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sexta-feira, 29 março, 2024

Equador: Nova cidade símbolo da pandemia, Guayaquil tem disparada de mortos em casa sem teste para coronavírus

Uma reportagem da alemã Deutsche Welle sobre o Equador

Da Redação Viomundo

O Equador tem 3.163 casos de coronavírus, com 120 mortos.
Para um país de apenas 16 milhões de habitantes, uma enormidade.
O porto de Guayaquil assumiu o posto de hot spot da América Latina, por causa do registro de um grande número de mortes em casa, de pessoas que ainda não foram testadas para o coronavírus.
A província de Guayas, onde fica Guayaquil, concentra o maior número de casos no país. Ela está sob o controle das Forças Armadas desde 23 de março.
Cidades com grande concentração de pessoas e relação com o Exterior se tornaram o ponto de entrada do coronavírus nas Américas: Nova York, Guayaquil e São Paulo são exemplos.
A disparada de casos em Nova Orleans, na Luisiana, está sendo atribuída aos festejos do Mardi Gras, o Carnaval local, que atrai grande número de turistas.
Em Guayaquil, houve colapso no resgate dos corpos daqueles que morreram fora dos hospitais, com cenas tétricas reproduzidas nas redes sociais.
O governo neoliberal de Lenín Moreno está sob suspeita de esconder os números verdadeiros da pandemia — mas pode ser apenas incompetência ou falta de organização estatal.
Diferentemente de Jair Bolsonaro, o presidente equatoriano suspendeu o trabalho até 12 de abril e as aulas até o final deste mês. O transporte de passageiros também foi suspenso.
Em rede nacional de TV, Moreno apelou: “Por favor, não minimizem a gravidade. Segundo os investigadores científicos, com toda segurança temos hoje dezenas de milhares de contágios e centenas de vidas perdidas para o vírus”.
Com a alta taxa de pobreza no país, as autoridades têm dificuldade em convencer as pessoas a ficarem em casa.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra várias pessoas denunciando corpos não retirados e gente caída nas ruas.
Parte do problema é causado não apenas pelo aumento do número de mortos, mas pelo medo de contágio.
Cadáveres em situação de emergência
Dimitri Barreto, no El Comercio
O homem esperou seis dias pelo corpo de seu filho.
No hospital, há cenas de dor.
Assim como nos bairros, onde pneus foram queimados nas ruas para que ambulâncias ou carroças possam pegar corpos que ficam dias em casas.
As mortes em Guayaquil no contexto da covid-19 tornaram-se uma dupla tragédia para famílias, autoridades e a sociedade como um todo.
O governo sustenta que, em circunstâncias normais, antes da pandemia de coronavírus, Guayaquil registrou 828 mortes em um mês; 46% em casa.
Mas na última semana de março, de 23 a 30, 308 cadáveres foram coletados em residências no principal porto do Equador.
E no final de março, havia outros 113, todos ainda para determinar a causa de morte.
E o plano para enfrentar as diferentes mortes em uma emergência sanitária?
O Manual do Comitê Internacional do Comitê da Cruz Vermelha sobre o gerenciamento de cadáveres em desastres pode ser um guia: a rápida recuperação dos corpos é uma “prioridade”, porque reduz a “carga psicológica de outros”.
Recuperação?
Sim, que o Estado assuma, com estas prioridades:
1. “Coordenação imediata” entre as autoridades locais, provinciais e nacionais.
2. Identificação de recursos.
3. Implementação.
4. Entrega de “informações precisas” às famílias e à comunidade sobre o manuseio dos corpos.
Coordenação entre governos local e central? Informações precisas? Famílias?
As instruções da OMS para lidar com cadáveres nesta conjuntura da covid-19 contemplam um critério essencial: “Aplique princípios de sensibilidade cultural”.
E acrescenta: “Se a família do paciente deseja ver o corpo após sua remoção da sala de isolamento ou área relacionada, isso pode ser permitido”, com proteção.
Seis dias atrás, o Ministério da Saúde publicou um protocolo para o tratamento de cadáveres no Equador.
Não define como abordar as famílias, mas define os procedimentos de saúde e envolve governos, o Distrito Metropolitano, as Forças Armadas…
Cavalheiros, mesmo em tempos de emergência, é preciso demonstrar humanidade.

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