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domingo, 6 outubro, 2024

Massacre prova cumplicidade da Turquia e de Washington no terror contra a Síria

Por Finian Cunningham

Na manhã de 21 de março de 2014  a aldeia síria de Kessab foi atacada por uma força constituida de jihadistas islâmicos e do exército turco. Entre os irregulares encontravam-se brigadas das milícias pertencentes ao Exército Sírio Livre, FSA, os militantes mais apoiados pelos governos ocidentais envolvidos, assim como milícias pertecentes as tribos turkmanas e a Al-Nusra (organização terrorista ligada a Al-Qaeda) além do auto-proclamado Estado Islâmico. Todos trabalhando em conjunto para o resultante massacre. A evidência mostra ainda que e os governos de Ankara e Washington também estiveram envolvidos nas atrocidades.

O ataque foi feito na aurora, numa aldeia de 2.000 habitantes, dos quais a maioria constituia-se então de cristãos arménios. Tudo começou com um pesado fogo de artilharia do exército turco nas suas posições do outro lado da fronteira, na Província de Hatay na Turquia. Helicópteros do exército turco também foram usados para bombardear casas e fazendas em Kessab. Essa aldeia está localizada nas montanhosas regiões de Jebel Al-Aqra, com vista para o Mar Mediterrâneo, a poucos quilómetros da fronteira turca, na Província de Latakia, na Síria.

Após as primeiras salvas do exército turco a aldeia Kessab foi atacada então por milhares de militantes entrando através da fronteira em caminhões pick-up. Entre as forças de assalto encontravam-se cidadãos da Chechênia, Afeganistão, Tunísia, Marrocos, Arábia Saudita, assim também como britânicos e australianos, de acordo com os sobreviventes.

A maioria dos moradores de Kessab conseguiram fugir, em pânico, do avanço jihadista. Eles fugiram em carros e outros veículos para a zona sul da cidade de Latakia, que fica cerca de uma hora de distância de carro, e está sob controle do governo sírio.

O que se deu nos dias que se seguiram foi um massacre dos moradores que tinham ficado ilhados na aldeia. No total 88 dos moradores, principalmente idosos, foram abatidos. Treze das vítimas foram degoladas. Um jovem de 21 anos, Kevork Djurian, foi executado na frente de seus pais. Os assassinos riam da angústia de seu pai, Papken. Os jihadistas se recusaram a deixar o pai enterrar seu filho, dizendo que ele era “um armênio de cão”.

Kessab foi ocupada pelos jihadistas por quase três meses até que o exército do governo eleito e constitucional da Síria tirou os militantes de lá retomando a aldeia , em meados de junho de 2014. Hoje Kessab ainda permanece sob controle do governo sírio.

Duas testemunhas dessa carnifícina contaram, em separado a esse autor, a respeito do assalto e suas consequências. Uma dessas pessoas sendo uma cidadã americana vivendo na Síria há mais de 20 anos. Ela é médica de profissão e tem seu domicílio em Kessab. Na manhã da abertura do assalto, ela estava em Latakia, onde ela atendeu então aos sobreviventes que fugiram para o santuário da principal igreja armênia de Latakia. Além de atender as pessoas traumatizadas, alguns dos quais seus vizinhos e amigos, ela cuidadosamente foi anotando as narrativas de como o ataque inicial tinha se desdobrado. Quando o exército sírio, mais tarde, retomou Kessab em junho, a médica americana voltou para a aldeia e testemunhou a devastação que os jihadistas haviam infligido a moradias, edifícios públicos e igrejas.

Uma outra testemunha foi um atual pacifista e ativista irlandês, o Dr. Declan Hayes. Ele também conseguiu chegar a Kessab nos dias seguintes a recaptura da mesma pelo exército sírio. Hayes entrevistou sobreviventes e documentou as cenas de saques e destruição feitas pelas milícias anti-governamentais, das quais as pessoas fugiram.

“Eu entrevistei o homem cujo filho foi morto em frente de seus olhos”, diz Hayes. “Os jihadistas deixaram o corpo do rapaz ensangrentado no chão por três dias na frente de sua casa, para atormentar aos pais”.

Sem exceções foi dito pelos moradores que o ataque tinha começado com o fogo de artilharia e que depois tinha procedido com os ataques de helicópteros vindos do território turco. A fronteira é fortemente militarizada com posições do exército turco por todo lado na parte turca da fronteira. Não há dúvidas de que esse ataque foi lançado com o direto envolvimento do governo turco em Âncara, disse Hayes.

Kessab está nas mesmas localidades montanhosas onde um F-16 fighter jet turco [ou seriam vários fighter jets turcos revisando-se?] na semana passada abateu um Su-24 bombardeiro russo que esteve abatendo grupos jihadistas. O avião russo caiu em território sírio e um de seus pilotos foi assassinado por militantes turkmenos enquanto seu paraquedas trazia-o para o solo. Turcomenos  são cidadãos sírios etnicamente relacionadas com os turcos do outro lado da fronteira.

