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quarta-feira, 30 julho, 2025

Multinacionais anunciam saída da Argentina e acendem alerta: êxodo de empresas no mercado argentino?

Sputnik – Várias empresas multinacionais anunciaram que estão vendendo seus ativos na Argentina ou saindo diretamente do mercado. Especialistas ouvidos pela Sputnik destacaram que, embora o fenômeno não tenha começado com Javier Milei, o atual presidente não está conseguindo conter a “crise política” que alimenta a desconfiança.

A preocupação com um possível “êxodo” de empresas internacionais da Argentina ganhou força com o anúncios de empresas por trás de marcas reconhecidas como Mercedes-Benz, Clorox, Carrefour e Telefónica de que deixarão o mercado argentino.
Embora muitas dessas empresas estejam, na verdade, transferindo seus ativos para outros conglomerados que continuarão representando suas marcas, a ideia de que multinacionais considerem que o mercado argentino já não é tão atrativo gerou apreensão entre analistas e veículos especializados.
Nem mesmo o megacampo de Vaca Muerta — a grande aposta energética do país sul-americano — parece escapar: nos últimos meses, empresas como a francesa TotalEnergies anunciaram sua saída, assim como outros importantes atores do setor energético, como ExxonMobil, Enap Sipetrol e Petronas.

“Argentina é um país com uma presença fortíssima de capital externo. Segundo o próprio Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos), dois terços das 500 maiores empresas são estrangeiras. Agora, é verdade que há um fenômeno de retirada de empresas transnacionais da Argentina”, reconheceu o economista Julio Gambina em entrevista à Sputnik.

O acadêmico esclareceu, no entanto, que se trata de um processo “que não começou com o governo de Javier Milei” e que já vinha ocorrendo nas gestões de Alberto Fernández (2019–2023) e Mauricio Macri (2015–2019).
Também ouvida pela Sputnik, a economista-chefe da Epyca Consultores, Florencia Fiorentin, apontou que “é natural que empresas entrem e saiam”, e que “um indicador tão específico” como o número de companhias que deixaram o país no último ano pode não ser suficiente para tirar conclusões sobre o rumo da economia.
Ela acrescentou ainda que o número de empresas que deixaram o país durante a gestão de Milei ainda é menor do que o registrado nas administrações anteriores.
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O tipo de câmbio, com dólar relativamente “barato” para os argentinos, segundo ela, é um dos fatores que tornam a Argentina “menos atrativa” para as empresas focadas na exportação de seus produtos, que observam os salários se tornarem “consideravelmente mais caros em termos relativos”.

“Também há outros fatores conjunturais, como a queda no nível de atividade e no consumo, as constantes mudanças nas regras do jogo, a baixa disponibilidade de investimentos, a possibilidade recorrente de que os controles cambiais retornem, entre outros. Dependendo do setor, soma-se ainda a menor aposta em ciência, tecnologia e inovação”, enumerou a especialista.

Nesse contexto, ela considerou que, embora o modelo econômico de Milei “pareça ter um rumo claro que dá certa previsibilidade às empresas”, não consegue “criar um terreno fértil para o desenvolvimento e atração de investimentos”.

Uma crise política que não termina

Para Gambina, Milei não está conseguindo dissipar a “incerteza política” que persiste na Argentina, mesmo quando o líder libertário parece contar com um “consenso eleitoral” significativo.
O economista apontou que, apesar de promover uma agenda “muito favorável ao capital externo”, com importantes benefícios fiscais, “os sinais pró-mercado do governo de Milei ainda não geram confiança suficiente para investir na Argentina”.
Da mesma forma, o especialista citou como exemplo que a decisão do atual governo argentino de flexibilizar as restrições cambiais conhecidas como “cepo” não alcançou o objetivo de incentivar o investimento estrangeiro. Pelo contrário, favoreceu a retenção de divisas para poupança ou mesmo a saída de capitais do país.
“O problema é que há uma crise política na Argentina e, em função disso, muitos executivos de multinacionais estão se perguntando se [o país] vai reverter ou não essa situação”, afirmou Gambina.
Outro indicador disso, segundo Gambina, é que a Argentina continua com índice de Risco-País acima dos 700 pontos — um valor muito superior ao de países vizinhos. “Esse é um dado que revela a desconfiança dos mercados internacionais”, acrescentou.

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