmitidos espaçadamente no tempo, agora se refletem instantaneamente em outros países porque “os mercados estão conectados em tempo real e ao mesmo tempo”, enfatizou.

A par deste processo, prosseguiu, ocorreu uma mudança em termos sectoriais, o sector financeiro, ao gerar mais lucro, passou a dominar a esfera dos bens e serviços.

O capitalismo funciona na base da obtenção de benefícios, observou, porque por um lado produz riqueza e, por outro, pobreza e esse crescente polo desfavorecido estrangula a demanda, pois cada vez há menos pessoas em condições de processar.

Então, para amortecer essa queda nos lucros, o capitalismo passou da esfera produtiva para a financeira e começou a especular com papéis, e nesse momento a economia mundial se tornou um gigantesco cassino, afirmou.

O CASINO, DE BOLHA EM BOLHA

“A hegemonia do capital financeiro causa com mais frequência bolhas financeiras, porque ao especular sobre o valor dos papéis não com base real, o valor desses papéis que você troca são baseados na crença do valor que esses papéis têm”, ele explicou. Cobarrubia em uma espécie de trava-língua

É aí que se formam as bolhas financeiras, balões que em algum momento explodem porque as coisas não têm preço real, mas artificial, e quando o valor diminui, todos perdem, os bancos param de emprestar e as pessoas param de consumir.

Outro elemento da financeirização é o capital de andorinha, que se instalou temporariamente nos bancos em busca de melhores taxas de juros, mas não para se instalar na esfera produtiva e, portanto, não pode ser utilizado para o desenvolvimento de nenhum projeto verdadeiramente estratégico. Isso propicia ou favorece o capital especulativo, por isso surgem tantas crises porque o país que recebeu esse dinheiro pode estar descapitalizado ou com problema cambial, explicou.

Sobre a crise financeira de 2007-2008, Cobarrubia afirmou que ela tem uma peculiaridade, não aconteceu em países periféricos, mas justamente no coração da economia mundial, os Estados Unidos. Do centro do sistema capitalista espalhou-se por todo o mundo e tornou-se a primeira grande crise desde 1975.

Conhecida como a famosa bolha imobiliária, disse ele, seu impacto atingiu principalmente os países desenvolvidos. No entanto, não se refletiu nas nações subdesenvolvidas como em outras ocasiões, o que provou o vazio da frase de que quando os Estados Unidos espirram, a América Latina pega gripe.

Por outro lado, a região continuou crescendo, inclusive alguns pesquisadores acreditam que a região latino-americana encontrou a fórmula para se isolar da nação do norte, refletiu o especialista.

Mas o milagre não estava aí, enfatizou, mas na China, que se tornou um importante comprador de matérias-primas. Dessa forma, o gigante asiático funcionou como um amortecedor, sendo um grande consumidor de “commodities” e evitando a contração de preços. Paradoxalmente, América Latina e África continuaram a crescer.

Na opinião do pesquisador, quando esta crise sistêmica -econômica e financeira- ocorreu no centro do capitalismo, está relacionada a uma perda relativa da hegemonia dos Estados Unidos à medida que surge um novo ator.

Só depois de 2010 começou a recuperação – a mais fraca desde a década de 1930 – embora muitas economias capitalistas ainda não tenham atingido os níveis anteriores à crise, há mesmo autores que relatam que estamos em presença de uma longa depressão, disse.

Como se não bastasse, juntaram-se a pandemia de Covid-19, o conflito ucraniano e a inflação persistente e todos contribuem para agravar a longa depressão global, e o pior é que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial já avisaram que aguarda o surgimento do fenômeno da estagflação, explicou.

Às portas da cúpula do Grupo 77 + China, marcada para 16 de setembro, em Cuba, aquela frase do líder da revolução cubana Fidel Castro com a qual começa o livro A crise econômica e social do mundo, “… o mundo hoje sofre uma das piores crises econômicas de sua história…”, acho que se aplica perfeitamente a este mundo de hoje, concluiu.

*Jornalista da Assessoria de Economia da Prensa Latina

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