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sábado, 15 novembro, 2025

‘Stalin’ de Domenico Losurdo: desmascarando a demonização e a propaganda anticomunista

Gabriela Rojas*

A obra explora o papel de Stalin na industrialização da URSS, na vitória contra o fascismo e na construção de um modelo alternativo ao capitalismo.

Stalin: História e Crítica de uma Lenda Negra, de Domenico Losurdo, é uma obra monumental que desafia as narrativas predominantes sobre Joseph Stalin, oferecendo uma análise rigorosa e exaustivamente documentada que desmascara a propaganda anticomunista que demonizou o líder soviético por décadas. Originalmente publicado em italiano e traduzido para vários idiomas, este livro se distingue por sua abordagem crítica e pela rejeição de simplificações históricas, convidando o leitor a reconsiderar os preconceitos impostos pela historiografia ocidental dominante.

O italiano Losurdo, filósofo marxista de formação, não busca idealizar Stalin ou negar os aspectos controversos de sua liderança, mas sim contextualizá-lo nas complexas circunstâncias históricas, políticas e sociais da União Soviética no século XX. O autor argumenta que a demonização de Stalin tem sido uma ferramenta fundamental na propaganda anticomunista, destinada a deslegitimar não apenas a figura, mas o projeto socialista como um todo. Para tanto, Losurdo desfaz os mitos construídos em torno de Stalin, como o do “tirano sanguinário” ou o do “maníaco genocida irracional”, e os contrasta com dados históricos verificados e comparações que revelam um quadro mais matizado.

Um dos aspectos mais brilhantes do livro é a análise de fontes. Losurdo examina como muitas das acusações contra Stalin decorrem de depoimentos exagerados, manipulados ou descaradamente fabricados durante a Guerra Fria, especialmente por autores como Robert Conquest, cujo trabalho foi financiado e promovido por interesses anticomunistas. Por exemplo, o autor questiona o número inflacionado de mortes atribuído aos expurgos ou ao Gulag, mostrando como essas estimativas frequentemente carecem de suporte documental sólido e foram revisadas para baixo por pesquisas mais recentes. Ao mesmo tempo, Losurdo não se esquiva de críticas legítimas: ele reconhece os erros, mas os situa no contexto de uma União Soviética sitiada por ameaças internas e externas, da contrarrevolução à agressão nazista.

Outro aspecto notável é a comparação que Losurdo faz entre Stalin e outros líderes históricos. Ele enfatiza que, embora a violência do colonialismo ocidental — como as fomes induzidas pelos britânicos na Índia ou os massacres na África e no Oriente Médio — seja frequentemente justificada ou minimizada, as ações de Stalin são apresentadas como excepcionalmente malévolas. Esse duplo padrão, segundo o autor, evidencia um viés ideológico que busca preservar a hegemonia capitalista diante do desafio do socialismo.

A obra também explora o papel de Stalin na industrialização acelerada da URSS, na vitória contra o fascismo na Segunda Guerra Mundial e na construção de um modelo alternativo ao capitalismo. Losurdo argumenta que essas conquistas, que transformaram um país atrasado em uma superpotência em apenas algumas décadas, são deliberadamente obscurecidas pela narrativa anticomunista para enfatizar apenas os aspectos negativos.

Stalin , de Domenico Losurdo , é leitura obrigatória para quem busca compreender a história do século XX além dos clichês e caricaturas. Com um estilo erudito, porém acessível, o livro não apenas desmascara a propaganda que transformou Stalin em um símbolo unidimensional do mal, como também convida à reflexão crítica sobre os mecanismos de poder, a luta de classes e a construção da memória histórica. Sem recorrer à apologética, Losurdo consegue humanizar e complexificar uma figura que definiu uma época.

www.nuevarevolucion.es

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*Jornalista

Texto completo en: https://www.lahaine.org/mundo.php/stalin-de-domenico-losurdo-desmontando

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