A médica sírio-americana denominada acima (cujo nome não mencionei a pedido dela) disse que turkmenos desempenharam um papel importante no abate de Kessab. “Eles conhecem todas as estradas, trilhas, e caminhos dentro e fora de Kessab. Foram eles que levaram os atacantes para a aldeia”.

Igrejas e um centro cultural da aldeia foram atacados. Os atacantes iam de casa em casa matando moradores aterrorizados e depois saqueavam tudo o que não tinha sido destruido ou até mesmo coisas já meio destruidas. Dinheiro, jóias, relógios, televisores, geladeiras, portas, janelas, móveis e equipamentos agrícolas foram sistematicamente saqueados e levados para caminhões para serem vendidos do lado turco da fronteira.

Para adicionar a lista dos crimes, um grupo de cerca de 30 idosos de Kessab foram sequestrados por saqueadores e levados para a cidade turca de Vakifli, cerca de 20 quilómetros da fronteira. Eles ficaram detidos pelos militantes armados durante várias semanas antes de serem levados pelas autoridades turcas para Trípoli, no Líbano. A partir dali, as pessoas foram capazes de fazer o seu caminho de volta para o santuário de Latakia. A tortuosa rota tinha sido provavelmente escolhida pelo regime turco para esconder seu envolvimento no crime.

Durante seu sequestro, o grupo foi visitado por uma delegação oficial americana a qual incluía o então embaixador dos EUA para a Turquia, Francis Ricciardone. Ricciardone, apresentou-se através de um intérprete.

O petrificado povo de Kessab pediu ao oficial norte-americano que intervisse para a sua libertação. Mas ele os deixou ao seu destino. O que ele queria saber, através dos seus interrogatórios, era se alguém lá vindo de Kessab seria cidadão norte-americano.

Como a médica norte-americana me disse:- “Tem vários cidadãos como eu que moram em Kessab. Há uma grande comunidade da diáspora de arménios sírios nos Estados Unidos e muitos deles têm casas na Síria. Parece que o embaixador americano estava preocupado que qualquer um desses cidadãos estivesse entre os sobreviventes de Kessab. Isso daria uma má repercussão para o governo americano caso os acontecimentos fossem desvendados e virassem caso de notícias”.

 

 

 

Como observado, depois do embaixador dos EUA ter estabelecido que não havia nenhum cidadão americano sobrevivente do assalto em Kessab ele deixou as outras pessoas à sua sorte no cativeiro, na Turquia.

O que o encontro mostra é que Washington tinha plena consciência do que se passava em Kessab. De que outra forma teria o diplomata dos EUA aparecido lá para questionar os moradores sequestrados?

Nos dias que se seguiram ao ataque Samantha Power, a embaixatriz dos EUA para as Nações Unidas, emitiu uma perfunctória declaração sobre a “preocupação” de Washington com a violência. EntretantoWashington não especificava quem eram os culpados assim como não apresentava qualquer censura ao governo turco de Recep Tayyip Erdogan, que era o primeiro-ministro na época. Agora ele é o presidente.

Subsequentes declarações da funcionária do Departamento de Estado Victoria Nuland afirmava que o governo turco não tinha qualquer envolvimento com o ataque em Kessab. No entanto o governo da Rússia assim como o da Síria e da Armênia condenaram, em termos explícitos, esse massacre.

O governo turco afirmou que não teve nenhum papel no ataque. Em um comunicado oficial o governo Erdogan, disse:- “As alegações de alguns círculos de que a Turquia estaria a fornecer apoio para as forças da oposição, seja através do uso do nosso território, ou através de qualquer outra forma durante esse conflito – o qual se intensificou recentemente na região de Latakia/Kessab- são totalmente infundadas e inverídicas”.

Entretanto os testemunhos citados nesse artigo mostram que as autoridades turcas estiveram diretamente envolvidas no assalto militar e na orquestração dos militantes jihadistas. O desmentir do governo de Âncara recusando sua responsabilidade no massacre de Kessab é mentira descarada.

Em 1 de abril de 2014, 12 dias após o assalto ter começado Ahmed Jarba, o líder do pelo ocidente apoiado Conselho Nacional Sírio (SNC na sigla inglesa) chegou a aldeia Kessab. O SNC é a ala política (no exílio) do Exército Sírio Livre. Jarba é um protegido do regime saudita. Ele foi a Kessab para inspecionar a ocupação e felicitar os militantes na sua bem sucedida violação e entrada de ponta no território de Latakia, controlada pelo governo constitucional. A violação do território na costa do Mediterrâneo foi considerada como uma vitória significativa para os militantes. No mês seguinte, em maio, Jarba foi recebido na Casa Branca pelo Presidente Barack Obama onde ele também foi cumprimentado pela conselheira de Segurança Nacional de Obama, Susan Rice.

