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segunda-feira, 7 outubro, 2024

MAGO MERLIN E O MUNDO DO BITCOIN

“Uma das razões que explicam a obsessão dos discos  voadores é o anseio humano de libertar-se da prisão terrestre” (Fausto Cunha, Contatos de Diversos Graus e Nem Sempre Imediatos, 1981)
Pedro Augusto Pinho*

As fabulações sempre acompanharam o gênero humano. Mas a inquietação intelectual, o conhecimento científico e as tecnologias desenvolvidas por estes humanos transformaram os medos e desejos fantasiosos em ridículas aventuras, no mais das vezes desventuras.

Vivemos a fábula da globalização, do antinacional, do virtual e, pairando sobre todos e tudo, como o deus criador, o financismo.

E quem melhor do que o bitcoin para, qual desejada Excalibur ou temível dragão das florestas medievais, representar esta era? E, como na canção de Albano Marques e Batalhão de Estranhos, “um dia ainda vamos rir de tudo isso”.

O economista Ranulfo Vidigal, no Monitor Mercantil (O que esperar de 2018, em 27/12/2017), resume a recente trajetória de importante indicador econômico: “a renda per capita caiu 12% na recessão dos anos 80, motivada pela crise no Balanço de Pagamentos, caiu também 8,3% na recessão dos anos 90, motivada por nova crise externa. E retrocedeu 8,7% pela crise política, pelo conflito distributivo e pela queda dos lucros entre 2015/2017, apesar do céu de brigadeiro na cena externa”.

E assinala o economista, “estamos diante de uma revolução tecnológica” que não altera apenas as condições de trabalho e de produção, mas modifica – e isto é mais grave e profundo – a percepção social dos próprios limites e conquistas individuais e coletivas.

Se os desejos e ameaçadores monstros medievais poderiam ser alcançados e vencidos pelos feitiços de Merlin, agora a sociedade põe cega confiança no virtual, quer dos censurados e direcionados conhecimentos dos googles e dos relacionamentos dos facebooks quer nos enriquecimentos sem bens dos bitcoins.

O que significa moeda virtual, além da não existência no mundo real?

O bitcoin surgiu, provavelmente, pelas mãos de pequeno grupo de pesquisadores e tecnólogos da informação, que se denominaram Satoshi Nakamoto, entre 2008 e 2010, quando foi efetuada a primeira transação. De lá para cá várias outras moedas virtuais – sem lastro, sem entidades responsáveis, nem mesmo identificados emitentes – foram surgindo, alguma com direcionados objetivos. Entre elas: ripple, litecoin, mastercoin, lebowski, dogecoin, ether etc.

É curioso que, na Era do Conhecimento, dos apelos às ciências, à razão, o ser humano ainda se encante com alquimistas, feiticeiros, charlatães de toda ordem, até exorcizando “demônios” dos fiéis.

A Folha de S. Paulo (Ilustríssima, 24/12/2017) publicou artigo de Dag Herbjornsrud sobre o precursor do iluminismo – Zera Yacob, etíope que escreveu, em 1667, “Hatäta” (Investigação). Neste livro, pregando ideais humanistas, a defesa da igualdade de gênero, Yacob propugnou por ordem mais racional, fora das crenças e doutrinas religiosas.

Três séculos e meio se passaram e ainda não vivenciamos a igualdade de gênero, de raças, ainda buscamos escravizar homens e mulheres, inclusive com apelos míticos e místicos.

Neste País de fraudes, mentiras presidenciais, de “golpes constitucionais” (sic), de leis que vão sendo construídas para absolvições ou punições políticas, e que se espalham, pouco a pouco, e atingem, em todos os campos, a sociedade inteira, provocando a mais completa insegurança: física, econômica, social, pública e privada, o bitcoin se apresenta como valor simbólico.

Sem existência física, os bitcoins são o exemplo do capital apátrida, da especulação financeira, do descaso pelas leis, do desprezo pela ordem, da fuga aos tributos, mas com um dono que se enriquece na apropriação dos bens de todos outros.

Que o prezado leitor não se iluda, mesmo tendo batido panela contra seu emprego ou seu negócio, o virtual financeiro lhe impedirá de viver na sociedade da lei, da ordem e da maior segurança e justiça social. Ao entrar no mundo da fantasia, da especulação será um contribuinte, monetário e moral, para que os ricos fiquem mais ricos e todos demais mais pobres, em especial os que já vivem na pobreza.

Mas, como sempre, no afã de enganá-lo, de deturpar os fatos e as razões, de confundir verdades com mentiras, estarão todos os veículos da grande imprensa, da mídia oligopolista, global, iurdista e coligadas de diversas ordens. Meu prezado sempre encontrará a mão e a palavra para conduzi-lo à dívida, ao engodo, à miséria.

Os novos mosteiros não o afastarão dos espíritos malignos, ao contrário, eles o colocarão no caminho dos pagadores de dízimos de toda natureza, dos contribuintes para maior desigualdade social e econômica, do triunfante e ditatorial  império neoliberal.

É tempo de acordar. Malgrado toda força ilusionista ainda temos um País, uma moeda e um povo, crédulo mas trabalhador e honesto, diferente de sua elite. Tratemos de reagir para obter bens e produzir riqueza para os brasileiros, reconquistar a democracia, a justiça social e um judiciário sem partido.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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