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sexta-feira, 26 julho, 2024

Lampião, o mito o ‘Rei do Cangaço’

Capitão Lampião, o pernambucano Virgulino Ferreira da Silva – Wikimedia Commons

– Num tem coisa mais vergonhosa e triste prum cabra macho como foi ele,

   ter de morrer assim, sem dar um tiro, matado a traição por um bando

   de fi duma égua, duns cabra safado filho do cabrunco.

   Teve muita gente que chorou por ele –

Assim falou o véi do sertão do Carira.

Zédejesusbarreto

  No dia 28 de julho, ano de 1938, numa invernosa manhã,

o cabra macho Virgulino ‘Lampião’ morreu tocaiado,

impiedosamente fuzilado e metralhado na toca de Angicos,

um esconderijo de uma saída só, no sertão brabo e bonito de Sergipe,

beirando o ‘grande rio’, o São Francisco.

  Estava uns dias entocado e se sentindo seguro ali, com Maria Bonita e seu grupo mais chegado, uns 30 cabras. Esperava por Corisco e bando, pra um proseio sobre a labuta. Quando, no primeiro clareio, mal tinha acordado, mal levantado com aquela boca amarga, espreguiçando-se ainda… e da tropa dos sordecos, dos macacos que faziam o cerco desde a madrugada escura pipocaram de uma vez balas chegavam de tudo que é canto, derrubando um por um. Lampião e Maria Bonita, na porta da tenda, foram logo atingidos, sem direito a um ai. Uma carnificina. Uns poucos, mais ladinos e acesos ainda conseguiram escapar, aos lanhos.

  Os soldados, além de rapinar tudo que encontraram pela frente, cortaram a cabeça de Lampião e Maria Bonita, exibindo-as pelas cidades como prova e troféu

*

  . Mas …

   Como Lampião, um cabra tão prevenido, dotado de extraordinária intuição e percepção do perigo foi se descuidar daquele jeito ? Ah, não ter percebido a trama da traição, ser apanhado com as calças na mão …

  Ouvi de muito sertanejo a versão de que o ‘Capitão’ afrouxara, depois do convívio e dos dengos de Maria Bonita. Pode ser, tem mulher que amacia, afrouxa homem, bem sabemos. Mas a verdade é que o Capitão Virgulino andava cansado de tanta correria desde menino, a tocaiar e ser tocaiado, fugindo e perseguido, dando troco, baleando e baleado, cuidando e liderando, de tal sorte que trazia marcas brutais de combates pelo corpo inteiro, envelhecido precocemente (tinha pouco mais de 40 anos quando morreu), mal alimentado e mal abrigado quase sempre. Já meio desiludido daquela desgraceira de vida. Quando morreu, Lampião já era um velho doentio e cansado.

  Não foi nenhum Robin Wood, menos ainda um líder camponês… também não era a encarnação do mal, do satanás. Lampião era intuição e esperteza pura, inteligência, liderança. Sabia agradar, quando queria, e era cruel, impiedoso e sanguinário quando achava que devia. Cortava gargantas e rezava o terço e o ofício de Nossa Senhora.

Era vaidoso, sedutor e exímio estrategista.

   Sim, um mito.

   Um ‘herói’ de um sertão brabo, violento, de uma época onde se matava e morria

feito bicho, aos urubus. Matava-se por ódio, ciúmes, vingança, pedaço de terra, capricho, valentia pura, dinheiro, encomenda, cachaça ou simplesmente pra ver o ‘freguês’ se estrebuchar lá adiante. De bala, facão, punhal, tanto fazia.

   Depois, era só fazer um ‘pelo sinal’, rezar um ‘pai-nosso’ e pouco ou nada ficava

de arrependimentos. Misericórdia… só a divina.

   Lampião acreditava muito no deus do Padim Pade Ciço, em Nossa Senhora…

mas Lampião também tinha parte com o demônio.

Tanto que está vivo, até hoje.

 Imortal.

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