CÉSAR FONSECA
Já na próxima semana, caso vença eleições no primeiro turno, neste domingo, o mundo deverá estar voltando suas atenções para o Brasil, para Lula, para a vitória social-democrata, na América do Sul, o continente que dispõe de todas as riquezas materiais, potenciais, das quais o capitalismo mundial, em crise de realização de lucro, devido à sobreacumulação de capital, especialmente, ocidental, depende para não ser ultrapassado, velozmente, pela China.
O velho continente europeu, por exemplo, atualmente, subordinado aos Estados Unidos, que, igualmente, encontra-se em recessão e inflação, caminhando para estagflação, mostra-se, completamente, prostrado diante do perigo da dependência dos insumos básicos – que estão na América do Sul – para tocar sua industrialização de ponta, na vanguarda da tecnologia mundial, junto com os Estados Unidos.
Será ou não a hora da diplomacia brasileira saber negociar as vantagens comparativas que dispõem para criar nova correlação de forças no mundo à beira de guerra atômica?
Os europeus, que, diante da redução das atividades econômicas, por falta de energia(petróleo, gás, fertilizantes, minerais estratégicos etc), temem pelo desaparecimento de parte da sua população, candidata a perecer no inverno, se continuar obedecendo aos Estados Unidos na tarefa de sancionar a Rússia, que possui o petróleo, o gás, sem a qual não sobrevivem, bem como bombas atômicas, que a tornam, praticamente, invencível.
DEBACLE CAPITALISTA
Potências econômicas extraordinárias, como a Alemanha, líder industrial europeia, enfrentam inflação superior a 10%, recorde nos últimos 40 anos, cujas empresas de vanguarda tecnológica se veem na iminência de sucateamento; que fazer, senão serem transplantadas para outros lugares, onde encontrarão os insumos substitutos que lhe abastecem os russos?
Essa força econômica capitalista se disporia ou não a se deslocar para onde sua sobrevivência seja garantida, em país, como o Brasil, cuja vocação é a paz?
O mesmo ocorre em países que, ao longo do pós-guerra, desenvolveram-se, tecnologicamente, alcançando status de excelência industrial, como França, Inglaterra, Itália, Holanda, Espanha, Portugal etc, todos ameaçados pela escassez de matérias primas, das quais sempre se abastecerem da oferta abundante na América do Sul, da África, Ásia etc; a inflação e a recessão ameaçam essas economias outrora pujantes, porém, submissas aos americanos, que as proíbem de relacionar-se comercialmente com a Rússia, no correr da guerra na Ucrânia que trava contra a Otan, em defesa do seu território.
Consequentemente, em decorrência desse futuro sombrio para os europeus, crescem expectativas políticas pessimistas que fazem avançar politicamente o fascismo neoliberal; é o que acaba de acontecer na Itália, jogando por terra a social-democracia, afogada pelas poderosas corporações financeiras promotoras do neoliberalismo oligopolista, cujo interesse prioritário e fundamental é dar cabo do Estado social democrata; eis o retrato pronto e acabado traçado por Lênin em “O imperialismo, fase superior do capitalismo”, em abril de 1917.
AURORA SOCIAL-DEMOCRATA BRASILEIRA
Opostamente, no Brasil, nos últimos quatro anos, o neoliberalismo, que constrói o espectro tenebroso traçado por Lenin, antecipou-se, relativamente, à Europa e aos Estados Unidos, na tarefa de tentar acabar com o Estado nacional, sufocado pelas corporações financeiras, que o dominam, amplamente, por meio da dívida pública especulativa, responsável pela estagnação econômica.
A experiência brasileira, exemplo para o mundo ocidental, revela-se, como resultado do golpe neoliberal de 2016, fracasso econômico, político e social, em dois governos, no de Michel Temer(2016-2018) e no de Jair Bolsonaro(2019-2022); ambos jogaram a social democracia no chão, esvaziando, economicamente, o Estado nacional, e colhendo, em contrapartida, desemprego, fome, miséria, desigualdade, exclusão social, desindustrialização, destruição dos direitos sociais e econômicos trabalhistas, colapso no poder de compra dos salários, subconsumismo, queda sistemática dos investimentos, do PIB, e, enfim, deflação, segundo Keynes, o erro eterno, que o ignorante neoliberal Bolsonaro considera vantagem.
A previsível vitória de Lula, no próximo domingo, cantada em prosa e verso por todas as pesquisas de opinião, revela o vigor da social-democracia, no Brasil, quando, na crise capitalista mundial, na Europa e nos Estados Unidos, especialmente, avança o maior inimigo da democracia, o nazifascismo, cuja face tupiniquim é Bolsonaro, coveiro do desenvolvimento brasileiro.
CONVOCAÇÃO IMEDIATA DA ONU PARA A PAZ
Eis porque a vitória de Lula é, ansiosamente, aguardada pelos democratas, prostrados diante do fascismo, que tem por fim essencial destruir trabalhadores, de modo a colocar no trono do Estado social-democrata sucateado o capital especulativo corporativo, incompatível com o regime democrático.
Portando, Lula, vitorioso, ergue-se, no cenário mundial, como novo líder global; pode servir de farol para a humanidade atormentada pela guerra na Ucrânia, onde se enfrentam potências bélicas, que, simultaneamente, revelam-se impotentes, visto que a disponibilidade de armas atômicas por elas revela-se menos força do que fraqueza, mais problema que solução, como pretensa arma de dissuasão; afinal, lançar mão delas, em qualquer circunstância, é decretar o fim trágico da raça humana no planeta terra.
Dessa forma, a tarefa imediata de Lula, já na próxima segunda feira, saído vitorioso das urnas, será, com a autoridade conferida pela democracia brasileira, vitoriosa sobre o fascismo – ao contrário do que ocorreu na Itália – convocar a ONU para pôr fim ao conflito que ameaça a humanidade, e, claro, tocar programa de desenvolvimento econômico com justa distribuição da renda para o Brasil sair do atoleiro nazifascista.