O “estupro de Kessab”, como o Dr. Declan Hayes o denominou, foi conduzido pelos combatentes pertencentes ao Exército Livre da Síria, FSA na sigla inglesa, (os tais mais apoiados pelos poderes do ocidente) conjuntamente com as brigadas jihadistas de tribos turkumenas e da Al-Nusra (a qual é ligada a Al Qaeda) assim como com as do Estado Islâmico.

O que aconteceu em Kessab serve como um microcosmo do que tem acontecido na Síria durante os últimos quatro anos e meio (4,5 anos). A aldeia de Kessab é principalmente habitada por arménios cristãos mas lá também encontram-se muitas das seitas religiosas que residem na Síria, incluindo-se aqui então os xiitas e os sunitas. As comunidades agrícolas  tinham convivido pacificamente há séculos. Elas nunca foram perseguidas pelo governo sírio do Presidente Assad. A última perseguição do período histórico foi já há um século atrás, em 1915, de quando o império Otomano turco realizou o genocídio armênio, de quando 1,5 milhão de armênios foram mortos. Tragicamente tem-se então aqui que muitos dos sobreviventes do massacre de Kessab são descendentes desse primeiro genocídio.

Na manhã do dia 21 de março do ano passado a comunidade de Kessab foi submetida a uma orgia barbárica realizada por jihadistas apoiados por poderes ocidentais, pela Turquia e pela Arábia Saudita. Todo o conjunto de idéias inventadas pelos governos ocidentais, e seus principais meios de comunicação, de que os governos ocidentais envolvidos estariam apoiando ” rebeldes seculares e moderados ” na Síria, os quais por sua vez estariam lutando contra um regime sectário e despótico, é exposto mais uma vez como uma farsa hedionda. A carnificina de Kessab mostra claramente [para quem quer ver] como são as coisas na Síria.

De particular importância é o papel criminoso desempenhado pelo governo turco de Recep Tayyip Erdogan, o qual mostra-se tanto na orquestração da carnificina em Kessab, como também muito claramente ao longo de todo o conflito sírio.

Erdogan negou categoricamente durante toda essa semana as declarações feitas por Vladimir Putin, Presidente da República Federativa Russa, de que Âncara é um cúmplice no fomento do conflito na Síria. Isso sendo através de apoiar terroristas agindo numa escala industrial envolvendo o contrabando de petróleo e armas. Erdogan chegou a dizer que ele renunciaria se fosse provado que seu regime tinha sido um cúmplice nas alegações apresentadas. Sua arrogante confiança parece ser consequência da brutal supressão de seu regime quanto as publicações da mídia turca. Essa supressão impede que se publiquem artigos ou documentação que possibilite verificações de que o serviços secretos da Turquia realmente estão em controle dos caminhões carregados de armas indo da Turquia para a Síria, e de petróleo indo da Síria para a Turquia.

Anteriormente, para absolver o estado turco de acusações de conivência com os terroristas, Erdogan afirmava que as armas estavam sendo enviados para ajudar os “irmãos” turkmenos a se defender do exército sírio constitucional, ou seja, do governo estabelecido. A seguir o brutal assassinato do piloto russo por jihadistas turkmenos na semana passada, Erdogan esta semana mudou de tom e afirmou que as armas indo para a Síria estavam sendo enviadas para o “Exército Sírio Livre”.

Entretanto, como o Kessab massacre demonstra, os chamados “moderados” desse denominado exército livre, FSA na sigla inglesa, fazem parte integrante e indistinguível do exército constituido pelas brigadas terroristas, que Âncara e seu aliado Washington, apoiam com o intento de poder derrubar o governo eleito e constitucional do Presidente Assad. Qualquer declarada diferença [entre o dia e a luz] é claramente apenas uma invenção fictíva da imaginação, acompanhada depois pela propaganda.

Obama enquanto em Paris na cimeira das alterações climáticas nessa semana reiterou seus pedidos a Rússia para que mantivesse o foco de sua campanha militar no Estado Islâmico, e que não concentrasse seus ataques aéreos nos “rebeldes moderados “.

O presidente americano e seu aliado turco não estão realmente em posição de ensinar a ninguém a respeito de “terroristas” e “moderados”. Tanto os denominados como “moderados” como os denominados “terroristas” fazem parte das mesmas gangues, quadrilhas e esquadrões de criminosos, nos quais Obama e Erdogan deveriam ser incluidos.

Tags: Al Qaeda Armênia ISIS Oriente-Médio Síria Turquia

Tradução Anna Malm / Yandex –

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