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quinta-feira, 26 dezembro, 2024

Mais Médicos

Emiliano José

O programa Mais Médicos foi uma iniciativa do governo da presidenta Dilma Rousseff que atentou, sobretudo, para a carência de cuidados com a população pobre do Brasil, de modo particular com aquelas parcelas de áreas periféricas das grandes cidades, dos sertões, das profundezas das florestas, populações indígenas, confins do Brasil. Tão correto em seus objetivos que sequer as turbulências políticas recentes, a vitória de uma proposta de corte claramente neoliberal-autoritário, foram capazes de tentar suprimi-lo, ao menos até agora.

O autoritarismo, no entanto, fez-se sentir com as tentativas de desqualificação dos trabalhadores de saúde de Cuba, a indicar que o novo governo iria atentar contra aqueles profissionais para atacar um País nesse artificial esforço de criar um clima de Guerra Fria em contexto inteiramente diverso do tempo em que ela imperou, até o início dos 90. Coragem e altivez nunca faltaram a Cuba. Por isso, antes que seus trabalhadores fossem mandados embora, e em defesa da dignidade deles, levou-os de volta.

A presença dos médicos cubanos no Brasil jamais será esquecida. São trabalhadores da saúde educados como missionários. Não nos enganamos com as palavras. Eles se referem assim ao seu trabalho, seja em Cuba, seja quando levados à atuação em outras partes do mundo, como profissionais remunerados ou em missões humanitárias. Agem assim no desempenho de suas tarefas. São, além de competentes, naturalmente atenciosos, cuidadosos com seus pacientes, olhados sempre em seu contexto pessoal, familiar, em sua relação com a vizinhança em que vivem.

Quando não havia mais profissionais brasileiros dispostos a preencherem vagas em áreas geográficas distantes, regiões urbanas consideradas perigosas, populações indígenas, eles, num convênio tripartite, envolvendo governo brasileiro, Organização Panamericana da Saúde e governo cubano, foram chamados, milhares prontamente atenderam, voluntariamente. Centenas de municípios, regiões inteiras, trabalhadores puderam ver um médico, uma médica pela primeira vez – que os tocavam, apalpavam, ouviam atenciosamente, cuidavam. Pude até pessoalmente testemunhar isso por toda a Bahia, muitos morando em povoados distantes, só saindo de seu posto quando o último paciente era atendido.

Esse ensinamento eles nos legaram. Sei que há médicos e médicas brasileiras com espírito voltado a servir e que certamente ocuparão as vagas deixadas pelos cubanos. Tenho certeza disso. Independentemente disso, aquele cuidado, aquela atenção, aquele carinho, aquele espírito missionário dos cubanos, das cubanas estará para sempre no coração do povo brasileiro, dos mais pobres, do povo do Nordeste, da Amazônia, das profundezas das grandes cidades, dos indígenas. Voltam a Cuba para integrar-se ao seu País ou para se jogarem em outras missões mundo afora.

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